Topo

Coluna

Campo Livre


Campo Livre

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Estreia do Uruguai mostra defeitos de um trabalho ainda no início

Luis Suárez em ação pelo Uruguai durante partida contra a Coreia do Sul na Copa do Mundo - Ryan Pierse/Getty Images
Luis Suárez em ação pelo Uruguai durante partida contra a Coreia do Sul na Copa do Mundo Imagem: Ryan Pierse/Getty Images

Gabriel Perecini

24/11/2022 12h22

Empatando e sem jogar um grande futebol: assim foi a estreia do Uruguai na Copa do Mundo de 2022. O 10º jogo de Diego Alonso marcou a pior atuação da Celeste nesse período - pior, inclusive, que a derrota contra o Irã, na última Data FIFA. Sem conseguir construir desde a defesa, lembrou alguns momentos de previsibilidade que estagnaram a seleção em anos recentes. O lado positivo ficou por conta do sistema defensivo, novamente seguro e sem ser vazado (oitava vez em dez partidas nessa nova era).

Na escalação inicial, o 4-1-4-1 esperado, conforme analisamos aqui no UOL Esporte (clique aqui para ver), mas com três novidades: Godín, capitão, ganhou a disputa de Coates na defesa. Na lateral-direita, Cáceres foi o escolhido. O veterano se assemelha mais ao estilo do titular Ronald Araújo, que não atuou por contusão. No meio, uma inversão: Bentancur ficou à frente da zaga e Vecino atuou mais avançado.

Os primeiros 15 minutos foram de domínio coreano, que começou com a bola e agrediu um Uruguai marcando em bloco médio. Quando perdia a bola, era muito agressivo na pressão e não deixava espaços para os contra-ataques uruguaios. Nesse período, a solidez defensiva foi figura. Darwín fechava pela esquerda e auxiliava Olivera no lado mais ativo da Coreia do Sul. Pela direita, Pellistri e Cáceres também estavam em sintonia.

A partir dos 20 minutos, a Celeste conseguiu ficar mais com a bola. E aí apareceram dois problemas. O primeiro deles era a previsibilidade na saída curta. Apesar de algumas variações, ora com o trio Cáceres, Godín e Giménez, ora com Bentancur se colocando no meio dos zagueiros, havia dificuldade para progredir. Com os lados fechados, faltou ao Uruguai aproximar os setores para tentar progredir ou gerar espaços pelos lados. Suárez e Darwín ficavam muito distantes da bola, sem aproximação com o meio de campo. O segundo problema foi a exposição dos laterais. Pela direita, Cáceres ficou duas vezes no mano a mano com Son, com Pellistri atrasado. Pela esquerda, quando o Uruguai alternava para o 4-4-2, Darwín deixava Vecino para auxiliar Olivera. E essa troca gerou confusão - e espaços - mais de uma vez, incluindo na melhor chance coreana na partida. Ajustes pontuais de um ainda início de trabalho.

Como alento no primeiro tempo, também dois fatores: a pressão pós-perda que aconteceu por cerca de 15 minutos e foi importante para a superioridade uruguaia no meio do primeiro tempo. Além disso, as inversões em diagonal, especialmente de Giménez para Pellistri, geraram uma boa alternativa na saída de bola.

No segundo tempo, Vecino e Valverde tentaram se aproximar mais de Bentancur na saída de bola, mas a lentidão e a distância para os jogadores mais avançados seguiam impedindo o Uruguai de construir. Darwín Núñez, em dia infeliz, se juntava muito a Luis Suárez (que depois deu lugar a Cavani), mas faltava alguém para conectar esses setores. Por isso, vimos um filme repetido no Uruguai de alguns anos para cá: bolas esticadas em excesso, sem muito critério, e tentativas de escapadas em contra-ataque. Quando a jogada chegava nas pontas, não houve ultrapassagens ou aproximações para construir, dificultando para quem tinha a bola.

No fim, buscando a vitória, a Celeste assumiu o 4-4-2, com Nico de La Cruz na vaga de Vecino. O jogador do River Plate abria o corredor para Viña, que entrou na vaga de Mathias Olivera, e tentava ser esse nome para ligar meio e ataque, mas participou pouco do jogo. Com o meio congestionado, faltou mais aproximação pelos lados e infiltração dos meio-campistas.

As duas bolas na trave, uma em cada tempo, não significam que o Uruguai esteve mais perto da vitória. O time sofreu contra a pressão pós-perda da Coreia do Sul e contra um adversário postado, esperando. Os jogos amistosos, com muitos testes, e do fim das Eliminatórias não ofereceram desafios como os que a Copa do Mundo oferece. E a mudança de estilo da Era Tabárez para o que pretende Diego Alonso ainda não está completa. As ideias existem, mas em 10 jogos o time ainda não conseguiu alternativas para quando a ideia inicial não funcionar.

O empate deve exigir que o Uruguai ao menos pontue contra Portugal, que chega como um dos times mais qualificados tecnicamente. Os sinais de alerta foram ligados. Resta saber o plano que Diego Alonso terá para evoluir o desempenho uruguaio nesses quatro dias, em uma partida com características totalmente diferentes.

Campo Livre