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Balanço: Uruguai decepciona, mas tem futuro promissor; Alonso merece ficar

Diego Alonso, técnico do Uruguai, durante a partida contra Gana pela Copa do Mundo. - JOHN SIBLEY/REUTERS
Diego Alonso, técnico do Uruguai, durante a partida contra Gana pela Copa do Mundo. Imagem: JOHN SIBLEY/REUTERS

Gabriel Perecini

10/12/2022 09h22

A Copa do Mundo de 2022 ficará marcada como uma enorme decepção para o Uruguai. A seleção chegou com muito potencial, com vários jogadores que vinham em grande fase na Europa se somando aos ídolos de uma geração que faziam a sua despedida. No fim, a queda traumática na fase de grupos, com péssimo desempenho nos dois primeiros jogos, deixou um gosto amargo. Naturalmente, a repercussão em cima dos erros do técnico Diego Alonso foi grande. Ele foi eleito o grande culpado por essa campanha, junto com os erros de arbitragem. E é correto afirmar que foram os dois fatores principais.

Esse é o resumo do Mundial do Qatar para a Celeste. Mas, para analisar os próximos passos, é preciso ir além de definir culpados.

Diego Alonso

O ex-centroavante chegou à seleção com uma tarefa complicada: substituir o lendário Maestro Tabárez e classificar à Copa do Mundo. Faltavam quatro jogos e o time estava fora da zona de classificação. Com uma proposta completamente diferentes da utilizada nos últimos anos, com construção de jogo e marcação mais avançada, venceu as quatro partidas. Na terceira, já havia garantido a vaga no Mundial.

El Tornado teve méritos além do estilo de jogo. Deu espaço a jogadores que não vinham sendo utilizados e promoveu mudanças importantes nas peças do time. Ainda assim, o técnico chegou ao Qatar com apenas nove jogos pela seleção. Além disso, viu algumas peças fundamentais chegarem contundidas ou sem estar 100%. Precisou, novamente, buscar soluções sem margem para erro. Depois de acertar nas Eliminatórias, errou na Copa do Mundo.

Poucas horas depois da eliminação, muitos veículos de imprensa divulgaram que o treinador havia sido demitido. Logo em seguida, foi dito que Marcelo Bielsa já estaria encaminhado para ser o novo técnico. O fato é que, quando chegou, o contrato de Alonso tinha duração de quatro jogos e seria renovado automaticamente em caso de classificação ao Qatar. Com o fim da participação uruguaia, encerrou-se também o contrato do treinador. Então não era possível que ele fosse literalmente demitido. O máximo que poderia ocorrer era uma opção em não renovar o vínculo. No dia seguinte, novas informações começaram a aparecer: era o treinador que inicialmente havia decidido não continuar. Em princípio, por "sentir falta do trabalho do dia a dia", já que a rotina do técnico de seleção é totalmente diferente do técnico de clube. Tornado também tem o desejo de dirigir um time na Europa.

Apesar dos graves erros na Copa, acredito que o melhor caminho seja a renovação com Diego Alonso - se o treinador quiser. O principal equívoco no Mundial, mais do que colocar ou não colocar De Arrascaeta, foi renunciar ao estilo de jogo que o levou até o Qatar. Contra Coreia do Sul e Portugal, jogou "à moda antiga", como ainda não tinha feito desde que assumiu. Jogou fora as virtudes que tinha conquistado e, depois do duelo contra Gana, deve ter aprendido a lição. As lesões e o curto período no cargo podem ter pesado para as escolhas ruins e o baixo desempenho nos dois primeiros jogos. Na média, mostrou ter capacidade para fazer o time jogar bem e de acordo com as características dos jogadores. Alonso manteve uma solidez defensiva ao longo das 12 partidas e, nas poucas oportunidades que teve, buscou testes em formações diferentes. Dias após a eliminação, com os jogadores já de férias, recebeu manifestações fortes e genuínas de apoio de Godín, capitão da equipe desde 2014, Ronald Araújo, Jorge Giordano, ex-jogador e secretário técnico da AUF, responsável por todas as seleções uruguaias, e Ignácio Alonso, presidente da AUF.

O time

A Copa do Mundo marcou o fim do ciclo vitorioso de alguns jogadores, que ajudaram a resgatar o orgulho e o protagonismo do futebol uruguaio. Suárez, Cavani, Muslera, Godín e Cáceres podem ter recebido suas últimas convocações ou, no mínimo, disputaram a última Copa do Mundo. Mas a boa notícia é que há uma base e muito material humano para manter o Uruguai forte. E os próprios ídolos já têm substitutos com boas perspectivas.

No gol, Rochet foi titular desde o primeiro jogo de 2022, mostrando muita segurança e com boas atuações. Não sentiu o peso de substituir um grande nome dessa geração em um momento crítico, tudo isso na sua estreia pela seleção. Se não é um goleiro da primeira prateleira do futebol mundial, é um nome melhor que os reservas que Muslera teve durante a Era Tabárez, como Castillo, Muñoz, Campaña e até Martín Silva, em muitos momentos.

Depois de muito tempo, as laterais também foram reformuladas - e aqui é mais um mérito de Diego Alonso. Nomes como Darmián Suárez e Mathias Olivera surgem como soluções em posições que conviveram muito tempo com improvisos. Varela, Viña e Piquerez ainda correm por fora e podem ser importantes.

Na zaga, o Uruguai começa o ciclo como uma dupla que briga para ser Top-5 do futebol mundial: Giménez e Ronald Araújo - que também pode ser utilizado como lateral. O jogador do Atlético de Madrid, aliás, é forte candidato para suceder Godín e assumir a braçadeira de capitão.

No meio de campo, há opções que conseguem formar um setor com boa velocidade, grande qualidade técnica e forte poder de marcação. Bentancur e Valverde são destaques em grandes centros europeus e se complementam. Vecino parece que deve manter um bom nível por mais tempo e ser importante ao longo do ciclo. Manuel Ugarte surge como forte candidato a ganhar mais minutos, sendo uma ótima opção de marcação, força e saída de bola.

De Arrascaeta foi o nome mais comentado durante a Copa e traz capacidade criativa ao time. É titular de Diego Alonso. Ficou fora do time titular em dois dos três jogos no Qatar provavelmente por não ter terminado a temporada 100% fisicamente, algo que o próprio atleta reconheceu. Pellistri é jovem e pode evoluir, mas já oferece velocidade e drible para ser o desafogo.

No ataque, Darwín Núñez é nome certo e aqui talvez tenhamos a grande dúvida. Depois da histórica dupla Suárez-Cavani, ninguém surge como peça clara para ser o companheiro do jogador do Liverpool, que também não está no nível que Luisito e Edi estiveram na maior parte do tempo. É possível que vejamos uma formação com apenas um atacante no começo ou mais algumas convocações para os dois maiores artilheiros da história da Celeste.

Por fim, há nomes que complementam bem o elenco, como Coates e Nico de La Cruz, e outros que carregam potencial interessante, como Facundo Torres, Sebastian Cáceres e Martín Satriano. Vale registrar que, nos três jogos da Copa do Mundo, alguns erros individuais também custaram caro ao Uruguai, desde gols perdidos contra Portugal e Gana até desatenções defensivas, como a de Varela no primeiro gol lusitano.

As transições

Já era esperado que houvesse uma dificuldade com a transição geracional no Uruguai. O próprio Maestro Tabárez demorou para concluir algumas mudanças, muitas delas que só aconteceram com Diego Alonso. Naturalmente, essa etapa tem percalços e não é simples de ser feita. Junto a ela, há outra transição: a do estilo de jogo. Alonso traz um estilo bem diferente do que o Uruguai estava acostumado a jogar. Seria muito surpreendente se isso tudo acontecesse em menos de 10 jogos. Mesmo assim, houve boa perspectiva em campo e o treinador contou (e conta) com o apoio dos jogadores, segundo a imprensa local. As declarações de Godín e Araújo reforçam isso. Para mim, são motivos que contam para a sua permanência.

A decisão

Ignácio Alonso, presidente da AUF, disse após a eliminação que "eles precisavam de uns dias para pensar". É provável que a decisão aconteça antes do fim da Copa do Mundo. Ignácio e Giodano querem seguir com Diego. Dado o cenário, considero um acerto. A decisão de continuar ou não será do treinador.

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