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Fred será apresentado em vídeo; em 2009, chegada ao Flu teve tumulto e gafe

Satisfeito, sorri: Fred volta às Laranjeiras; relembre apresentação confusa no Fluminense em 2009 - Lucas Merçon / Fluminense F.C.
Satisfeito, sorri: Fred volta às Laranjeiras; relembre apresentação confusa no Fluminense em 2009 Imagem: Lucas Merçon / Fluminense F.C.

Caio Blois

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

27/06/2020 04h00

Ídolo do Fluminense, Fred será o primeiro jogador da história do clube a ser apresentado à imprensa em uma chamada de vídeo. A FluTV transmitirá hoje (27), às 11h15, a entrevista coletiva do camisa 9 ao vivo com a participação dos repórteres, que, 11 anos atrás, em sua chegada, encararam tumulto no Salão Nobre das Laranjeiras e ouviram muitas gafes do então presidente Roberto Horcades.


Fred e Fluminense têm uma relação amorosa que remete aos romances cinematográficos. A começar pelo primeiro encontro desajeitado. O camisa 9 chegou da França e encontrou no Brasil uma casa bagunçada, como se estivesse nervosa por conhecer o que se tornaria o grande nome de uma vencedora geração.

Em 5 de março de 2009 entrou para a história do clube também pelas confusões geradas por Horcades, que chamou o jogador de "Fábio" e lhe "deu" um título de Copa do Mundo que o atacante jamais conquistou.

A coletiva em Álvaro Chaves tinha um protocolo que não poderia ter sido mais ignorado: a ideia era que membros da diretoria — e da patrocinadora como Celso Barros, atual vice-geral — recepcionassem e apresentassem o novo craque da equipe à imprensa.

Depois, Fred iria ao gramado das Laranjeiras, onde receberia o carinho da torcida que acompanhava em número bem acima do normal para a apresentação de um jogador ainda sem relação com o clube.

Empolgada com a presença dos torcedores, a diretoria abriu os portões do salão nobre, fazendo tricolores e jornalistas dividirem o mesmo espaço sem nenhuma organização, algo que havia acontecido apenas na chegada de Romário ao clube, em 2002.

"Eu e Celso Barros [presidente da Unimed, patrocinadora do clube] liberamos o acesso da torcida ao salão nobre. A pressão estava muito grande e se eles não fossem autorizados a entrar iam gerar uma grande confusão e poderiam quebrar o clube", justificou Horcades à época.

Fred e Celso Barros em sua apresentação no Fluminense, no gramado das Laranjeiras, em 2009 - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Fred e Celso Barros em sua apresentação no Fluminense, no gramado das Laranjeiras, em 2009
Imagem: Reprodução/Twitter

Apesar da confusão no Flu, o "relacionamento" começava com elogios de Fred.

"Estou sentido aquele frio na barriga. Todos me receberam muito bem e já me sinto em casa. A camisa tricolor combinou comigo e não vejo a hora de marcar muitos gols pelo Fluminense e conquistar títulos. Só quero agradecer essa recepção maravilhosa. Nunca vivi uma coisa tão gostosa e prazerosa. Cheguei a me arrepiar. É bom demais e fico muito mexido em viver esse calor novamente. Isso me faz feliz", se derreteu o atacante.

A partir daí, a história do camisa 9 pelo Fluminense é mais do que conhecida. Dez dias depois, estreou fazendo dois gols sobre o Macaé, no Maracanã, no Campeonato Carioca daquele ano.

Viriam lesões e 172 gols desde o início, a arrancada de 2009, os títulos brasileiros de 2010 e 2012 — ano que também faturou o Estadual — e a Primeira Liga de 2016. Ao total, 288 jogos em que o torcedor viu seu ídolo em campo.

Fred com a taça do Brasileirão de 2012, o segundo que venceu pelo Fluminense - Buda Mendes/LatinContent via Getty Images - Buda Mendes/LatinContent via Getty Images
Fred com a taça do Brasileirão de 2012, o segundo que venceu pelo Fluminense
Imagem: Buda Mendes/LatinContent via Getty Images

O até breve, em 2016, foi como um término de relacionamento, com direito a muito choro do jogador e dos torcedores. Depois, veio o sorriso amarelo dos dois lados e aquela sensação esquisita nos reencontros.

"Não queria ser um peso para o Flu. Hoje posso ainda não ser, mas as circunstâncias levam a isso. Questões financeiras, algumas outras coisas. Tivemos várias conversas e senti que a melhor alternativa seria uma saída minha. No meu coração é o clube que mais representa para mim. Se fosse uma decisão só minha, eu ficaria. Quero sair da melhor forma possível. Eu falei que meu sonho era encerrar a carreira aqui", disse, na coletiva de despedida, ao lado do então presidente Peter Siemsen.

Fred chora em sua coletiva de despedida do Fluminense, em 2016 - Mailson Santana/Fluminense FC - Mailson Santana/Fluminense FC
Fred chora em sua coletiva de despedida do Fluminense, em 2016
Imagem: Mailson Santana/Fluminense FC

Até que os dois lados, mais amadurecidos, deixaram outras questões de lado para reatar o casamento. Não sem loucuras, como ir de Minas Gerais ao Rio de Janeiro de bicicleta — ainda mais em meio à pandemia de coronavírus.

"Vai ser como sempre foi, emocionante, especial para mim e o coração vai estar a mil. Minha felicidade é muito grande, uma sensação de voltar para casa. Só de pensar já fico emocionado. Estou ansioso. O Fluminense tem algo diferente, a nossa torcida tem algo diferente. Não sei se é só comigo, mas eles me mexem de maneira especial e acabam tirando coisas melhores do atleta, do ser humano" destacou Fred ao site oficial do clube em sua apresentação.

Como quem não vê a hora de reencontrar um amor antigo e continuar aquela conversa que não terminou, Fred retorna aos 36 anos, três a mais do que deixou o clube, com o sorriso estampado nas fotos e vídeos compartilhadas desde a sua chegada. Ao ver o ídolo com a camisa do Flu mais uma vez, o torcedor, satisfeito, sorri.


Em vez de ouvir seu nome gritado nas arquibancadas, o camisa 9 terá que se contentar com as palavras de jogadores e comissão técnica. No máximo a narração de um gol para ficar na memória afetiva, situação estranha, como seria se o Fred e Fluminense não se apaixonassem.

Isso porque o jogo contra o Volta Redonda, no domingo, às 19h, será com portões fechados no Estádio Nilton Santos -- do qual ainda é vice-artilheiro, com 39 gols, dois a menos que Loco Abreu --, pela mesma competição que o ídolo afirmou, em 2015, que "tinha que acabar".


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