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Último campeão da F2 a chegar na F1 não vê solução fácil para brasileiros

Oscar Piastri conhece bem a realidade dos pilotos brasileiros que estão tentando chegar na Fórmula 1. Australiano, ele também teve que deixar muita coisa para trás e foi cedo para a Europa atrás do sonho. Mais tarde, depois dividiu suas experiências com o piloto brasileiro Caio Collet, hoje disputando a Indy NXT (antiga Indy Lights, categoria de acesso à Indy) nos Estados Unidos, quando os dois moraram juntos na Inglaterra.

"Claro que eu vendo de outra parte do mundo, mas o sentimento de ter que deixar sua casa, ir para a Europa para perseguir seus sonhos é o mesmo", disse Piastri em entrevista ao UOL. "Viver junto com ele tornou as coisas mais fáceis porque eu tinha alguém que conhecia e com quem me dava bem. Havia esse sentimento que a gente compartilhava, de estar sacrificando algumas coisas nas nossas vidas para perseguir os sonhos. Isso dá mais pressão para ter sucesso."

Naquela época, Piastri estava passando por uma odisseia, vendo-se sem lugar na F1 mesmo depois de ter vencido os dois últimos campeonatos da base, a F3 em 2020 e a F2 em 2021, logo na primeira tentativa.

Ele tinha seguido a cartilha informal que as equipes têm, de cobrar não só resultados, mas resultados rápidos na base. Fazia parte de um programa de desenvolvimento de jovens pilotos, na Renault/Alpine. E, ainda assim, não estava com seu lugar garantido no grid. Isso só aconteceu depois de uma batalha judicial entre a McLaren, que queria seu passe, e a Alpine, que se achava no direito de mantê-lo.

Piastri seguiu a 'cartilha' e mesmo assim sofreu para chegar à F1

Felipe Drugovich comemora título antecipado da Fórmula 2 em 2022 no Circuito de Monza
Felipe Drugovich comemora título antecipado da Fórmula 2 em 2022 no Circuito de Monza Imagem: Dan Istitene - Formula 1/Formula Motorsport Limited via Getty Images

Não é de se surpreender que, três anos depois, Piastri seja o último campeão da Fórmula 2 que conseguiu um lugar na F1. Outro brasileiro, Felipe Drugovich, foi campeão depois dele, em 2022, assim como o francês Theo Pourchaire em 2023. Pilotos bem avaliados no paddock, que têm ou tiveram relação direta com times da F1. Mas sem vaga como titular.

Há alguns fatores para explicar isso. Houve uma renovação do grid alguns anos atrás que significa que a maioria tem menos de 30 anos e está pilotando em alto nível. O próprio Verstappen, Leclerc, Sainz, Norris, Russell, Albon fazem parte dessa geração.

E também há o teto de gastos, em vigor desde 2021 na F1. As equipes têm pensado duas vezes antes de apostar em pilotos menos experientes, com mais chances de estourar o orçamento com acidentes.

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O campeão da F2 deveria ter vaga direta na F1?

Volta e meia aparece alguma ideia para garantir pelo menos que os jovens ganhem mais quilometragem. E nem mesmo Piastri tem uma solução para esse impasse.

"O grid atual da F1 tem muitos pilotos jovens, não há muitos que estão mais para o final da carreira", lembrou Piastri. "Para mim, a ideia de que o vencedor da F2 entraria direto na F1 é muito difícil porque houve campeões no passado que, digamos, não venceram e que provaram ser melhores na F1 do que os que ganharam. Acho que você pode acabar tendo uma situação em que um piloto é campeão no sexto ano. Se demorou tanto tempo, ele realmente merece estar na F1? É difícil."

Alex Albon foi terceiro na F2 e hoje é bem cotado na Fórmula 1
Alex Albon foi terceiro na F2 e hoje é bem cotado na Fórmula 1 Imagem: Williams

Piastri acredita que levar até dois anos para ser campeão na F2 é uma boa medida para mostrar que você pode ser um bom piloto de F1. Mas mesmo isso traria dificuldades. "Vamos supor que você chegue à última corrida com quatro pilotos lutando pelo campeonato, e o time da F1 que vai ficar com o campeão da F2 não sabe quem será. É muito tarde. Fica tudo muito complicado."

Piastri diz não ter uma solução. "É um problema muito difícil de resolver. É claro que, quanto mais rápido você fizer as coisas na sua carreira, mais impacto você vai ter. No meu caso, acho que mais que ganhar, foi importante ganhar na minha primeira temporada. Foram campeonatos que fizeram muita diferença para mim. E, mesmo no meu caso, foi difícil entrar na F1, foi difícil encontrar um caminho aberto. É muito, muito duro."

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Existe a expectativa de que o agitado mercado de pilotos para 2025 abra espaço para novatos. Liam Lawson recebeu a promessa da Red Bull de que teria um lugar, embora isso não seja garantia de nada. Oliver Bearman deve se tornar apenas o segundo piloto da academia da Ferrari a conseguir um lugar na F1, no lugar de Hulkenberg. E Kimi Antonelli, como Verstappen antes dele, tido como um fora de série, deve queimar etapas e subir sem ter feito a F3 e após apenas um ano de F2. E nenhum deles foi campeão da F2 ou está nem mesmo no top 8 da principal categoria de acesso.

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