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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Saul Klein: quando o futebol se alia ao inominável

Saul Klein (em foto de 2012) vai assumir o controle acionário da Ferroviária S.A. - Leticia Moreira/ Folhapress
Saul Klein (em foto de 2012) vai assumir o controle acionário da Ferroviária S.A. Imagem: Leticia Moreira/ Folhapress

Colunista do UOL

25/03/2022 13h58

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Saul Klein, sócio majoritário da tradicional Ferroviária de Araraquara, é formalmente acusado por crimes de violências sexuais que incluem estupros, lacerações nas partes íntimas, cárcere privado e transmissão de doenças venéreas. As acusações foram apresentadas há mais de dois anos e ainda assim o acusado permaneceu como sócio majoritário da instituição e, de acordo com o depoimento de muitos, ligado à gestão do time.

Desde que as acusações se tornaram públicas a intenção de Saul e de seus parceiros foi a de teatralizar o afastamento do cargo, o que nunca aconteceu de fato porque, evidentemente, acusações como essas não justificam o afastamento real, apenas pedem que os envolvidos hajam como se um afastamento fosse acontecer.

O futebol não se cansa de compactuar com o abominável. Nem mesmo quando 14 mulheres relatam em detalhes apavorantes o que Saul fazia com elas. Na verdade a voz de uma única mulher não basta em casos de violência sexual quando o acusado é um homem branco e poderoso. É preciso que muitas vozes contem uma mesma história de horror para que alguma coisa seja feita - ou para que alguma coisa seja teatralizada.

O futebol não se cansa de compactuar com o inominável. Estamos aceitando alegremente que uma Copa do Mundo seja realizada dentro de uma ditadura que não respeita os direitos civis mais básicos como, obviamente, qualquer ditadura. Mas sobre isso pouco se fala. Houvesse alguma decência, a Copa não poderia ser realizada no Catar.

Vozes se unem celebrando a punição da FIFA à Russia sem sequer pensar sobre o que está acontecendo de fato. É um teatro macabro e um jogo de tanta potência como é o futebol não poderia estar associado a interesses abomináveis.

Homens como Saul Klein mandam no mundo e no futebol. Vai ser preciso destituí-los do poder para que a gente transforme alguma coisa. Cairão todos. Um por vez. Mas a luta ainda é longa.