Milly Lacombe

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Botafogo é só mais um que coloca no chão a teoria conspiratória de Textor

Dois mil e vinte e três foi um ano de tragédia para o botafoguense e para a botafoguense. Tragédia no maior sentido da expressão: ápice e queda. Gozo e fracasso. O ponto mais alto seguido do ponto mais baixo. Por que continuar assistindo aos jogos semana após semana? Vou desistir desse time. Eles não me amam como eu os amo. Não vale a pena tanto sofrimento. Chega. Deu. Tô fora.

Esse torcedor e essa torcedora, sejam eles quem forem, já estão de volta, devidamente tresloucados de paixão.

O Botafogo foi maior e melhor do que o arquirrival rubro-negro em campo pela quarta rodada do Brasileirão. Fez 2 a 0 com muita moral sobre um dos melhores times do continente. O Botafogo foi imenso.

E a torcida ficou maluca por todos os cantos do país.

É assim o futebol. O desempenho do poderoso Flamengo foi muito abaixo da média? Digamos que muito. A inteligência artificial de Textor, que sabe tanto de futebol quanto eu de física nuclear, deve estar intrigadíssima nessa segunda-feira. Quem são esses humanos que num dia estão por cima e no outro estão por baixo? Espécie estranha, cheia de sentimentos e contradições. O futebol dá um chapéu e depois uma caneta nessa tal de IA. Não tem como decifrar objetivamente um jogo travado no interior das nossas subjetividades, das nossas aflições, dos nossos traumas, dos nossos medos, dos nossos desejos, dos nossos sonhos e das nossas glórias.

Mas olhem que curioso: o CEO do Botafogo, na vitória, não acha nada estranho. É só quando o time dele perde que ele sai arrumando desculpas e culpados para o lado de fora do muro. Quando ganha, nada mais natural. Vamos beber e festejar.

Textor não conhece a alma desse jogo. Quem sabe o que é o futebol é o seu Antonio e a dona Olga, que há cinquenta anos choram e vibram pelo time da estrela solitária lá de Santa Cruz, ou de Madureira, ou de Bangu. São esses que entendem que há dias bons e dias ruins. Dias de glória e dias de tragédia. Dias de Sol e dias de uma garoa fina que parece que jamais passará.

E que tudo é importante: a dor e a alegria têm o mesmo peso, a mesma fundamentalidade.

Só quem foi ao chão com a tragédia de 2023 pôde, nesse domingo de céu azul, alcançar o paraíso com a vitória sobre o Flamengo. É o preço que pagamos. E, francamente, tá valendo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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