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Olhar Olímpico

Olimpíada de 2021 quer ser igual à de 2020, mas em um mundo diferente

Painel ilustra adiamento dos Jogos de Tóquio para 2021 - DADO RUVIC
Painel ilustra adiamento dos Jogos de Tóquio para 2021 Imagem: DADO RUVIC

30/03/2020 14h17

Atendidos os interesses comerciais do Comitê Olímpico Internacional (COI), os Jogos Olímpicos de Tóquio vão acontecer exatamente nas mesmas datas previstas para 2020, começando na quarta sexta-feira de julho (dia 24 em 2020, 23 em 2021) e seguindo até o segundo domingo de agosto. Em tese, nada muda. Exceto toda a transformação pela qual o mundo passará nos próximos 480 dias.

Apesar das demonstrações de distanciamento da realidade dadas pelo COI e pelo Comitê Organizador ao demorarem em aceitar discutir o adiamento da Olimpíada, ambos sabem que o novo coronavírus impõe um enorme desafio à humanidade. O mundo não será o mesmo quando formos autorizados a voltar a sair de casa para almoçar, correr no parque, visitar nossos avós. Poderemos voltar a abraçá-los sem álcool gel? Já haverá uma vacina eficaz? Ela estará disponível para todos os atletas? Não sabemos.

É nesse futuro incerto que a Olimpíada de Tóquio irá acontecer mantendo o planejamento previsto, dentro do possível. O primeiro passo foi não criar conflitos com o calendário internacional. Com duas exceções importantes - a Volta da França e a Euro Feminina -, a Olimpíada começando em 23 de julho não deve prejudicar federações internacionais, nem abrir mão de contar com os melhores do mundo. Quem ainda não definiu seu calendário para 2021 (tênis, NBA) irá fazê-lo já sabendo dos interesses do COI e de seus patrocinadores.

O desafio é fazer com que tudo saia, em 2021, como o programado para 2020. Os mesmos ginásios, os mesmos estádios (vem aí uma complexa negociação com os proprietários desses espaços, que já os haviam alugado para outros eventos), os mesmos hotéis (idem), as mesmas provas, os mesmos atletas (os já classificados), na mesma janela de programação das tevês.

Até o mesmo problema: as altas temperaturas do verão em Tóquio, que fez o COI, abruptamente anunciasse em outubro que as provas de maratona e marcha atlética não seriam na cidade-sede e sim em Sapporo, mais ao norte e menos quente. Ao manter a Olimpíada em julho, essas disputas continuam distantes de Tóquio, para descontentamento dos atletas.

O COI parece tentar fazer o que pode para encaixotar a Olimpíada de 2020 e tentar remontá-la igualzinha em 2021, aconteça o que acontecer. É provável que esse pacote não se encaixe nas condições que a humanidade estiver em 2021, e essa dificuldade deverá ser o grande apelo da próxima edição dos Jogos.

Porque deverão ficar nítidas as mudanças e adaptações impostas pela nova ordem mundial, a pós-Covid-19. Se não for possível lotar as arquibancadas, alternando cadeiras vazias e ocupadas, isso ficará claro para todo o mundo. Do contrário, se não existirem restrições, imagens de habitantes de diversas partes da Terra se abraçando também chegarão à rede social mais próxima. Patrocinadores sabem que a próxima Olimpíada será a de maior apelo em muito tempo, talvez na história, porque poderá ser vendida como a Olimpíada da reconstrução, do recomeço.

Será uma Olimpíada diferente, mas só a possibilidade de imaginá-la começando, mesmo que daqui a distantes quase 500 dias, já pode servir como uma luz no fim do túnel para milhões de pessoas. Até lá essa luz ficar mais nítida, fiquemos em casa.