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Olhar Olímpico

REPORTAGEM

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Doria anuncia ciclovia na Bandeirantes sem consultar ciclistas

Projeto do governo de SP prevê ciclovia em em trechos do canteiro central e do gramado lateral - Reprodução/ARTESP
Projeto do governo de SP prevê ciclovia em em trechos do canteiro central e do gramado lateral Imagem: Reprodução/ARTESP

O órgão consultivo do governo de São Paulo para políticas públicas de ciclismo não foi consultado pela gestão estadual sobre a ideia de se construir uma ciclovia de 57 quilômetros na Rodovia dos Bandeirantes, entre São Paulo e Itupeva. A obra foi anunciada ontem (9) pela gestão João Doria (PSDB), mas foi discutida durante cerca de duas horas da reunião mensal do Ciclo Comitê Paulista, realizada na terça-feira (8).

Representantes da sociedade civil no órgão, que tem caráter consultivo, não deliberativo (o que significa que a obra não precisa de aval técnico do Ciclo Comitê), dizem que ficaram sabendo da ciclovia de R$ 220 milhões pela imprensa. O projeto também não foi submetido à análise técnica dos órgãos responsáveis, de acordo com o governo.

"A gente deveria estar discutindo não só Ciclovia da Bandeirantes, mas um plano cicloviário do estado. Essa ciclovia vai ser instalada no canteiro central e vai ter poucos acessos, para redução de custo, porque tem menos intervenção de acessos. Ela vai chegar no Serra Azul, que é para fomentar aquela região, que é um distrito turístico. Tem um interesse", avalia William Amaral, um dos representantes dos ciclistas no Ciclo Comitê.

Respondendo questão enviada à Secretaria de Comunicação do governo, a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) confirmou que o projeto não foi apresentado ao Ciclo Comitê e explicou que o plano ainda será submetido "à avaliação e a análises técnicas" da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, do Departamento de Estradas e Rodagem (DER), da Secretaria de Logística e Transporte e da própria Artesp.

"Essas etapas preveem, simultaneamente, a apresentação e discussão das melhorias junto a lideranças dos ciclistas e ativistas do ciclismo, entre eles, os membros do Ciclo Comitê Paulista, formado por representantes de órgãos públicos e da sociedade civil", respondeu a Artesp.

A ciclovia, pelo pouco que divulgou o governo do Estado, vai sair de São Paulo e terminará no Distrito Turístico Serra Azul, que envolve as cidades de Jundiaí, Itupeva, Vinhedo e Loureira, e é conhecido principalmente pelos parques Hopi Hari e Wet'n Wild. No local também existe um shopping outlet, entre outros atrativos. Ela ficará no canteiro central da rodovia, o significa que, assim como acontece na ciclovia da Marginal Pinheiros, por exemplo, só poderá ser acessada em poucos pontos.

Em vídeo publicado em suas redes sociais, o governador Doria disse que a obra ficará pronta até setembro do ano que vem, escrevendo que a ciclovia terá "custo zero para os cofres públicos" e que será "patrocinada" pela concessionária CCR. Procurada, a empresa afirmou que não haverá nenhuma contrapartida extra do estado pela ciclovia.

Os representantes da sociedade civil no Ciclo Comitê reclamam que Doria tem ignorado os interesses dos ciclistas ao anunciar os planos para este esporte. "A CCR fez a Rota das Frutas e a Rota das Flores, mas não tem nada benéfico para os ciclistas. Só tem plaquinhas da CRR falando: 'Você está no quilômetro 2", "você está no quilômetro 3". Não tem sinalização, itens de segurança, nada. O governo não debateu com a sociedade", reclama Wanderley Gonzales, ex-ciclista profissional e também membro do Ciclo Comitê.

Diversos cicloativistas têm recomendado que pessoas sem experiência para pedalar em estradas não frequentem a Rota das Frutas, entre Jundiaí, Louveira, Vinhedo e Itatiba, e a Rota das Flores, em Holambra.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado inicialmente, a reunião mensal do Ciclo Comitê Paulista foi realizada na terça-feira (8). O erro foi corrigido.