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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Como foi a famosa treta entre Maradona e Ramón Díaz, novo técnico do Vasco

Diego Maradona e Ramón Díaz se abraçam no Mundial Juvenil de 1979 - Reprodução
Diego Maradona e Ramón Díaz se abraçam no Mundial Juvenil de 1979 Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

18/07/2023 08h50

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Ele tem 63 anos e uma das vidas mais interessantes de todo o futebol da América do Sul.

Anunciado ontem (17) como novo técnico do Vasco, o atrevido Ramón Díaz é uma figura cultuada na Argentina, especialmente pela torcida do River Plate, que o tem como um personagem quase religioso (alguém se lembrou das eternas simbologias do 'deus' Diego Armando Maradona?).

Ramón foi contemporâneo —e inicialmente amigo— de Diego Armando Maradona.

Foi pela convivência com o astro adolescente que Díaz passou a jogar como centroavante, no fim dos anos 1970.

"Camisa 9 com a qualidade de um camisa 10", era a definição argentina do seu futebol, especialmente no espetacular Mundial Juvenil que Maradona e Díaz conquistaram em 1979, embasbacando até o tarimbado técnico César Luis Menotti, da seleção principal.

Cria do River Plate, e muito próximo ao goleiro "Pato" Fillol, que depois defenderia o Flamengo, Ramón Díaz integrou a seleção da Argentina na Copa do Mundo de 1982, realizada na Espanha.

Foi dele, inclusive, o gol marcado na derrota por 3 a 1 para o Brasil no Estádio do Sarriá, pelo triangular da segunda fase.

A carreira que parecia alinhada aos grandes palcos teve um retrocesso pelas desavenças com Maradona.

No River, Ramón era amigo também de Daniel Passarella, rival declarado de Diego, o que acabou criando uma barreira intransponível na seleção argentina.

Para não incomodar Maradona, a estrela-mor daquela e de muitas outras companhias, o técnico Carlos Bilardo "cancelou" Ramón Díaz da equipe nacional.

Sua ausência nas Copas de 1986 e 1990 até hoje gera muita controvérsia na Argentina, principalmente pela categoria desfilada em times como a Fiorentina e a Inter de Milão.

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Figurinha religiosa de Ramón Díaz circulou com sucesso na torcida do River
Imagem: Reprodução

Técnico de timaços

Ramón Díaz jogou na Europa e no Japão antes de voltar ao River, no começo dos anos 1990, já veterano e ainda goleador.

Pela ausência de nomes de peso no mercado, ele estreou como técnico no próprio River, em 1995, com apenas 36 anos. É praticamente a idade do volante chileno Gary Medel, que está com 35.

Pelo gigante portenho, Ramón Díaz conquistaria a Libertadores da América de 1996 com um timaço recitado de memória até hoje.

É uma das melhores equipes de todos os tempos da história do futebol argentino, sem o menor exagero. Burgos; Hernán Díaz, Ayala, Rivarola e Altamirano; Almeyda, Astrada e Sorín; Francescoli, Crespo e Ortega.

Hoje, lideraria fácil qualquer lista dos elencos mais caros da América do Sul e até de determinadas ligas da Europa.

No fim daquele 1996, Ramón Díaz disputou pela primeira vez o Mundial de Clubes. Parou na Juventus de Del Piero e Zidane, perdendo apertado por 1 a 0 e ficando com o vice.

O treinador que hoje tenta salvar o Vasco virou referência de bom futebol na Argentina, conduzindo o River em outras duas ocasiões e levando adiante trabalhos também no San Lorenzo e Independiente, além de comandar a seleção do Paraguai que eliminou o Brasil na Copa América de 2015, realizada no Chile.

Até o surgimento de Marcelo Gallardo, Ramón era considerado, com folga, o maior técnico da história do River (e não nos esquecemos de Ángel Labruna).

Em 1997, no último River x Boca da carreira de Maradona, Diego foi até o banco rival para cumprimentar Ramón, que demonstrou frieza no gesto.

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Famoso (e esquivo) cumprimento em 1997 entre Díaz, técnico do River, e Maradona, camisa 10 do Boca
Imagem: Reprodução

Tal trajetória obviamente afastou Díaz de Maradona, um símbolo do Boca Juniors. "Estamos distantes", costumava repetir Ramón, sempre que alguma entrevista na TV argentina abordava Diego.

Quando Maradona morreu, em 2020, Ramón fez protocolares postagens nas redes sociais.

Quem conviveu com ele naqueles meses contou, reservadamente, que o hoje técnico vascaíno sentiu demais a morte do antigo amigo de infância, lamentando os desencontros da vida e as inúmeras chances de uma reaproximação entre ambos, que jamais ocorreu.