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Flamengo avalia danos à imagem e ensaia reaproximação com famílias do Ninho

CT Ninho do Urubu teve homenagens às vítimas da tragédia que completou um ano - Leo Burlá / UOL Esporte
CT Ninho do Urubu teve homenagens às vítimas da tragédia que completou um ano Imagem: Leo Burlá / UOL Esporte

Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro

15/02/2020 04h00

Bombardeado de todos os lados pela postura relativa às famílias das vítimas do Ninho do Urubu, o Flamengo avaliou os danos causados para sua imagem e ensaia um contato mais próximo dos familiares das vítimas fatais do incêndio.

A correção de rota não diz respeito apenas aos valores de indenização, mas também em relação ao amparo afetivo. O Fla constituiu uma comissão de três vice-presidentes que estreitarão esses laços humanos, algo que sempre faltou, segundo as famílias.

A ideia é que essa aproximação cause também um diálogo mais aberto na hora das negociações, visto que o distanciamento entre as partes é evidente. O abismo entre clubes e familiares atingiu seu ápice quando a tragédia completou um ano. De um lado, famílias barradas na porta do Ninho. Do outro, o presidente Rodolfo Landim e seus pares mais próximos em uma missa em memória dos meninos.

A cúpula rubro-negra lidou com críticas e adjetivos como "insensíveis" e "desumanos" acompanhavam boa parte destes ataques aos dirigentes. Com a crise em alta temperatura, o clube resolveu rever sua estratégia para virar o jogo.

Um bom exemplo desta tentativa de estabelecer uma nova fase para o caso ocorreu ontem (14), quando o clube se fez representar maciçamente na CPI que apura o incêndio, dentre outros incidentes de similar proporção no Rio. Na penúltima sexta, os rubro-negros não compareceram à sessão e foram ameaçados de condução coercitiva.

O CEO Reinaldo Belotti, que não havia sido convidado, apareceu às pressas para minimizar o estrago. Nesta última audiência, Rodrigo Dunshee (vice geral e jurídico), Jaime Correia da Silva (vice de administração), Belotti e Marcos Braz (vice de futebol) compareceram. A ida voluntária do homem-forte do futebol indica essa tentativa de construir uma imagem mais afetuosa do Rubro-Negro.

Dirigentes do Flamengo durante CPI que apura incêndio no Ninho -  -
Dirigentes do Flamengo durante CPI que apura incêndio no Ninho

"Os contatos foram rareando com o tempo. Faltou ao Flamengo esse olhar. Vamos tentar separar as coisas. Ninguém quer botar valor no filho de ninguém. Quando conciliar essas duas partes, as coisas vão melhorar muito. Está na hora de discutir isso. O Flamengo não foi tão pró-ativo", admitiu Dunshee.

Este encontro de famílias, dirigentes do clube e advogados serviu para reatar um laço que estava desfeito. Ainda que de forma tímida, as partes já foram mais afáveis umas com as outras e a promessa é de um tratamento mais atento a valores não apenas monetários. Apesar desta promessa de um novo marco para este assunto, a ausência de Rodolfo Landim foi frisada. Mãe do menino Jorge Henrique, Alba Valéria cobrou a presença do mandatário:

"Um ano sem nenhum contato do presidente. Por que ele nunca aparece? ".

"Estou sentindo una mudança do Flamengo, mas a gente quer a palavra do presidente. A palavra de quem pode decidir. Por que o Landim não está aqui? Falta humildade para reconhecer. Façam o simples. Se fosse feito o simples desde o início, estava tudo resolvido", completou Darlei Pisetta, pai do jovem Bernardo.

Além do trabalho dos parlamentares, o Ninho é alvo de um inquérito que está muito perto de um ponto final. A expectativa é que haja indiciamento de figuras da antiga e da atual gestão. A empresa NHJ (fornecedora dos contêineres) também está na mira.

O clube já tem acordo com as famílias de Gedinho, Athila, Vitor Isaias, e com o pai de Rykelmo. O Fla paga uma pensão mensal de R$ 10 mil para as famílias das vítimas.