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Zanetti confia em pódio olímpico na despedida e lamenta não ter substituto

Arthur Zanetti na final das argolas em Tóquio 2020 - Reuters
Arthur Zanetti na final das argolas em Tóquio 2020 Imagem: Reuters

Colunista do UOL

28/03/2023 04h00

A medalha de prata dos Jogos do Rio ainda brilhava como nova quando Arthur Zanetti revelou o plano de se aposentar em 2020, depois das Olimpíadas de Tóquio. Quando o torneio chegou, e a pandemia também, o ginasta viu que poderia estender a carreira que, agora, está irremediavelmente perto do fim. Ele quer se despedir com uma terceira medalha olímpica, em Paris, quando terá 34 anos.

"A meta é sempre estar ali em cima. Eu não quero ir para Paris para participar das Olimpíadas, quero ir para disputar medalha. Eu quero uma medalha nos Jogos Olímpicos de Paris, é essa minha meta, isso que eu busco todo dia quando acordo", afirmou ele, ao Olhar Olímpico.

No grosso dos números, a meta é ousada. Primeiro porque Zanetti não ganha uma medalha em Mundial ou Olimpíada há mais de quatro anos. Segundo porque, aos 34, um ginasta já passou do auge há algum tempo. Daiane dos Santos parou aos 29. Diego Hypolito, exemplo de longevidade, se aposentou oficialmente aos 33, mas deixou de competir em alto nível dois anos antes.

Zanetti diz que tudo é possível quando se tem foco — e o dele é a medalha em Paris. "É tudo objetivo, meta. Lógico que na carreira de todo mundo, não só na ginastica, dentro ou fora do esporte, tem uma hora que enche o saco fazer aquilo todo dia. Mas uma coisa que a gente sempre foi forte foi meta, objetivo. Quando você coloca objetivo, mesmo no dia que não quer nada, mesmo no dia que está cansado, o treino daquele dia vai fazer diferença para chegar ao resultado final".

Sem triplo mortal

A final olímpica de Tóquio foi um marco na carreira de Arthur Zanetti. Figurinha carimbada nos pódios desde 2011, uma década antes, ele sabia que só conseguiria mais uma medalha se fosse para o tudo ou nada. Fazer o de sempre não bastaria. Ou acertaria uma saída em triplo mortal carpado, ou seria no máximo quarto colocado, o que acaba por ter o mesmo gosto de ser oitavo. Errou o elemento e terminou no último lugar entre os finalistas.

Um ano e meio depois, Zanetti analisa o novo código de pontuação, as apresentações dos rivais, seu próprio nível, e calcula que pode chegar a qualquer medalha fazendo, de novo, o que sempre fez. "Outros elementos do código mudaram de valor, o meu elemento [que leva o nome Zanetti, por ter sido criado por ele] ainda está com valor de dificuldade alto, então eu acredito que não vai ser necessário ir para o triplo. Se a gente fizer nossa série bem feitinha, a gente consegue estar na final. E, na final, dá para brigar."

Ele ficou fora do Mundial do ano passado devido ao que parece ter sido uma virose fortíssima, mas que não teve um diagnóstico fechado. Assistiu à competição pela TV e observou que, se tivesse ido a Liverpool e feito o que vinha fazendo nos treinos antes da doença, tinha boas chances de medalha. "Difícil falar se primeiro, segundo, terceiro ou ficar perto da medalha, mas pelas notas que a gente tirou no Pan no Rio, as chances eram boas."

Caminho até Paris

Para poder brigar por medalha em Paris, Zanetti precisa primeiro estar na Olimpíada. E isso passa pela classificação da equipe brasileira, que foi sétima colocada no Mundial do ano passado e, em 2023, precisa ficar entre as 12 primeiras — mais precisamente entre as nove mais bem colocadas, exceto Grã-Bretanha, Japão e China. O Brasil tem tudo para alcançar essa meta, mas o fracasso da equipe feminina no Mundial Pré-Olímpico de 2019 é uma sirene ligada o tempo todo.

Assim, muito mais do que medalha, o time brasileiro vai ao Mundial da Antuérpia (Bélgica) em busca de um resultado por equipes, e Zanetti está pronto para ajudar. No xadrez que é a montagem da equipe, ele se vê pronto para ajudar em duas frentes. Fazendo também apresentações seguras no solo e no salto, como já fez em outras oportunidades, ou competindo exclusivamente nas argolas.

"A Grã-Bretanha fez isso durante dois ciclos. Tinha um atleta que ia lá só para fazer cavalo. Só ele conseguia abrir quase 2 pontos e meio do segundo colocado. Pelos resultados que eu já tive nas argolas, eu ainda consigo tirar um pouco mais de nota. Mesmo eu fazendo um aparelho só, pode fazer diferença no final."

Sem substituto

Faltando menos de 500 dias para os Jogos de Paris, já não dá mais tempo de o Brasil formar um substituto para Zanetti nas argolas. Depois de duas medalhas olímpicas e quatro em Mundiais, o país não tem outro ginasta que brigue por finais neste aparelho.

"É a característica do país. O piores aparelhos são cavalo e argolas. A gente vê pelo Mundial do ano passado. Até passar esses aparelhos estava em segundo. A gente hoje tem excelentes atletas na barra fixa, melhorou bastante em paralelas e segue entre as melhores do mundo em solo e salto. Mas não tem ninguém ali para disputar comigo nas argolas. Fico chateado, queria mais um atleta de argolas, mas aí é de cada ginasta. Não pode obrigar um cara que tem dificuldades nas argolas a ser especialista."