Milly Lacombe

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OpiniãoEsporte

Permitam-me passar um pano para Abel Ferreira

Em semana demolidora para ídolos no futebol, o treinador palmeirense vai para as manchetes por ter assinado um pré-contrato das arábias no final da temporada passada e supostamente sem avisar seu contratante. Chovem críticas ao ato, comparado agora a Gabigol ter usado a camisa (lindíssima, aliás) do Corinthians em momento privado.

Eu acho que não há comparação entre os dois episódios, e explico.

Abel estava concluindo mais um ciclo vitorioso no Palmeiras quando assinou o pré-contrato. Não sairia como saiu o ex-botafoguense Luis Castro, no meio de um trabalho. Abel vinha dizendo que estava cansado do calendário, que queria dar um tempo, que estava enfadado. Ele nunca escondeu que estava no limite. Abel é treinador e, ao contrário de jogadores, sabe que pode perder o emprego da noite para o dia, a depender de sua eficiência. Clausulas de multas existem justamente para serem acionadas: o não cumprimento é parte do jogo.

Abel não foi embora; ele ficou. Ele optou por seguir.

Fora isso, Abel nunca desrespeitou o Palmeiras, como fez Gabriel com o Flamengo e com sua torcida. Abel e sua presidente têm uma relação sólida. Leila Pereira agiu para manter o treinador no cargo. Outra vez, mérito dela ter segurado um ídolo.

A idolatria no futebol normalmente pesa mais para a torcida. Para os envolvidos, por mais que haja amor e respeito, trata-se de um negócio.

Eu sinceramente não vejo traição nos movimentos de Abel. Podemos argumentar que ele não foi totalmente honesto porque deixou de revelar o pré-contrato; mas acho que seria ingênuo fazer uso desse argumento. O futebol e seus atores são hoje, mais do que nunca, um negócio. Não se revela tudo o que acontece nos bastidores pelo mesmo motivo que não sabemos tudo o que contém a salsicha. É um mundo cínico esse em que vivemos? Sem dúvida. Mas se as vísceras do futebol forem escancaradas, todos aqui saem correndo.

Isso não quer dizer que não devamos apurar tudo sobre, por exemplo, o absurdo revelado pela coluna do colega Juca Kfouri de que houve um laranja nas negociações do novo patrocínio do Corinthians. Aí já estamos no ambiente do grotesco - e do crime. Trata-se de um escândalo e de uma aberração ética, moral, política, esportiva e cognitiva. Já em relação a Abel e seu pré-contrato, ou mesmo a Gabriel e a camisa do Timão, tem sim espaço para debates e triangulação de ideias.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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