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Renato Mauricio Prado

Flamengo vence dentro e fora de campo

Atacante Pedro em Flamengo x Boavista, jogo com transmissão da FlaTV - Reprodução
Atacante Pedro em Flamengo x Boavista, jogo com transmissão da FlaTV Imagem: Reprodução

02/07/2020 04h00

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Vencer o Boavista, convenhamos, está longe de ser algo digno de comemoração para um time campeão brasileiro e da Libertadores, como o Flamengo. Mas o que, certamente, deixou sua torcida satisfeita foi a constatação de que, apesar da longa paralisação, provocada pelo coronavírus, a equipe de Jorge Jesus segue na ponta dos cascos, jogando por música, como no início do ano, quando venceu a Recopa Sul-Americana e a Supercopa do Brasil. Não fosse o excesso de preciosismo, em vários lances dentro da área, alguns na cara do gol, o rubro-negro poderia ter transformado sua vitória em goleada histórica.

O ofensivo carrossel do treinador português, baseado em marcação no campo do rival, retomada rápida da bola, intensas trocas de passes e posições, continua a se mostrar bem afiado. Apesar da pesada retranca adversária (Diego Alves praticamente não apareceu na telinha), um sem número de oportunidades foram criadas pelo Flamengo, principalmente em bons lances pelas laterais (notadamente com Rafinha, na direita) e triangulações pelo meio (com destaque para Gérson e Arrascaeta).

Sem Gabigol e com Bruno Henrique apagado, o ataque rubro-negro perdeu um pouco em mobilidade, mas Pedro, substituto do artilheiro, fez valer o seu atilado faro de gol e abriu o placar e o caminho para a tranquila vitória. O golaço da noite, porém, foi mesmo de Gérson, com um chute impressionante de fora da área. Que bomba, diriam os locutores de outrora. Que jogador, complemento eu.

E, por que não dizer, também, que elenco! Os cinco reservas que Jesus lançou no segundo tempo (Michael, Vitinho, Diego, Pedro Rocha e Thiago Maia) e o centroavante Pedro, que só começou jogando porque Gabigol foi poupado, seriam titulares em 80% dos times da Série A. Numa temporada na qual serão permitidas cinco substituições por partida, é mais uma vantagem considerável para os campeões brasileiros e da Libertadores.

Dono da melhor campanha na soma geral de pontos, agora, o rubro-negro pode conquistar o título estadual nas duas próximas rodadas (semifinal e final da Taça Rio). Mas a vitória mais comemorada pelos dirigentes, na quarta-feira que consideraram histórica, não foi no gramado e sim fora dele. Apesar das tentativas da Rede Globo de impedir a transmissão da partida, através da justiça, o clube conseguiu realizá-la, na Fla TV, quebrando recordes de audiência no streaming e obtendo significativo triunfo político, escorado na MP 984, do presidente Jair Bolsonaro, aliado de última hora na guerra contra a emissora da família Marinho, que detém quase um monopólio no futebol no país.

Tal êxito, entretanto, ainda é mais simbólico que palpável, pelo menos a curto prazo. Com as principais competições do país vendidas até 2024, as únicas coisas que o rubro-negro terá a negociar, nos próximos cinco anos, serão os estaduais, que valem pouco e perdem prestígio a cada temporada.

Após todo esse imbróglio, é duvidoso que se consiga faturar nas plataformas digitais, algo sequer próximo ao que a Rede Globo paga atualmente. O futuro parece, sim, ser o streaming. Mas em que momento ele começará a render mais dinheiro que o ofertado pelas transmissões nas TVs abertas, a cabo e pay-per-view é a pergunta que ninguém ainda se mostra capaz de responder.

Por fim, é justo elogiar a correta transmissão feita pela Fla TV. Temia que pudessem ocorrer problemas técnicos, face à certeza de uma monumental enxurrada de acessos (chegaram a ser 2,2 milhões simultâneos), mas os 90 minutos transcorreram sem sustos e com excelente qualidade de imagem. A narração de Emerson Santos foi boa e os comentários, sem exagerado clubismo, não comprometeram, embora Raul Plasmann pudesse ter sido mais bem explorado. O todo, porém, merece aplausos. O que não quer dizer que não haja espaço para evoluir, principalmente, na produção do pré-jogo. Se o Flamengo considera seu canal o futuro, deve investir cada vez mais nele.