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Paulo Anshowinhas

REPORTAGEM

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Rodil Ferrugem volta a competir, leva a prata em Tampa e quer assumir CBSk

O bicampeão mundial de skate Rodil Ferrugem exibe suas medalhas do X Games - Arquivo Pessoal
O bicampeão mundial de skate Rodil Ferrugem exibe suas medalhas do X Games Imagem: Arquivo Pessoal

Colunista do UOL

05/03/2023 04h00

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Bicampeão mundial de skate street em 2002 e 2004, oito medalhas no X-Games (sendo 8 de ouro, 4 de prata e uma de bronze), 15 vezes campeão brasileiro de skate, o nome do curitibano Rodil Araújo Júnior, mais conhecido como Ferrugem, faz parte da história de sucesso do skate brasileiro.

Aos 44 anos, ele saiu da sua zona de conforto para voltar à atividade e competir na categoria Old School (Industry Vip) — de veteranos —, do mais prestigiado, tradicional e longevo campeonato de street skate do mundo, o Tampa Pro, na Flórida, que completa 30 anos de existência do skatepark e 29 anos de competições ininterruptas.

Rodil finalizou em segundo lugar na competição desta sexta-feira (3), e ficou à frente dos brasileiros Fabio Sleiman (de 47 anos de idade) e do jovem Daniel Vieira.

"Agora que a gente tem uma certa idade, escolhi não correr com a molecada no Pro. A idade pesa", comentou Ferrugem, de uma forma humilde e bem-humorada.

Casado com Patrícia, com quem teve uma filha, chamada Victória, de 12 anos, Rodil diz que hoje "vive uma vida de aposentado".

E agradece ao pai, que sempre o levou para as competições desde a infância, e lhe direcionou para o futuro "o que contribuiu para que eu conquistasse uma estabilidade depois do esporte, e consegui construir, aplicar, e hoje consigo viver do skate de uma forma divertida e sem cobranças", refletiu.

Rodil considera Rayssa Leal realmente um fenômeno que despontou muito cedo e que torce pelo ouro olímpico nos pés dela, mas também acredita muito no potencial do paulista medalhista de prata Kelvin Hoefler: "é o maior nome do skate brasileiro".

Candidato derrotado à presidência da CBSk, contestou o resultado na Justiça e teve ganho de causa na primeira instância, de uma batalha que ainda não terminou, já que a entidade recorreu da decisão.

"Vamos aguardar os desdobramentos para logo menos podemos assumir a CBSk e fazer um trabalho melhor", afirmou.

Confira outros trechos da entrevista exclusiva, feita em frente a entrada do galpão do Tampa Pro, onde Rodil conversou com o UOL sentado em seu skate com muita tranquilidade.

UOL - Qual a razão de você não ter mais participado de competições nacionais ou internacionais nos últimos anos? Como está sendo sua rotina atual?

Rodil - O skate foi um esporte que judiou muito do meu corpo, eu ando desde os 9 anos de idade numa intensidade olímpica, de alto rendimento, tenho muitas dores, limitações, não é algo que atrapalha na minha vida, mas algo que atrapalha na prática do skate. É por esse e outros motivos que eu resolvi dar um tempo no skate, uma segurada, porque eu também precisava também viver um pouco.

Quem você curte hoje no skate brasileiro?

O Kelvin Hoefler é o maior nome do nosso skate, um cara que teve uma conduta muito parecida com a minha vida, muito dedicado, focado, persistente, que abre mão de muita coisa para poder estar disputando esses pódios do skate, por tudo que ele já construiu, um menino que veio de baixo humilde e conquistou o mundo.

E a Rayssa Leal é um fenômeno, uma garota que despontou muito cedo, teve acompanhamento dos pais, que tiveram uma visão muito legal, mas foi o talento e a dedicação dela que construíram essa carreira.

Em sua opinião como está o skate brasileiro hoje, e o que falta para melhorar?

Eu te falo que o skate brasileiro foi melhor antes das Olimpíadas. Se comparar com 15 anos atrás era melhor distribuído. Tanto o cara que só andava na rua, como os outros que corriam campeonatos, e mesmo os intermediários, eles tinham aporte dos patrocinadores, de material de viagens, e hoje o skate está muito seleto, apenas poucos atletas têm esse aporte.

Então o skate olímpico favoreceu um nicho muito pequeno do skate brasileiro, mas deixou essa lacuna aberta do skate iniciante, amador e na verdade isso precisa de renovação, de mais incentivo.

Quem evoluiu mais, o park ou o street?

Ambos evoluíram, mas o skate street ficou complexo, virou um mix de manobras "combo" (combinações), entra rodando no corrimão, e sai rodando. Está muito complexo, o street tem evoluído mais do que o park.

Você tentou a disputa pela presidência da CBSk, como ficou tudo isso?

É um ponto bem delicado, mas tenho prazer em explicar. Nós tivemos pela primeira vez uma eleição com duas chapas concorrentes, a situação que já estava no poder e a minha chapa, buscando essa vitória. Infelizmente a gente não conseguiu, mas tivemos alguns problemas nessa eleição e regras que não foram cumpridas, e a gente se sentiu lesado, e buscamos na Justiça para que eles mostrassem o que precisaria ser mostrado.

Numa primeira instância nosso grupo ganhou, desmascarando todo esse lado obscuro da eleição onde o juiz pontuou que a única chapa que estava apta para disputar a eleição da CBSk foi a nossa.

A maior vitória foi mostrar que o skate precisa ser levado com seriedade e não é mais uma brincadeira, e nós sabemos que esse grupo que estava na direção, queria se manter no poder a qualquer custo, e conseguimos desmascarar e provar que eles estavam errados.

Foi uma grande vitória que saímos com a alma lavada e mostramos que nós estávamos aptos e eles não. Eu sou um cara que sempre colecionou títulos, e ao buscar um espaço na CBSk queria passar para frente esse conhecimento, mas não quiseram me ouvir, pelo contrário. Hoje a CBSk é uma composta de uma família que não deixa pessoas novas entrarem.

Outro ponto bem delicado também é que eu não concordo que uma pessoa que nunca tinha andado de skate na vida pudesse estar à frente da CBSk em um momento tão importante quanto as Olimpíadas.

Eles recorreram, vai para a segunda instância, para o Supremo provavelmente, mas assim, o principal de tudo foi mostrar que estávamos certos, e foi provado isso na primeira instância, e o desdobramento disso cabe agora à Justiça, para que logo menos possamos assumir a CBSk e acredito que possamos fazer um trabalho melhor.

Rodil Ferrugem ficou em segundo no Tampa Pro - Reprodução - Reprodução
O bicampeão mundial de skate Rodil Ferrugem que ficou em 2º no Tampa Pro
Imagem: Reprodução

E o que você planeja agora para o futuro?

Eu quero viver, estou vivendo uma aposentadoria muito massa, fui um cara inteligente na minha juventude, a melhor coisa é ter paz de espirito, você ter uma família que você ame, que ela te ame, eu vivo isso, sou um cara realizado e o meu futuro é melhorar ainda mais, do skate eu posso contribuir de outras formas, posso virar um técnico à frente de uma equipe, estou muito confortável na minha vida de aposentado (risos).

E o que faltou falar?

Que os pais deixem seus filhos andarem livremente, que não fiquem na cobrança, que talento muitos têm, mas poucos conseguem chegar lá em cima, e deixe seu filho curtir o skate e no momento que ele quiser levar com seriedade, daí entra o seu papel de levá-lo nos campeonatos, estar com ele, porque eu vejo os pais cobrando muito desde cedo e isso é prejudicial para a molecada que está se divertindo.