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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

O que faz pilotos como Alonso, Perez e Ricciardo sofrerem em início da F1?

Sergio Perez, da Red Bull, durante bandeira vermelha do GP da Emilia Romanga - Mark Thompson/Getty Images
Sergio Perez, da Red Bull, durante bandeira vermelha do GP da Emilia Romanga Imagem: Mark Thompson/Getty Images

Colunista do UOL

22/04/2021 04h00

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O complicado GP da Emilia Romagna, com direito a chuva e bandeira vermelha, expôs uma realidade que vem desde os testes da pré-temporada da Fórmula 1: a dificuldade que os pilotos que trocaram de equipe (e foram vários, uma vez que só Mercedes, Williams e Alfa Romeo mantiveram suas duplas de pilotos) estão tendo para se adaptar às novas equipes. E isso chama a atenção porque a lista tem nomes como Fernando Alonso, que está de volta à categoria após dois anos, Sebastian Vettel, Daniel Ricciardo e Sergio Perez, todos pilotos muito experientes.

Todos eles, assim como Carlos Sainz, novo recruta da Ferrari, fizeram menos pontos que seus respectivos companheiros nas duas primeiras corridas do ano. A maior desvantagem é de Perez, que tem, pelo menos em teoria, o melhor carro do grid no momento, a Red Bull, mas fez apenas dez pontos, contra 43 do companheiro Max Verstappen. Daniel Ricciardo (14) fez quase a metade dos pontos de Lando Norris (29) na McLaren e Sainz tem os mesmos 14 pontos de Ricciardo, contra 20 de seu companheiro Charles Leclerc.

Em Imola, a chuva não ajudou nenhum deles. Todos mencionaram a dificuldade que sentiram tendo sua primeira experiência com os novos carros no molhado logo na corrida, já que nenhuma sessão tinha sido disputada com chuva até a largada do último domingo. Além disso, a pista de Imola é traiçoeira, porque por um lado o segredo para ser rápido é abusar das zebras e, por outro, algumas delas são altas e acabam ficando muito escorregadias quando molhadas e, no domingo, fazia frio na região da Emilia Romagna, o que dificultou o trabalho com os pneus.

Mas isso não é novidade para pilotos do calibre de Alonso e Vettel, por exemplo. Então por que nenhum deles está conseguindo andar melhor que seus companheiros?

"Cada quilômetro tem sido precioso para eu me familiarizar com o carro, mas não tem sido fácil. Disputamos duas corridas que, no final das contas, foram também dois testes, já que na pré-temporada só tive um dia e meio à disposição", justificou o espanhol.

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Fernando Alonso faz pit stop durante o GP da Emilia Romagna
Imagem: XPB / James Moy

De fato, Alonso é quem tem mais motivos para acreditar que não está adaptado, por não correr na Fórmula 1 desde o final de 2018. E por estar voltando em um momento ímpar na categoria. Ano passado, a F1 já diminuiu o número de testes de oito para seis dias. Neste ano, mesmo com alterações adotadas para diminuir a velocidade dos carros, foram feitos só três dias de testes, muito em função da necessidade de segurar os custos. Daí a conta de um dia e meio para cada piloto feita por Alonso. Para piorar, o primeiro dia de pré-temporada no Bahrein foi marcado por uma tempestade de areia.

Depois do teste curto, vieram duas corridas em pistas e sob condições completamente diferentes. Do calor do Bahrein, pista com curvas lentas e retas longas, para a pista fluída e fria em Imola.

Isso sem contar que as equipes também não estão 100% afiadas depois das mudanças aerodinâmicas no assoalho, difusor e dutos de freio traseiros, além da nova construção adotada pelos pneus Pirelli. E também não está acostumada com a maneira de trabalhar dos pilotos que estão chegando. Por mais experientes que sejam, eles ainda estão sentindo a falta de quilometragem sob estas condições, como explicou Alonso.

"Perez me contou que a Red Bull tem uma filosofia diferente da nossa, e disse que precisa de mais tempo para tirar o melhor do carro. Assim como Sebastian, ele precisa de mais quilometragem, mas eu tenho certeza de que eles vão conseguir dominar o carro", explicou Otmar Szafnauer, que é ex-chefe de Perez e atual de Vettel, na Aston Martin.

O alemão é quem mais acumulou problemas até agora, desde os testes até a última corrida, quando viu seus freios em chamas antes mesmo da largada, teve uma punição em momento inoportuno, tendo de abrir caminho para os líderes em uma pista molhada com pneus de pista seca. "Preciso de um pouquinho mais de sorte", disse o tetracampeão. "Mas não sou o único piloto que mudou de equipe e que está com dificuldade. A última coisa a encaixar será a classificação, porque é quando você tem de acertar tudo".

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Daniel Ricciardo, da McLaren, durante treinos em Imola
Imagem: Steven Tee/McLaren

Com a briga apertada especialmente no meio do pelotão, que tem várias equipes novas, espera-se que esse "encaixe" aconteça o quanto antes. "Acredito que, com Daniel, tudo estará 100% depois de três GPs", disse o chefe da McLaren, Andreas Seidl. "É uma adaptação que já vivemos com Sainz quando ele chegou da Renault. Esses carros são muito complexos, e demora algum tempo para conseguir aqueles últimos três ou quatro décimos. Mas são eles que fazem a diferença".

Dá para notar na fala de Seidl uma certa urgência, até porque a McLaren luta com a Ferrari, que tem no próprio Sainz um piloto que, mesmo nas condições difíceis de Imola, já mostrou que está se adaptando mais rapidamente, embora seja o piloto menos experiente de todos da lista dos não estreantes que mudaram de equipe. Ele largou em 11º e chegou em quinto no último domingo e vai com mais confiança para a próxima corrida, dia 2 de maio, em Portugal.