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Ramires vira lição a Abel, e Palmeiras faz trabalho psicológico com grupo

Bruno Andrade, Danilo Lavieri e Thiago Ferri

Do UOL, em Lisboa e em São Paulo

18/03/2021 04h00

O pedido de Ramires para deixar o Palmeiras marcou Abel Ferreira. Para o técnico, o volante acabou não resistindo às críticas que recebeu e comprovou a necessidade de se fazer um trabalho para que seus atletas sofressem menos com a opinião externa. Desde o fim do ano passado, o clube deu mais ênfase à preparação psicológica e avançará nesta área em 2021.

A psicóloga Gisele Silva foi promovida ainda no fim de 2020 da base ao elenco profissional e faz parte do Núcleo de Saúde e Performance (NSP). Agora, o Verdão quer aplicar ideais de mental coach ao elenco, justamente para preparar os jogadores além da parte física, técnica e tática. Isto para que os atletas resistam ao ambiente de pressão, além de gerar, também, uma mentalidade competitiva e concentração ainda maior em jogos.

"Vamos evoluir para um coach mental, com a psicologia, trabalhando individualmente com os atletas, tendo interação do Núcleo de Saúde e Performance e análise de desempenho. A psicologia tem participação integral nas reuniões pré-treino. Isto faz parte da comissão do Abel e o Cícero Souza [gerente de futebol] também pensa em estabelecer novos processos na parte mental e emocional. É um treinamento mental, de forma mais efetiva", contou o coordenador científico Daniel Gonçalves, ao UOL Esporte.

Abel diz que a situação que viveu com Ramires foi nova em sua carreira. Admirador da carreira do jogador de 33 anos, o técnico via no meio-campista uma figura querida pelo grupo, mas que preferiu abrir mão de uma quantia de cerca de R$ 30 milhões para encerrar o contrato válido até junho de 2023.

"O Ramires foi o que eu chamo da atualidade. Atualmente, as redes sociais exercem uma pressão muito forte com o que tem a ver com a nossa profissão, de todos os expostos nas redes sociais. Se não perceber como funcionam as redes, quem está do lado de lá, tem o direito de xingar, torcer, mas eu tenho direito de só deixar afetar o que eu quero. Muitas vezes, os jogadores não têm essa capacidade, até porque a geração de hoje nasceu com o celular embaixo do braço. Acaba o jogo e vão ver o que dizem sobre eles, começam a ler os comentários. Se você der atenção a isso nos momentos menos bons vai destruir se não for forte mentalmente", explicou Abel Ferreira, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

O coordenador científico Daniel Gonçalves e o técnico Abel Ferreira, durante treino do Palmeiras - Cesar Greco - Cesar Greco
O coordenador científico Daniel Gonçalves e o técnico Abel Ferreira, durante treino do Palmeiras
Imagem: Cesar Greco

"O Cristiano Ronaldo é xingado e elogiado. Quando o xingam, faz três gols. É combustível. Mas há jogadores que não sabem lidar. Não tem a capacidade mental para perceber que isso faz parte. Deixem dizer. Ramires foi uma experiência nova. Um jogador que jogou no Benfica, Chelsea, seleção brasileira, teve uma série de clubes, mas os torcedores do Palmeiras foram tão críticos com um homem que eu admirei, porque seria muito fácil para ele ficar ali até o final do contrato, arranjar uma lesão no tornozelo, sem jogar, sem ser criticado. O grupo gostava dele. Tentei fazer tudo para que ele não saísse, saiu e saiu como homem", acrescentou.

Ramires ainda jogou além do desejado, por pedido do próprio Abel, já que o Palmeiras vivia momento complicado por desfalques pela Covid-19. Depois de atuar e ser elogiado na vitória sobre o Delfín (EQU), por 3 a 1, em novembro, o ex-camisa 18 então chegou a um acordo para rescindir o vínculo.

"Ele abriu mão de uma fortuna. Saiu e eu aceitei a vontade dele. No último jogo dele, eu fiz de tudo para ele ficar, ele falou que não queria, que ia sair, que não dava mais. Pode chamar o que quiserem, menos alguém que quis mal ao Palmeiras. É preciso treinar bem [o mental], criar a prevenção de lesão [na mente]. Isto que aconteceu com o Ramires foi algo novo, me ajudou a ver a mídia de outra maneira. Tenho que criar aqui alguma coisa, porque os jogadores têm que aprender a lidar com isso, treinar esse adversário, têm que perceber que é importante, mas é normal. Tem de lidar de forma equilibrada. Para se competir em alto nível, precisa de uma estrutura mental muito forte. O futuro é por aqui [na cabeça], na mentalidade competitiva. O sistema tático, treinos, já estão todos inventados. A mentalidade competitiva faz a diferença", encerrou.

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