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Ex-vice detalha caos do Vasco e revela Abel com salário maior que de Luxa

Alexandre Campello vem sendo alvo de duras críticas da torcida  - Thais Magalhães/CBF
Alexandre Campello vem sendo alvo de duras críticas da torcida Imagem: Thais Magalhães/CBF

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

20/01/2020 15h42

A crise na diretoria do Vasco ganhou mais um capítulo na tarde de hoje (20). Adriano Mendes, vice-presidente de Controladoria e membro do grupo "Desenvolve Vasco", entregou o cargo e, em nota, fez críticas ao presidente Alexandre Campello. Ele é o terceiro nome a deixar a diretoria vascaína nos últimos dias. Anteriormente, João Marcos Amorim, então vice de de Finanças, e Horácio Junior, assessor da presidência, renunciaram aos respectivos postos.

Vale ressaltar que, hoje, o Vasco completou quatro meses de salários atrasados e a cúpula ainda busca soluções. Após a partida contra o Bangu, em São Januário, na estreia no Campeonato Carioca, o mandatário foi duramente criticado pelos torcedores presentes.

No documento publicado na página da "Desenvolve Vasco" e assinado por Adriano Mendes, o ex-dirigente faz um resumo da passagem pelo Cruzmaltino, Adriano aponta como motivos para a saída do clube divergências em relação ao orçamento para o ano de 2020, elaborado por um grupo do qual ele fez parte.

Adriano revela ainda que o técnico Abel Braga foi contrato por um salário maior que o de Vanderlei Luxemburgo, além da contratação do atacante Germán Cano e negociações em andamento "sem comunicação prévia ao Departamento Financeiro para avaliação da sua adequação ao fluxo de caixa do Clube, mesmo com a delicada situação financeira que o Clube atravessa, inclusive com salários em atraso".

Ele ressalta ainda a "falta de priorização na destinação dos recursos financeiros, de acordo com as premissas estabelecidas pelo Plano de Recuperação do Clube, para o pagamento de impostos, salários em atraso e fornecedores estratégicos, fugindo ao senso comum a lógica de não se efetuarem quaisquer outros pagamentos antes desses citados, como efetivamente tem ocorrido".

O ex-vice de Controladoria ressaltou também que "dos R$ 3,3 Milhões mensais previstos no Orçamento de 2020, cerca de R$ 1,5 Milhão referem-se a pagamentos para atletas que não serão aproveitados no elenco atual ou há muito não vêm atuando pelo Clube".

"Todos esses pontos foram densamente debatidos com o Presidente Campello. Hoje tenho claro que sua visão é amplamente divergente da minha, o que restou reforçado pelo conteúdo de suas afirmações em vídeo publicado pelo Clube nos últimos dias. Não se trata, portanto, de uma pequena divergência conceitual, facilmente contornável. Ao contrário.

Acredito que nada é mais relevante do que conseguirmos a completa e definitiva recuperação financeira do Vasco da Gama em 2023, como previsto no Plano de Recuperação Financeira que todos os participantes da gestão conhecem, além da imprensa esportiva e da comunidade vascaína, uma vez que foi apresentado ao público em Evento para Investidores realizado em 2019. Esse foi um compromisso por mim assumido em 23 de janeiro de 2018 quando da minha chegada ao Clube. Não podemos hesitar na execução desse Plano, não podemos desviar de seus trilhos", disse Adriano, em trecho da nota.

Veja trecho da nota em que Adriano explica as divergências com Campello
(a nota na íntegra pode ser vista neste link):

"5. AS DIVERGÊNCIAS NO ORÇAMENTO DE 2020

O Orçamento de 2020 foi elaborado durante o mês de outubro de 2019 por uma Comissão de 6 especialistas na área, sendo eu um dos integrantes, tendo sido entregue no dia 30 de novembro para avaliação do Conselho Fiscal, que deu parecer favorável à peça orçamentária. Em seguida, o Orçamento foi aprovado pelo Conselho Deliberativo em 26 de dezembro passado.

Trata-se de uma peça precisa, dado que a equipe que a elaborou possui amplo conhecimento das receitas e despesas do Clube após 2 anos de gestão. Apesar da previsão de um lucro expressivo, principalmente por novas ações de redução de gastos e novo nível de arrecadação com sócios, o orçamento também prevê a necessidade de empréstimos de mais de R$ 40 Milhões. Isso em consequência da necessidade do pagamento de mais de R$ 180 Milhões em dívidas para o presente ano, a maioria contraída há longa data e de difícil renegociação.

Um ponto adicional a se destacar por ampliar o problema é o fato de que grande parte da necessidade de empréstimos se dá logo no início do ano, especialmente no mês de janeiro, tornando novamente a situação de caixa muito difícil. Tal panorama foi destacado na referida reunião do Conselho que aprovou a peça orçamentária. Além disso, a elevada premiação do Campeonato Brasileiro foi objeto de penhora, recurso que certamente amenizaria o volume de dívidas operacionais em atraso a serem pagas em 2020.

Essa difícil situação financeira não era novidade. Certamente apresentava-se como menos crítica do que aquelas enfrentadas e contornadas nos exercícios de 2018 e 2019, mas, assim como ocorrido nessas outras crises, precisava ser enfrentada com ações firmes e imediatas. O fiel cumprimento do rigoroso Orçamento elaborado é a primeira dessas medidas. A segunda é a adoção de medidas adicionais para regularizar os valores atrasados de 2019.

Foi nesse cenário que fui surpreendido por ações que contrariavam a direção que entendi, em conjunto com o time financeiro, como necessária para a gestão financeira do Clube, especialmente neste início do ano. De forma objetiva, relaciono a seguir os principais pontos que entendo conflitarem com a condução planejada:

? A contratação de novo técnico por valores superiores àqueles pagos ao treinador anterior, a contratação de jogador já efetivada e as demais negociações para contratações de jogadores em andamento, sem comunicação prévia ao Departamento Financeiro para avaliação da sua adequação ao fluxo de caixa do Clube, mesmo com a delicada situação financeira que o Clube atravessa, inclusive com salários em atraso;

? A falta de priorização na destinação dos recursos financeiros, de acordo com as premissas estabelecidas pelo Plano de Recuperação do Clube, para o pagamento de impostos, salários em atraso e fornecedores estratégicos, fugindo ao senso comum a lógica de não se efetuarem quaisquer outros pagamentos antes desses citados, como efetivamente tem ocorrido;

? A não observância fiel ao Orçamento debatido com o Presidente em outubro e dezembro de 2019 e por ele defendido em recentíssima reunião do Conselho Deliberativo para a sua aprovação, Orçamento que contempla um remédio amargo, mas necessário, a ser adotado de imediato. Afinal, este Orçamento é parte fundamental do Plano de Recuperação Financeira do Clube para 2023.

Acrescento que, a meu ver, a conclusão de que a não realização de contratações nesse momento representa um risco de rebaixamento para o Campeonato Brasileiro de 2020 não deve prestigiada. Nosso time atual tem seu valor e nossa categoria de base tem mostrado reiterado sucesso no que vem produzindo nos últimos anos. Além disso, tal como ocorrido em 2018 e 2019, o time com que se inicia a temporada sempre pode sofrer ajustes no decorrer do ano. Assim, não me parece imprescindível, diante do quadro financeiro do Clube, fazer contratações já em dezembro de 2019 com receio de rebaixamento no final de 2020. O que é prioritário nesse momento é enfrentar uma escassez de recursos no mês de janeiro de 2020, que tem que ser solucionada de imediato.

Registre-se, ademais, que dos R$ 3,3 Milhões mensais previstos no Orçamento de 2020, cerca de R$ 1,5 Milhão referem-se a pagamentos para atletas que não serão aproveitados no elenco atual ou há muito não vêm atuando pelo Clube. Enfrentar tal situação é mandatório, buscando-se negociações que resultem em drástica redução desses valores.

Todos esses pontos foram densamente debatidos com o Presidente Campello. Hoje tenho claro que sua visão é amplamente divergente da minha, o que restou reforçado pelo conteúdo de suas afirmações em vídeo publicado pelo Clube nos últimos dias. Não se trata, portanto, de uma pequena divergência conceitual, facilmente contornável. Ao contrário.

Acredito que nada é mais relevante do que conseguirmos a completa e definitiva recuperação financeira do Vasco da Gama em 2023, como previsto no Plano de Recuperação Financeira que todos os participantes da gestão conhecem, além da imprensa esportiva e da comunidade vascaína, uma vez que foi apresentado ao público em Evento para Investidores realizado em 2019. Esse foi um compromisso por mim assumido em 23 de janeiro de 2018 quando da minha chegada ao Clube. Não podemos hesitar na execução desse Plano, não podemos desviar de seus trilhos. Não podemos deixar de lutar pelo futuro grandioso que podemos ter para pensar em resultados esportivos medianos no presente. O Orçamento de 2020 é parte fundamental do sucesso desse planejamento, até para correção dos desequilíbrios orçamentários de 2019. Não seguir esse caminho é adiar, senão impedir, o almejado e sustentável equilíbrio financeiro que trará consigo a recuperação da capacidade de investimento do Clube.

Para mim, é evidente que o maior problema do Clube é sua frágil situação financeira, derivada de elevado endividamento, e vencer essa fragilidade é o maior título a se conseguir no momento. Acredito que é preciso um sacrifício maior no futebol hoje, que proporcione a outros gestores a oportunidade de obterem no futuro os resultados esportivos que todos os vascaínos tanto desejam. Minha luta e minha maior convicção são no sentido de conseguir esse título invisível de equacionamento do endividamento, de difícil reconhecimento público, que precisa, porém, ser conquistado para a reversão da trajetória recente do Clube. Os títulos esportivos podem até não vir agora, mas será nossa realidade num futuro não tão distante.

Além disso, estamos obtendo sucesso nos aspectos mais estratégicos do Plano, com a construção do Centro de Treinamento, a reforma de São Januário, o aumento do número de sócios em grandeza semelhante à verificada nos maiores clubes do mundo, a imprescindível Transparência Contábil, a reestruturação de Dívidas por meio de instrumentos como o FDIC, além da elaboração de planejamento financeiro de médio prazo. Tudo isso fala por si. Não podemos, por causa dessas conquistas, abrir mão de seguir nessa caminhada até o endividamento cair para perto de R$ 300 Milhões, e tampouco deixar de acompanhar rigorosamente os movimentos de fluxo de caixa do Clube e tomar todas as medidas possíveis para seu reequilíbrio, por mais rigorosas e impopulares que sejam tais ações. O fluxo de caixa do Clube, dado o comprometimento das receitas com pagamento de dívidas há muito atrasadas, sempre será o maior desafio a ser vencido na gestão do Vasco da Gama até a redução do endividamento a um montante compatível com as receitas geradas.

Sou de opinião de que o Vasco ainda necessita de um rigoroso novo corte de gastos, adicional ao previsto no Orçamento elaborado para 2020 e que todo recurso obtido nessa frente seja destinado para o pagamento dos montantes em atraso. O Presidente entende, ao contrário, que o Orçamento não precisa ser seguido com tal rigor, especificamente no Futebol, e que há espaço para novas contratações, com gastos adicionais aos previstos originalmente pela equipe financeira do Clube. Entendo que isso representa um rompimento com os principais conceitos estabelecidos no Plano de Recuperação de Médio Prazo e coloca uma pressão desnecessária e não razoável no já apertado fluxo de caixa do início do ano.

Não existe verdade absoluta, e sim duas visões distintas sobre como lidar com os problemas que precisam ser geridos. Evidentemente a visão do Presidente pode mostrar-se acertada no futuro.

Sendo assim, a melhor solução para o momento, a meu ver, é que o Presidente possa fazer valer suas convicções, sem que se sinta confrontado, dentro da sua própria Administração, por visões e ações potencialmente conflitantes com as de sua estratégia. A coesão e o alinhamento na Alta Administração de qualquer organização são essenciais nos exercícios de gestão.

Nesse sentido, desligo-me da Administração, colocando-me à inteira disposição para continuar a auxiliar, se for desejo do Presidente, nos projetos que se caracterizam por pertencer ao Clube e não à sua Administração, tais como:

? Reforma de São Januário
? Centro de Treinamento
? Parceria Estratégica com o BMG
? Novas operações de reestruturação da dívida"

Vasco