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Mauro Cezar Pereira

Morte de 10 garotos no CT faz 14 meses. Famílias sentem Fla ainda distante

Familiares das vítimas em frente ao CT do Flamengo no aniversário das mortes - Leo Burlá / UOL Esporte
Familiares das vítimas em frente ao CT do Flamengo no aniversário das mortes Imagem: Leo Burlá / UOL Esporte

08/04/2020 12h56

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A morte dos dez garotos das divisões de base no Centro de Treinamentos do Flamengo completa, hoje, 8 de abril, 14 meses, ou seja, 425 dias, o equivalente a quase 61 semanas, ou mais de 10.200 horas de sofrimento. As famílias, em maioria (seis e meia) seguem sem acordo com o clube e a justiça está parada devido à quarentena gerada pela pandemia de coronavírus.

Com isso, segue distante o recebimento de valores que assegurem aos pais, irmãos e pessoas próximas dos meninos queimados vivos no CT do clube. Assim como continua sem acontecer o previsto indiciamento de possíveis responsáveis pelo momento mais trágico, traumático, macabro de todo o futebol brasileiro em sua história.

Em fevereiro, o Diário Lance! publicou que, depois de recorrer em segunda instância (em primeiro grau foi determinado o valor de R$ 10 mil como pensão às famílias), o Flamengo tentou reduzir o valor para dois terços de um salário mínimo (R$ 1.045). Ou seja, pleiteava cerca de R$ 696.

Antes da quarentena, o jornal informava que o caso estava na 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça (TJRJ), com relatoria da desembargadora Sirley Abreu Biondi. Deveria ir a julgamento colegiado até abril.

O blog entrou em contato com os advogados das famílias que seguem sem consenso com o Flamengo dois meses depois da repercussão gerada pelo distanciamento dos dirigentes em relação aos parentes dos meninos no primeiro aniversário de suas mortes. Na ocasião, pais foram impedidos de entrar no CT para rezar e dirigentes não os convidaram para uma missa na qual compareceram. De lá para cá, o que mais aconteceu?

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Thiago Divanenko, representante das famílias do atacante Vítor Isaías, cuja avó (Josete Itavalda Adão, a Dona Jô) fez acordo, e do goleiro Bernardo Pisetta, ainda sem consenso com os rubro-negros.
"Depois do grande espaço ocupado na mídia nacional, houve uma visita à casa do Darlei (pai de Bernardo), de duas pessoas do clube, não da linha frente: Maurício Mattos (vice-presidente de Embaixadas) e Adílio (ex-jogador). Fora isso, apenas conversa entre advogados, sem evolução.
A visita foi boa, falaram de amenidades, levaram uma camisa, pensaram na ideia de adotar uma creche na cidade de Indaial. Um dia depois, no grupo das famílias, surgiu a informação do agravo, que acabou desestabilizando um pouco a todos. Causou bastante estranheza às famílias, o clube pleiteava a redução do valor pago mensalmente a elas. O Flamengo minimizou, atribuindo razões técnicas, mas foi algo que senti que causou um afastamento, e promoveu o recurso para minoração daquele valor mensal determinado pela justiça, de R$ 10 mil. Parece contraditório, uma vez que aqueles R$ 5 mil mensais iniciais, foram iniciativa do clube.
O agravo, ao meu sentir, visava evitar acumulação. Ou seja, o clube provavelmente pretendia continuar pagando os R$ 5 mil, por isso discutiu os R$ 10 mil. O impacto foi emocional, que nesse caso, é preponderante".

Arley Campos representa as famílias do goleiro Christian Esmério e do sobrevivente Jean Salles, que salvou três pessoas e se tornou um herói em meio à tragédia:
"Desde então, contato zero. E o problema é que, com a justiça paralisada, não podemos fazer nada. E desde a sessão que houve na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), no início de fevereiro, eles se comprometeram a nos procurar. Não o fizeram".

Paula Wolff representa a família de Jorge Eduardo:
Desde o último encontro, na CPI da Alerj, em fevereiro, não tivemos mais nenhum contato. Ficamos aguardando, por enquanto. Eles disseram que fariam contato. Estamos dando mais um voto de confiança para eles".

Mariju Maciel, representante da família do volante Pablo Henrique
"Jamais, nenhum contato. Acho lamentável, triste e de uma desumanidade profunda. Espero que eles não obtenham êxito. Na reunião da Alerj falaram aos pais que na semana fariam contato para melhorar o acordo. Jamais fizeram".

Gislaine Nunes representa a mãe do volante Rykelmo:
"Nada até agora. Silêncio total. Ninguém mais procurou. É muita falta de compaixão, de coerência e de bom senso das partes quando o Flamengo se sujeita a um recurso desses diante de um cenário horroroso que vimos, no meu ponto de vista pela negligência e imprudência do clube.

Procurado, o Flamengo respondeu ao blog por intermédio de seu departamento de comunicação que no momento não pretende se manifestar a respeito do tema.