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Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Temporada da F1 promete a volta do duelo das maiores vencedoras da história

Charles Leclerc, da Ferrari, sendo seguido por perto pela McLaren de Lando Norris - Clive Mason/ Getty Images
Charles Leclerc, da Ferrari, sendo seguido por perto pela McLaren de Lando Norris Imagem: Clive Mason/ Getty Images

Colunista do UOL

26/04/2021 04h00

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Quando Lando Norris, da McLaren, e Charles Leclerc, da Ferrari, subiram juntos ao pódio do GP de abertura da temporada de 2020 da Fórmula 1, parecia uma volta no tempo. Afinal, desde o GP do Brasil de 2012, não se via as duas maiores vencedoras da história da F1 juntas entre os três primeiros. Mas o que acabou sendo mais uma coincidência, já que a McLaren estava mais forte que a Ferrari em 2020, agora toma ares diferentes: ainda não é uma briga direta por vitórias, mas o duelo Ferrari x McLaren é uma realidade em 2021.

É mais do que uma volta ao passado de equipes que começaram a lutar por títulos ainda nos anos 1970 e se encontraram por diversas vezes desde então, no início e no final dos anos 1990 e tantas vezes entre 2007 e 2012, quando a McLaren começou a ter um declínio mais acentuado e a Ferrari viveu altos e baixos. Vem sendo, também, uma luta entre nomes que prometem fazer parte do futuro da categoria.

As armas de cada time

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Charles Leclerc largou em quarto lugar nas duas primeiras corridas do ano
Imagem: Ferrari/Divulgação

De um lado, é comum a própria Ferrari se surpreender com o que Charles Leclerc consegue tirar do carro na classificação, e a consistência com que ele faz isso. Embora o motor ferrarista ainda não esteja perto do Mercedes, ele conseguiu se colocar em quarto lugar no grid de largada nas duas primeiras corridas - em Imola, inclusive, com um acerto aerodinâmico pensando na chuva.

De outro, Lando Norris tem mostrado uma evolução constante em seu ritmo de corrida. O inglês costuma julgar muito bem suas ultrapassagens e as duas corridas disputadas até aqui na temporada provam isso: Norris largou em sétimo em ambas as oportunidades (em Imola, chegou a fazer o segundo tempo, mas teve sua volta deletada por ter saído da pista) e chegou em quarto na estreia, e no pódio no GP da Emilia Romagna.

O fato é que este início de temporada deixou claro que a briga entre as duas gigantes da Fórmula 1 é real. A McLaren vem numa crescente, principalmente desde a chegada do chefe Andreas Seidl e, agora, com a volta da parceria com a Mercedes no fornecimento de motores. E, do lado da Ferrari, a queda do ano passado foi recuperada em partes nesta temporada, enquanto os rivais que se colocaram entre as duas equipes em 2020 ficaram para trás: Alpine (ex-Renault) muito provavelmente já esperava ter um ano mais tímido, após a decisão de atualizar seu motor só em 2022, e a Aston Martin se surpreendeu com o tanto que perdeu com as novas regras aerodinâmicas adotadas para diminuir o ritmo dos carros e proteger os pneus.

Os "novatos"

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Daniel Ricciardo, da McLaren, durante treinos em Imola
Imagem: Steven Tee/McLaren

Um fator importante para decidir essa briga, que muito provavelmente será pelo terceiro lugar no campeonato, será a velocidade de adaptação dos dois pilotos que trocaram de equipe ano passado. Carlos Sainz foi justamente da McLaren para a Ferrari, e tem se mostrado mais confiante com o carro até o momento do que Daniel Ricciardo, que veio da Renault para a McLaren. Os dois, porém, estão empatados com 14 pontos até aqui.

"Acho que a briga é bem apertada, é difícil saber quem está na frente. Acho que a McLaren tem suas qualidades e fraquezas. Mas o que faz com que a briga seja muito boa é que nós somos rápidos em lugares diferentes na pista e isso torna a briga muito divertida", disse Sainz. Ele se refere à vantagem que a Ferrari parece ter nas curvas, especialmente de média e baixa velocidade, enquanto a McLaren é mais rápida nas retas. "Acho que eles estavam um pouco melhores do que nós em Imola, mas nós podemos estar melhores do que eles em pistas que nos favorecem mais."

A dúvida: o quanto focar em 2021

Um ponto pacífico entre os rivais é a necessidade de equilibrar bem o esforço para atingir a meta do terceiro lugar no mundial de construtores de 2021 e focar ao mesmo tempo no carro de 2022, que é totalmente novo e cujo desenvolvimento só pôde começar no início deste ano. "Nós queremos entender o pacote que temos em mãos cada vez melhor para poder extrair o máximo dele", explicou Seidl. "O grande desafio neste ano é entender por quanto tempo você vai continuar desenvolvendo este carro e quando vai focar-se totalmente no ano que vem? É uma decisão que vai depender de como serão as próximas corridas."

Em outras palavras, é uma decisão que vai depender de quão próxima a batalha com a Ferrari realmente será. Do lado de Maranello, o chefe Mattia Binotto já deixou claro que a prioridade da Scuderia, depois de comprovar, com as melhorias feitas para 2021, que a correlação entre os dados do túnel de vento e a realidade vista na pista é boa, já é o carro do ano que vem. "Nós já mudamos nosso foco para 2022 em janeiro. Vamos ter algumas peças novas no carro de 2021, mas essa já não é nossa prioridade."

Seria uma boa notícia para a McLaren? Deve demorar algumas corridas para que essa mudança de foco comece a fazer a diferença. Por enquanto, devemos ter mais um round dessa velha disputa Ferrari x McLaren neste final de semana, no GP de Portugal.