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COB contrata agência para gerenciar crise por R$ 25 mil ao mês

Paulo Wanderley, novo presidente do COB - Divulgação/COB
Paulo Wanderley, novo presidente do COB Imagem: Divulgação/COB

19/02/2020 12h14Atualizada em 20/02/2020 14h52

O Comitê Olímpico do Brasil (COB) está em crise. A entidade reconheceu a mancha na sua imagem causada por contratos firmados com pessoas próximas a um gerente e, na tentativa de reverter o cenário, contratou uma agência de gerenciamento de crises. Mas optou por não informar inicialmente detalhes sobre o acordo, válido até o final do mandato de Paulo Wanderley, que é candidato à reeleição. O contrato é de R$ 25 mil ao mês.

Todos os processos de compra do COB estão em uma única página na internet, acessível de qualquer computador. Ali aparecem todas as contratações feitas pelo comitê, das maiores às menores, como a compra de um carpete para a Casa Brasil em Tóquio. Quando a reportagem foi publicada, não havia qualquer contratação de agência de comunicação.

A ausência de um processo transparente de contratação da Press FC pode ser explicada pelo não uso de recursos da Lei Agnelo/Piva e, sim, de dinheiro privado, conseguido junto aos seus poucos patrocinadores. Neste caso, não há exigência legal de publicidade ou mesmo de licitação. O COB respondeu aos questionamentos da reportagem com uma nota, enviada após a publicação original.

"Ao contrário do que diz o texto, a contratação da agência Press FC para auxiliar o COB no processo de comunicação corporativa foi feita após a consulta e recebimento de quatro orçamentos de empresas especializadas, conforme recomenda o Manual de Compras da entidade. Quanto ao departamento de comunicação, este conta com nove funcionários, sendo cinco jornalistas", diz a nota.

A Press FC é uma empresa especializada em futebol e é comandada por Fernando Mello, que já foi assessor da MSI de Kia Joorabchian, do Clube dos Treze e do Palmeiras. Na crise de 2015 da CBF, em meio ao Fifagate, ele também foi contratado para gerenciar crise. Mello também é o atual vice-presidente de comunicação da Federação Paulista de Futebol (FBF), filiada à CBF, que, por usa vez, é filiada ao COB.

Em 2019, Fernando Mello surgiu novamente em meio a uma crise, desta vez para tentar limpar a imagem do Cruzeiro diante dos escândalos envolvendo a gestão de Wagner Pires de Sá. Nada feito, no entanto. Sufocado pelas denúncias, o mandatário renunciou ao poder em dezembro passado em meio a investigações policiais.

A chegada da Press FC ao COB, a cinco meses dos Jogos Olímpicos, coincide também com momento em que a diretora de Comunicação, Manoela Penna, pessoa de confiança de Paulo Wanderley desde os tempos do judô, está afastada do comitê, em licença maternidade. Sob a chefia dela já atuam nove assessores, em diferentes cargos, inclusive uma com função específica de cuidar da imagem do comitê perante à imprensa.

A crise no COB teve início em novembro, quando Paulo Wanderley tentou alterar o estatuto do comitê, ação que facilitando sua reeleição e dificultaria investigações e punições por parte do Comitê de Ética. Ao mesmo tempo, o Olhar Olímpico publicava reportagem mostrando que uma auditoria independente, contratada após uma série de denúncias anônimas, encontrou um esquema de contratações irregulares na área de TI, de empresas e pessoas ligadas ao gerente Leonardo Rosário.

Na última segunda, o blog publicou entrevista com a ex-esposa de Rosário, que afirma que ele tinha uma relação "extraprofissional" com Paulo Wanderley, encontrando o presidente do COB fora do horário de trabalho. Tanto Rosário quanto Paulo Wanderley são de Vitória (ES). A auditoria não investigou o dirigente.

Errata: este conteúdo foi atualizado
O texto inicialmente falava em sete membros do departamento de comunicação do COB. O número correto é nove. A informação foi corrigida.