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Olhar Olímpico

REPORTAGEM

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Irmão de Esquiva troca boxe por design de unhas e bomba no Instagram

Thomaz Edson Falcão - Divulgação
Thomaz Edson Falcão Imagem: Divulgação

14/04/2022 04h00

Thomaz Edson Falcão virou figurinha nos grupos de Whatsapp do pessoal do futebol e da galera do boxe, dois redutos de masculinidade, onde vira e mexe imagens dele trabalhando são usadas em tom de ironia. Ele não liga. Ex-jogador de futebol, ex-lutador da seleção brasileira de boxe e várias vezes técnico dos seus irmãos Esquiva e Yamaguchi, Thomaz Edson, afinal, está realizado como designer de unhas.

"Eu não sofro por causa dessas críticas, ignoro total. Hoje sou um instrutor de design, dou palestras, tenho agenda cheia, mesmo atendendo pouquíssimas clientes. E de vez em quando, claro, ajudo no treino de um irmão. Nem teria como tirar o boxe de mim, ele está na veia. Mas hoje em dia é só como hobby", conta ele, que, naturalmente, teve o nome inspirado no homônimo tido como um dos maiores inventores da história.

O Thomaz Edson capixaba pode não ser tão famoso quanto o falecido cientista norte-americano, mas já superou a marca de 60 mil seguidores só no Instagram, o que faz dele um dos maiores influenciadores do país quando o assunto é unhas. Algo impensável para quem, 15 anos atrás, escondia as dele debaixo de chuteiras e luvas.

"Quando eu fui para São Paulo, era para fazer teste no São Caetano. Eu jogava no Rio Branco, cheguei a jogar no júnior da Desportiva, e como já tinha o Esquiva e o Yamaguchi lá, eu fiquei hospedado no alojamento da seleção de boxe. Para manter a forma, fiquei fazendo treino com a seleção até o dia do teste. Mas o treinador gostou, disse que eu era superior ao cara que estava lá, e me convidou para ficar na seleção", lembra Thomaz.

O hoje designer de unhas começou a lutar boxe quando tinha 8 anos, incentivado pelo pai, Touro Moreno, que formou cinco dos seis filhos homens na nobre arte —o caçula Elielson joga futebol e faz parte do time júnior da Desportiva Ferroviária. Quando Thomaz aceitou o convite para se juntar à seleção permanente, o time nacional passou a ter três irmãos Falcão, em categorias de peso consecutivas: Esquiva, Yamaguchi e Thomaz. Foram dois anos assim, até o mais pesado se machucar.

"Eu estourei o ligamento do ombro esquerdo no Campeonato Brasileiro de 2010. Como precisa de atletas 100%, eu já virei carta fora do baralho. Até recuperar novamente o ritmo, foram dois anos. Quando voltei, fiz lutas amadoras e entrei no Brasileiro de 2014, mas estourei novamente o ombro. Ali vi que não dava mais, aquilo me frustrou bastante", relembra o ex-boxeador, que acabou abrindo caminho para os irmãos subirem de peso e serem medalhistas em Londres-2012 (Yamaguchi bronze no meio-pesado e Esquiva prata no médio).

Mas Thomaz não queria largar o boxe e a solução foi virar treinador. Começou a dar aulas em academias no Espírito Santo, fazer treinos com os irmãos Esquiva e Yamaguchi, e chegou a ficar no córner deles em lutas profissionais. Até que, em 2017, quando ambos foram aos Estados Unidos para se prepararem para lutas, Thomaz teve o visto negado.

"Eu não estava a fim de dar treino em academia mais, estava na vibe de alta performance. Treinar pessoa de academia que não quer ser atleta passou a ser difícil para mim. Nesse meio tempo, conheci minha esposa, e a filha dela, que estava fazendo cursos de design de unhas. Comecei a observar um pouco mais, comecei a acompanhar o processo dela, aprender com ela. Até que chegou um dia que eu pedi para ela para fazer uma aplicação na mão dela", conta. Ali, Thomaz descobriu que tinha um talento.

De treinador de boxe, passou para um mercado muito diferente, de designer de unhas, no qual as mulheres são ampla maioria. "Eu pensava: vou ser criticado, as meninas vão achar que sou gay, pode ser que eu tenha rejeição, e foi totalmente o contrário. Por isso tive uma ascensão maior na profissão. Por acharem diferente, mas de um lado bom, não ruim", avalia.

O sucesso no Instagram começou quando Thomaz começou a gravar vídeos de humor em cenas típicas de salões de beleza, sempre usando peruca. Os vídeos bombaram na rede social, e o ex-lutador, que já vinha trabalhando como instrutor, virou também influencer. No Instagram, contabiliza que já "destravou" duas mil alunas.

A agenda dele é concorrida. Unhas mesmo, hoje em dia ele faz poucas —cobra R$ 280 pela aplicação (prolongamento da unha com gel) e R$ 160 pela manutenção. Durante boa parte do tempo, passa adiante o conhecimento adquirido ao longo não só dos quatro anos em que trabalha com unhas, mas também do que aprendeu no futebol, no boxe e na vida. Suas palestras são concorridas, e costumam encher (dica: as próximas são dia 24 de abril em Curitiba e 16 de maio em São Paulo).