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Olhar Olímpico

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Ana Marcela critica regra que abre maratona olímpica a nadadores de piscina

04.ago.2021 - Ana Marcela Cunha ganha medalha de ouro na maratona aquática - Jonne Roriz/COB
04.ago.2021 - Ana Marcela Cunha ganha medalha de ouro na maratona aquática Imagem: Jonne Roriz/COB

19/07/2022 11h31

Ao anunciar ontem (18) os critérios de classificação dos esportes aquáticos para os Jogos Olímpicos de Paris, a Federação Internacional de Natação (Fina) revelou que nadadores que se classificarem para disputar os 800m e os 1.500m livre nas provas de piscina terão também o direito de participar de outro esporte, as águas abertas, desde que respeitado o limite de dois atletas por país.

A postura gerou controvérsia e foi criticada por Ana Marcela Cunha, atual campeã olímpica da maratona aquática (a prova de 10km), que recentemente foi eleita para ser membro do Comitê de Atletas da Fina.

"Não concordo com o formato apresentado. Embora já eleita para fazer parte da Comissão de Atletas, este assunto já estava deliberado e não participamos da discussão. Embora divulgados hoje, os critérios já eram conhecidos por nós e vamos ter que lidar com isso", disse ela, em entrevista coletiva convocada pela Unisanta, clube dela.

A regra é tida como injusta porque classifica às águas abertas quem fizer índice na piscina, mas não o contrário. No Brasil, por exemplo, Viviane Jungblut tem tido ótimos resultados na natação de piscina (foi finalista dos 800m e dos 1.500m no Mundial) e, em tese, não precisaria sequer participar de seletivas para poder nadar a maratona aquática em Paris.

Já Ana Marcela, mesmo que vá ao pódio do Mundial de Fukuoka (Japão), no ano que vem, já carimbando passaporte para a Olimpíada, teria que buscar índice para competir nos 800m e nos 1.500m, algo que ela já não tem feito.

A novidade foi a solução apresentada pela Fina para reverter uma decisão do Comitê Olímpico Internacional (COI) que reduziu, de 50 para 44 (22 homens e 22 mulheres), o número de credenciais para atletas das águas abertas em Paris. Com a nova regra, a Fina consegue que mais atletas participem da maratona aquática, mesmo com o corte, porque a inscrição deles seria com credenciais da natação.

Na prova masculina, especialmente, os melhores fundistas da natação também têm tido sucesso nas águas abertas. No último Mundial, por exemplo, a maratona teve vitória do italiano Gregorio Paltrinieri (um ouro e um quarto lugar nas provas de fundo), bronze para o alemão Florian Wellbrock (prata e bronze no fundo), atual campeão olímpico, e o ucraniano Mykhailo Romanchuk (bronze e quinto lugar no fundo) em sexto.

Como a maratona aquática será depois da natação em Paris, outros fundistas podem se arriscar nas águas abertas na base do "não custa nada tentar". O americano Robert Finke, por exemplo, foi campeão dos 800m e dos 1.500m no Mundial e poderia se arriscar nas águas abertas, já que seu país não costuma conseguir classificar dois competidores.

No caso do Brasil, Guilherme Costa, que foi medalhista de bronze no Mundial nos 400m livre e se aproximou desse grupo de elite nas provas de fundo, fez sua estreia em provas internacionais de águas abertas no Mundial. Cansado pelo torneio longo, abandonou quando percebeu que não brigaria pelas primeiras posições, mas vai continuar competindo na modalidade.

O Brasil não teve representantes na prova masculina em Tóquio porque ninguém conseguiu se classificar. Como é improvável que o país consiga duas vagas em Paris a tendência é que Guilherme compita na França mesmo sem precisar passar por seletivas.