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Renato Mauricio Prado

Flamengo virou bomba viral que precisa ser desarmada

Alexandre Vidal/Flamengo
Imagem: Alexandre Vidal/Flamengo

24/09/2020 04h00

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Parece um castigo dos céus para o clube que mais brigou pela volta do futebol, no auge da pandemia, e agora mesmo ainda tenta reabrir o Maracanã para os torcedores, embora o Rio de Janeiro viva nova onda de infectados e mortos. Não deixa de ser irônico que o clube mais atingido pelo coronavírus, na Série A do futebol brasileiro, seja justamente o Flamengo, presidido por Rodolfo Landim, que tanto se gabava de ter o protocolo mais seguro de saúde do país. Um protocolo que, segundo ele, deveria ser um exemplo para o Brasil.

Pois o tal protocolo perfeito para garantir a saúde dos seus jogadores não foi suficiente para proteger a delegação que foi ao Equador. No momento em que escrevo, já são vítimas do corona 16 jogadores, além do técnico Domènec Torrent, o presidente Rodolfo Landim, os vice-presidentes Marcos Braz e Luiz Eduardo Batista, o Bap, o médico Márcio Tanure e outros membros da comissão técnica e do departamento de futebol. O último número confirmado era de 27 infectados no grupo.

Pior: a tendência é que novos casos surjam, no decorrer dos próximas dias, pois viajaram todos juntos no avião fretado para o Equador, onde conviveram no hotel, no estádio e nos treinos. O que se vê, portanto, é um efeito dominó, onde basta um ter o vírus para infectar praticamente todos os que estão por perto.

E estavam todos sempre muito próximos, como se pode ver em várias fotos: ora durante um treino em Guayaquil, numa grande roda, ombro a ombro, em torno do treinador; ora na corrente, no vestiário, num abraço coletivo entre jogadores, dirigentes e membros da comissão técnica; ora no voo de volta, todos posando sorridentes e sem máscara.

Há quem ainda defenda o protocolo rubro-negro, alegando que ele só pode ser 100% aplicado no Ninho do Urubu. Mas lá apareceram infectados os goleiros Diego Alves e César e o lateral João Lucas. E agora sabe-se também que Gabigol, Gérson, Ramon e Lincoln já tinham testado positivo, sem que o clube divulgasse os seus nomes. Em suma: desde o início da pandemia, o Flamengo já teve 21 jogadores com o coronavírus. Um campeão de infecções na Série A!

O fato é que por mais que se tome cuidados, numa pandemia como a que vivemos, não há como garantir que não aconteça nenhum tipo de contágio. Ainda mais viajando e jogando por todo o Brasil e agora pelo continente.

Mas os dirigentes do Flamengo davam a impressão de que já nem acreditavam mais nos riscos. Basta ver o autêntico "trem da alegria" que levou ao Equador um sem-número de cartolas que não tinham rigorosamente nada a fazer por lá.

Quem garante que um deles já não estava com o coronavírus? Ou alguém acredita piamente que todos vivem tomando os devidos cuidados, dentro dos protocolos de saúde? Duvido. Se estivessem tão preocupados assim, nem teriam viajado para o Equador.

Diante dos numerosos desfalques, o Flamengo pede à CBF o adiamento do jogo contra o Palmeiras, no próximo domingo. Falando ao Seleção SporTV, na quarta-feira, o secretário geral da CBF, Walter Feldman, disse que a tendência é que o pedido seja negado. Mas, quando da entrevista, eram nove os jogadores rubro-negros infectados. À noite, a contagem chegou a16. Quantos serão, nos próximos dias?

Aparentemente preocupados em garantir a vantagem de enfrentar um adversário esfacelado, os palmeirenses não querem o adiamento. Ignoram assim os riscos à saúde de seus próprios atletas. Dos jogadores do Flamengo que atuaram contra o Barcelona, seis, mais de meio time, portanto, testaram positivo no dia seguinte à partida: Rodrigo Caio, Thuler, Arão, Léo Pereira, Renê e Éverton Ribeiro. É claro, portanto, que jogaram já com o corona no corpo.

O elenco rubro-negro, no momento, é uma bomba viral que deveria ser obrigada ao isolamento para preservar até a saúde dos adversários. Mas quem disse que a CBF, o Palmeiras e a Conmebol estão aí pra saúde? Ainda mais neste caso, que envolve o Flamengo, dirigido por cartolas notoriamente arrogantes e negacionistas que tampouco se mostraram preocupados com a pandemia que assola o mundo e, particularmente, o Brasil.