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Fala de vice do Flamengo repercute mal e advogados contestam 'oportunidade'

Torcedores do Flamengo fazem homenagem às vítimas do incêndio no Ninho do Urubu - Alexandre Vidal / Flamengo
Torcedores do Flamengo fazem homenagem às vítimas do incêndio no Ninho do Urubu Imagem: Alexandre Vidal / Flamengo

Alexandre Araújo e Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

30/04/2020 04h00

A recente declaração de Rodrigo Dunshee, vice-presidente geral e jurídico do Flamengo, sobre "oportunidades perdidas" pelas famílias das vítimas do incêndio no Ninho do Urubu que ainda não chegaram a um acordo com o clube, não teve uma boa repercussão e os advogados dos familiares indicam que não foram procurados.

O incêndio completou um ano em dia 8 de fevereiro. Até o momento, o Rubro-Negro fechou quatro acordos em 11 negociações. Dos casos finalizados, há o aperto de mão com as famílias de Athila Paixão, de Gedson Santos, o Gedinho, de Vitor Isaias e com o pai de Rykelmo.

Com a mãe de Rykelmo, que acionou a Justiça, e com os familiares de Arthur Vinícius, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Jorge Eduardo, Pablo Henrique e Samuel Thomas ainda não houve resolução. As defesas não estão sendo conduzidas de forma coletiva.

O UOL Esporte procurou os advogados das famílias que ainda não alcançaram um denominador comum com o Fla e questionou sobre contatos recentes do clube, mas ouviu respostas negativas.

Rodrigo Dunshee, vice-presidente do Flamengo, Jaime Correia, vice de Administração, e o CEO Reinaldo Belotti na CPI que investiga incêndio no Ninho - Leo Burlá / UOL Esporte - Leo Burlá / UOL Esporte
Imagem: Leo Burlá / UOL Esporte

"Acho que, a partir do momento que algumas famílias fecham acordo e outras não, essa suposta perda de oportunidade é mútua. O Flamengo também perde a oportunidade de fechar o acordo com todas as famílias. Mas a gente segue tratando, sem nenhum tipo de animosidade, sem apressar as coisas, esperando a melhor forma e maneira mais breve possível. Talvez, a palavra oportunidade não tenha sido empregada da forma que pretendia", comentou Thiago Divanenko, que representa os familiares de Bernardo Pisetta e Vitor Isaías, que completou:

"Para as famílias, essa crítica interna não faz sentido e as versões não têm interesse. Quem vai dizer efetivamente o que aconteceu e quem são os culpados é o Ministério Público, a Justiça e a polícia. Esse choque de versões não acrescenta em nada".

Já Arley Carvalho, que representa a família de Christian Esmério, ressaltou que houve um ensaio de aproximação por parte do clube após a CPI que investiga o incêndio no Ninho, mas não foi à frente.

"Depois de muito tempo, o Flamengo fez contato conosco através da sessão lá na Assembleia Legislativa [do Rio de Janeiro], na CPI do incêndio. Desde então, eles falaram que retomariam o contato conosco... Estava presente o Rodrigo Dunshee, vice-presidente do Flamengo, o advogado [Bernardo] Accioly, enfim... Desde então, nenhum contato foi feito, nada foi falado. Como temos acompanhado na imprensa, a administração passada e a atual, de certa maneira, admitem a culpa uma da outra, mas contato conosco não houve nenhum. Ficamos aguardando, veio a pandemia, mas estamos no aguardo", indicou.

Em entrevista à FlaTV na última segunda-feira (27), Rodrigo Dunshee, vice-presidente Geral e Jurídico, disse acreditar "que as famílias que não fizeram o acordo estão perdendo uma oportunidade".

"Queremos resolver a questão financeira, mas entendemos que o valor que demos para três famílias e meia não pode ser menor que as demais. Chegamos em um valor aceito. O valor base precisa ser igual na outra família. Não seria justo com a família que fez o acordo, que acreditou no Flamengo em primeiro lugar. Acho que as famílias que não fizeram o acordo estão perdendo uma oportunidade. O Flamengo não quer terceirizar o dano. O Flamengo sabe da responsabilidade dele. Milhões de oportunidades estão sendo perdidas. Já poderíamos ter feito um jogo para as famílias, mas temos dificuldades. As famílias estão chateadas com a gente, pois não chegamos a um valor que julgam correto. Há famílias que estão mais próximas, outras muito distantes. Ainda acho que, com essas famílias que estamos mais próximos, chegaremos a um entendimento."

Processo pode expulsar Bandeira

O incêndio do Ninho do Urubu voltou à tona após o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello afirmar que, caso ele ainda estivesse na administração do Rubro-Negro, a tragédia não teria acontecido, indicando que os jovens não estariam mais utilizando os dormitórios atingidos pelo fogo.

A fala gerou revolta internamente. A diretoria emitiu uma nota oficial e, posteriormente, Marcos Braz, vice de Futebol, e Dunshee, atacaram o ex-mandatário.

No último domingo (26), o grupo "Vanguarda Rubro-Negra" protocolou um documento no Conselho de Administração que pode, inclusive, gerar a expulsão de Bandeira do quadro social do clube.

Na carta, conselheiros indicaram que Bandeira pode ter pretensões políticas nas eleições municipais deste ano — ele deve ser candidato a prefeito do Rio de Janeiro — e afirmam que "o pronunciamento inconsequente de um ex-presidente traz um prejuízo de grande repercussão negativa para o clube, em um momento de crise mundial, onde toda a sociedade está fragilizada por uma pandemia que vem ceifando vidas e que trará sequelas à economia mundial".

Posteriormente, o ex-presidente afirmou que tal declaração era baseada no planejamento da antiga diretoria em relação ao módulo do CT utilizado pela base. Segundo ele, havia uma programação para que, em dezembro, os jovens já usassem o antigo CT do profissional.