O Brasileirão está na boca do povo
POR ELIAS AREDES JUNIOR
Não é fácil viver na metrópole. Agitação, trânsito pesado, a necessidade de cumprir as agendas com precisão diante de múltiplas tarefas é uma necessidade. Não sou diferente. A profissão de jornalista tem diversos desafios e tarefas e nem sempre é possível fazer o clássico horário comercial. Aliás, raramente.
Na última sexta-feira, dia 06 de dezembro, parecia um dia tedioso. Saí da redação da Rádio Brasil Campinas às 19h30, peguei meu veículo no estacionamento e tinha como destino minha residência em uma cidade da Região Metropolitana de Campinas.
Após percorrer uma parte do trajeto, parei no farol próximo à antiga Estação Ferroviária. Ali, existia um comerciante informal. Caminhou alguns passos em direção ao meu carro. Já conhecia a figura de outras passagens. Na mão esquerda, uma espécie de cubo cheio de guloseimas e doces. Na direita, chocolates e balas. Um trabalhador e sobrevivente.
Ele ofereceu o produto, recusei delicadamente e a minha resposta negativa reafirmou o semblante cabisbaixo, sem esperança de dias melhores. Naquele instante, eu acompanhava um debate esportivo em uma estação de rádio. Os jornalistas falavam das possibilidades da última rodada, em que Athletico Pararanaense, Atlético Mineiro, Fluminense e Bragantino vão lutar pela manutenção na divisão de elite. Cada jornalista fazia seu prognóstico. Em segundos, o rosto daquele ambulante mudou. O rosto com a barba rala e branca abriu um sorriso. Sem cerimônia, disparou:
- Vai cair o Galo!
Como em ato reflexo, perguntei porque ele apostava no vice-campeão da Copa Libertadores. Por saber que o sinal de trânsito seria aberto em segundos, ele, como um locutor de rádio, começou a disparar em quais resultados apostava. Com a mão na cabeça e ar de dúvida, finalizou:
- Que campeonato maluco, sô!?- disse.
- Ué, mas isso não é bom?- retruquei
- É ótimo- disse com um sorriso largo no rosto
O sinal abriu e a imagem foi de alguém satisfeito por ser protagonista naquele debate express.
Relato este episódio para dizer: campeonato bom é aquele que todo mundo entende. É quando vira assunto nos bares, no trânsito, na conversa do ponto de ônibus ou para um vendedor com pouca chance de acompanhar os jogos porque sua grana é curta. Alguém sem chance de sequer fazer a compra do mês. Comprar um pacote de pay per view é delírio. Mas ele acompanha. Vibra. Torce.
Os detratores falam e reclamam. Encontram defeitos. Só que a verdade é cristalina: o Campeonato Brasileiro e os pontos corridos estão na boca do povo. Isso é ótimo.
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