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Marcel Rizzo

REPORTAGEM

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Conmebol decide tirar Copa América da Colômbia após 'guerra' com governo

Por conta de conflitos internos, Colômbia deixa de ser sede da Copa América - Getty Images
Por conta de conflitos internos, Colômbia deixa de ser sede da Copa América Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

20/05/2021 21h13

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A Conmebol decidiu que a Colômbia não dividirá a organização da Copa América 2021 com a Argentina. Por causa dos protestos políticos que assolam o país, o torneio previsto para começar em 13 de junho e terminar em 10 de julho deverá ser confirmado apenas na co anfitriã Argentina, que aumentará a oferta de estádios (de quatro para até oito).

Conmebol e governo colombiano travaram uma queda de braço nas horas que antecederam a decisão. O ponto principal na queda de braço foi: quem assumirá a responsabilidade por tirar a Colômbia?

Apesar de saber que não consegue garantir a segurança das delegações, o governo de Iván Duque não quer levar o ônus da desistência, por dois motivos principalmente, segundo a coluna apurou: o político, já que seria dar uma vitória ao grupo que promove os protestos, chamado por lá de "Comité de Paro", e que fez nas últimas semanas forte campanha contra a realização da Copa América na Colômbia, e o financeiro.

Os diversos contratos amarrados entre Conmebol e governo colombiano para a realização do torneio preveem, como de praxe, multas milionárias. Um país desistir de ser sede de uma competição, mesmo que por motivos de segurança, pode render disputas judiciais por valores perdidos em acordos que precisarão ser desfeitos. Por isso, para a Colômbia, é essencial a Conmebol retirá-la da organização unilateralmente.

A cúpula da Conmebol se irritou com esse movimento. Nesta quinta-feira (20), o governo colombiano sugeriu que se adiasse novamente a competição, agora para novembro de 2021 — torneio que estava programado inicialmente para 2020 e atrasou um ano por causa da pandemia. Foi a cartada final, e desesperada, de um país que perdeu diariamente apoio.

Sede derretendo

Uma semana antes, pelo menos metade das dez federações filiadas ainda apoiavam a Colômbia como sede, apesar dos protestos no país que causaram problemas a clubes nas Copas Libertadores e Sul-Americana — o Nacional de Montevidéu teve dificuldades para sair do hotel em Pereira e River Plate e Atlético-MG sofrem com gás lacrimogêneo em Barranquilla.

Na quinta-feira, dia 13 de maio, na reunião do Conselho a Conmebol confirmou a Colômbia, mas houve tensão e duas propostas foram oferecidas: realizar o torneio totalmente na Argentina ou migrar os jogos da Colômbia para o Chile, que usaria a estrutura remanescente da Copa América-2015.

A opção chilena se mostrou inviável por questões comerciais, mas a argentina, não. O governo de Alberto Fernández deu garantias de que conseguiria absorver os 15 jogos programados para o co anfitrião, inclusive a final. Até quatro estádios se juntariam às quatro sedes já programadas (Monumental de Nuñuez, Córdoba, Mendoza e Santiago Del Estero).

Foram sugeridos o La Bombonera, Nuevo Gasometro, El Cilindro e o Libertadores da America, todos na região de Buenos Aires, para evitar longos deslocamentos, e que acabaram de passar por inspeção da Conmebol por serem candidatos a receber as finais da Libertadores e da Sul-Americana.

Dia a dia o apoio de outras federações à Colômbia foi diminuindo. Na quinta-feira (20), somente a Venezuela ainda acreditava que a Copa América poderia se jogar no país vizinho. O presidente da Federação Colombiana, Ramón Jesúrun, é próximo do homem forte do futebol venezuelano, Laureano González, que é 1º vice-presidente da Conmebol e também quem cuida do departamento financeiro da entidade.

Mas nem esse apoio importante, e a boa relação de Jesúrun com o presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez, adiantaram. O torneio, que seria em duas sedes, será apenas na Argentina. E não houve pressão que resolvesse.

A Copa América

O regulamento prevê dois grupos de cinco seleções com a presença dos dez países filiados à Conmebol — os convidados Qatar e Austrália desistiram de participar por causa das restrições de viagens durante a pandemia. Todos jogam contra todos na chave e os quatro primeiros avançam para as quartas de final — somente um é eliminado, portanto.

O Grupo A tinha como sede a Argentina com os anfitriões, Chile, Paraguai, Uruguai e Bolívia. No B, que era na Colômbia, estavam os donos da casa, Brasil, Peru, Venezuela e Equador. O jogo de abertura, em 13 de junho, é Argentina x Chile, no Monumental de Nuñez em Buenos Aires. O Brasil estrearia dia 14, uma segunda-feira, contra a Venezuela em Medellín. Depois jogaria dia 18 frente o Peru em Cali, dia 24 diante da Colômbia em Barranquilla e no dia 28 encararia o Equador em Bogotá.

A final estava marcada para 10 de julho, um sábado, em Barranquilla (Colômbia).