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Olhar Olímpico

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Natação divulga índices de Paris e dificulta caminho de brasileiros

Guilherme Costa no Troféu Brasil de Natação - Satiro Sodré/SSPress/CBDA
Guilherme Costa no Troféu Brasil de Natação Imagem: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

19/04/2022 10h57

A natação brasileira vai precisar melhorar muito na comparação com o estágio atual se quiser levar uma delegação expressiva para os Jogos de Paris. O comitê organizador e a Federação Internacional (Fina) divulgaram hoje (19) os índices necessários para a próxima Olimpíada, com tempos muito mais baixos do que os feitos no Troféu Brasil de duas semanas atrás.

Como de costume, são dois índices para cada prova. O "A", que permite dois atletas de um mesmo país naquela prova, e o "B", que só leva um nadador. Como referência, foram adotados os tempos dos 14º colocados da fase eliminatória da Olimpíada — acrescido 0,5% para aferir o índice B.

No Troféu Brasil, só dois brasileiros fizeram o índice A: Matheus Gonche nos 100m borboleta (ele fez 51s60 e o índice A é 51s67) e Fernando Scheffer nos 200m livre (ele fez 1min46s18 e o índice é 1min46s26). Bruno Fratus, medalhista de prata olímpico nos 50m livre, não nadou a seletiva porque estava previamente classificado para o Mundial de Budapeste, em junho — como comparação, dez atletas nadaram, no Troféu Brasil de 2017, abaixo do índice que viria a ser exigido para a Olimpíada de 2020.

A delegação para o Mundial deste ano, aliás, inflada, terá 30 nadadores, ainda que ninguém tenha feito, no Troféu Brasil, tempos expressivos, que o coloquem na briga por medalha. O tamanho do time foi comemorado pela CBDA, mas agora fica claro que a natação brasileira tem um problema e o Troféu Brasil foi fraco.

Nos 100m livre, por exemplo, ninguém nadou abaixo sequer do índice B olímpico. Nem o vencedor da prova masculina, Gabriel Santos, que fez 48s64 (ante 48s58 necessários). Nos 50m livre, Luiz Gustavo Borges até fez o que seria índice B (nadou para 22s00, sete centésimos abaixo), mas se Fratus fizer a marca 'A', outro brasileiro só terá vaga se também a fizer.

Em um passado recente, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) tinha duas seletivas para grandes competições, com os nadadores tendo quatro tomadas de tempo para fazer suas marcas, contando eliminatórias e finais. Mas na Rio-2016 essa facilidade de se fazer o índice foi vista como vilã da campanha brasileira e, desde então, o país passou a adotar a seletiva única. Vale só o tempo feito na final do Troféu Brasil, ainda que o COI aceite para inscrição a marca feita em outras competições pré-estabelecidas, como o Pan.

No feminino, há o risco de o Brasil não classificar ninguém a Paris. Se o Troféu Brasil passado fosse a seletiva, só Jhennifer Conceição, que bateu o recorde brasileiro dos 100m peito, e Stephanie Balduccini, nos 200m livre, fariam o índice B — e, no caso da peitista, cravado. Historicamente, a CBDA não aceita levar atletas pelo índice B, mas isso pode ser mudado para esta Olimpíada, se a confederação entender que esta é a única saída.

O problema é que mesmo os índices B são, hoje, improváveis. Nem nos 800m livre o Brasil conseguiria índice — Viviane Jungblut ficaria mais um segundo acima. Nos 50m livre, Lorrane Ferreira ficou a 23 centésimos. Nas outras provas a distância é ainda maior.

Mesmo entre os homens, onde a natação brasileira é mais forte, os índices podem ser poucos. Pelo último Troféu Brasil, o Brasil só conseguiria vagas com Scheffer, Matheus, Luiz Gustavo e Guilherme Costa (nos 800m, com índice B). Em provas tradicionais como os 100m peitos e 100m costas, os vencedores do campeonato nacional passaram longe do que hoje é o índice mais fraco.

A via de escape para o Brasil poderá ser os revezamentos. Serão 12 vagas por prova em jogo no Mundial de 2023, no Japão, e o Brasil tem boas chances de conseguir classificar ao menos cinco dos sete revezamentos. Outras quatro vagas virão pelo ranking mundial. Os convocados, caso tenham feito índice em qualquer evento aceito pela Fina, poderão competir nessas provas individuais em Paris.