Topo

Olhar Olímpico

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Handebol amplia espaço de árbitro acusado de racismo

Zaine Roberto, árbitro de handebol - Divulgação/CBHb
Zaine Roberto, árbitro de handebol Imagem: Divulgação/CBHb

24/03/2022 04h00

Afastado do quadro nacional de árbitros de handebol em setembro depois de ser gravado fazendo comentários racistas contra um treinador e pejorativos sobre jovens jogadoras, Zaine Roberto de Souza Marques não só já voltou a apitar partidas de categorias de base femininas como foi convidado para um curso da federação internacional da modalidade. Ele também foi escalado para trabalhar no Campeonato Centro-Sul-Americano Júnior Feminino, que começou ontem (22) em Buenos Aires.

As falas que geraram ampla repercussão foram proferidas durante o Brasileiro Feminino Júnior no ano passado. Zaine e o também árbitro Adriano Alves Rocha tinham um canal no YouTube em que transmitiam partidas de handebol. No jogo entre Centro Olímpico e Araraquara, foi possível ouvir um deles dizendo sobre o técnico da equipe do interior, que é negro: "Seboso, cara de bêbado, mal vestido. Parecia uma moça jogando" —a fala foi atribuída a Zaine, que está sendo processado por injúria racial.

Em determinado momento do vídeo, é dito sobre uma atleta menor de idade: "essa está gostosinha, que delícia". Falando sobre as atletas do Centro Olímpico, equipe ligada à Prefeitura de São Paulo, um deles afirma: "elas eram magrinhas, mas engordaram na pandemia". Em ambos os casos, Zaine é acusado.

Os árbitros foram denunciados ao STJD do handebol, que anunciou, no fim de outubro, uma suspensão de 120 dias para Zaine, e de 60 dias para Adriano. Os dois foram inocentados da acusação de "praticar ato discriminatório", sendo punidos apenas por "assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva".

Como eles já estavam afastados previamente há mais de um mês, os dois puderam, imediatamente, voltar ao quadro de árbitros da confederação. Ontem (22), a entidade postou foto de Zaine, no Instagram, para contar que ele estava na Argentina para um curso da federação internacional. Diante de ampla repercussão negativa entre atletas e fãs de handebol, a confederação bloqueou os comentários da postagem.

Procurada, a CBHb justificou que manteve os árbitros em seu quadro porque eles cumpriram a pena estipulada pelo STJD. "Não cabe à CBHb, uma vez cumprida a pena imposta pela Justiça, adotar práticas de intolerância, exceção e perseguição contra quem quer que seja", explicou a confederação. "É também importante esclarecer que a pena possui um caráter punitivo, mas também pedagógico e restaurador", continuou a entidade, sobre a suspensão de 30 dias.

"Sobre o bloqueio dos comentários nas redes sociais, o mesmo foi necessário porque os comentários estavam saindo do campo da crítica institucional, para ofensas no campo pessoal, inclusive ao outro árbitro que em nada tem relação com o fato", justificou.

Advogada de Zaine, Renata Milczarek Procopiuk disse que "a pena imposta já foi integralmente cumprida. Não há quaisquer recursos pendentes, portanto inexiste qualquer impedimento para que ele retome suas atividades profissionais".