Por que calam os que calam sobre Daniel Alves?

Não faz muito tempo Robinho estava sendo paparicado em um programa de TV.

Já condenado por estupro e já foragido da justiça italiana, ele era apresentado em imagens e louvações por seus dribles maravilhosos.

Entre vírgulas, algumas ressalvas foram feitas e o caso do estupro foi ligeiramente citado.

Mas, apesar do crime, que jogador ele foi, diziam os comentaristas.

Esse tipo de situação carrega violências imensas.

Ser mulher, gostar de futebol e ter que escutar homens enaltecendo um estuprador nos faz questionar se devemos seguir assistindo e trabalhando com o jogo.

Recentemente, Diego Ribas foi visitar o amigão Robinho na praia. Fotos, sorrisos, mimos.

Depois, Diego foi comentar a Copa nos canais Globo.

Só festa e elogios para o meia.

O pacto da masculinidade é coisa séria demais.

Nem Tite, nem os supercristãos Kaká e Pedrinho, nem o megaempresário Ronaldo, nem o falante goleiro Marcos, nem a CBF até agora se dignaram a comentar o caso do jogador que, segundo o ex-treinador da seleção, "transcende o futebol".

O que será preciso acontecer para que esse grupo de notáveis se manifeste?

Casagrande é o cara que coloca o rosto a tapa e fala abertamente sobre todo esse estado miserável de coisas.

Seu último texto é mais uma gota de decência e de coragem nesse oceano de amor e respeito que ele fez nascer.

Robinho foi flagrado em áudios comentando sobre o estupro com amigos, dizendo que sabia que não iria ser pego porque havia "esporrado na boca" da mulher inconsciente e que, portanto, não haveria provas contra ele.

Vocês entendem a violência e a delinquência dessa colocação?

Seguiriam sendo amigos de alguém que comete essa atrocidade, como Diego Ribas?

O que os levaria a manter a amizade?

Apenas a naturalização desse tipo de barbárie justificaria a manutenção de amizade com alguém que ejacula na boca de uma mulher inconsciente e se gaba do feito.

Quem naturaliza estupro pode trabalhar com o público?

Quem tira foto sorridente ao lado de estuprador deve ser poupado de críticas?

Eu diria que não porque quem dialoga doce e publicamente com estuprador está colaborando com a cultura do estupro.

Não há dribles no mundo, nem conquistas, que justifiquem alguém assim seguir sendo paparicado, enaltecido e louvado por suas habilidades esportivas.

A verdade sobre o silêncio grotesco dos craques e de outros nesse meio futebolístico é uma só: muitos dos que calam, calam porque já fizeram coisas parecidas.

A qualquer momento pode vir à tona uma acusação contra eles, então é melhor ficar aqui quietinho e esquecidinho e deixar essa onda passar.

Mas dessa vez o silêncio não vai significar ausência de comunicação. Dessa vez, o silêncio grita.

Sabemos por que calam assim como vocês sabem exatamente o que fizeram em verões passados.

O mundo está girando e essa roda não anda para trás.

Como disse o subcomandante zapatista Marcos: desculpem-nos o transtorno, mas isso aqui é uma revolução.