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Allan Simon

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

RedeTV! x ESPN: comparamos as transmissões do Super Bowl entre os canais

Pathy dos Reis, Napoleão de Almeida, Gabriel Golim e Marcelo do Ó (sentado), membros da equipe de transmissão de NFL na RedeTV! - Divulgação/RedeTV!
Pathy dos Reis, Napoleão de Almeida, Gabriel Golim e Marcelo do Ó (sentado), membros da equipe de transmissão de NFL na RedeTV! Imagem: Divulgação/RedeTV!

Colunista do UOL

13/02/2023 00h29

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Detentora dos direitos do Super Bowl na TV aberta pelo segundo ano consecutivo, a RedeTV! conseguiu mostrar evolução em 2023 e se consolidou como uma boa opção para o público mais casual, que não é tão fanático por futebol americano, como é o espectador da ESPN na TV paga. A coluna acompanhou a final da NFL nos dois canais ao mesmo tempo para poder comparar como foram as transmissões do título do Kansas City Chiefs.

Depois de uma temporada completa da NFL com exibição na emissora aos domingos, o canal aberto levou ao ar um produto mais pronto que na final do ano passado, ainda que não tenha apresentado números tão espetaculares na audiência nos últimos meses.

A RedeTV! fez sua parte. Mesmo sabendo se tratar de um evento bastante nichado, entendeu a importância de um Super Bowl e colocou o pré-jogo no ar faltando mais de uma hora e meia para o início da partida. As reportagens e os conteúdos ao vivo ancorados por Napoleão de Almeida diretamente do "NFL In Brasa", evento oficial da liga no Brasil, já faziam o papel de trazer um tom mais didático à transmissão.

Antes mesmo de começar o evento, o telespectador já sabia o que era um "field goal" e como funcionavam os pontos básicos do futebol americano. A equipe da RedeTV! para o jogo foi formada pelo narrador Marcelo do Ó e os comentaristas Gabriel Golim e Pathy dos Reis, todos conhecedores da modalidade e habituados com as transmissões durante toda a temporada regular.

Enquanto isso, a ESPN trazia a cobertura com o padrão já consagrado na TV paga, com uma linguagem já totalmente alinhada ao que o público fã da modalidade espera. A narração foi de Fernando Nardini, acompanhado pelos comentaristas Paulo Antunes, Conrado Giulietti e Guilherme Cohen.

RedeTV! se preocupou mais em "traduzir" jogadas

Logo no começo do jogo, no primeiro ataque do Philadelphia Eagles, um lance mais complexo já exigiu bastante da transmissão da TV aberta, que foi explicar por que um touchdown obtido pela equipe acabou invalidado e substituído por um "first down". É uma situação que não deixa muito tempo para explicações ao público mais leigo, pois a jogada está seguindo e o novo touchdown (agora válido) era questão de tempo. O trabalho do narrador e dos comentaristas foi bastante satisfatório.

O estilo de Marcelo do Ó também aproxima mais o público casual do evento. Isiah Pacheco, do Kansas City Chiefs, por exemplo, virou o "Pachecão da Massa" ao conquistar um first down no primeiro período. Bordões habituais do narrador, que atua no dia a dia do futebol na rádio BandNews FM, também apareceram, como o "caçapa", usado agora durante os field goals.

A transmissão da RedeTV! também destacou mais que a ESPN, desde antes de começar o jogo, o show de Rihanna que aconteceria no intervalo. A emissora aberta preparou até uma reportagem contando a trajetória da cantora, o que deixou claro que a atração era um dos fatores para atrair audiência com o Super Bowl no canal. Não era por acaso, afinal, ainda por cima se tratava da primeira apresentação publica de Rihanna em cinco anos.

Na TV paga, talvez justamente pela concorrência no sinal aberto, a ESPN enfatizava de tempos em tempos na narração de Nardini ser a emissora que transmitiu o maior número de jogos e teve o maior número de horas de conteúdo. Foi o segundo ano consecutivo de transmissão do Super Bowl com a RedeTV! sendo alternativa gratuita.

Ainda no primeiro período o time do Eagles teve que tentar um field goal para aproveitar uma quarta descida, mais um momento que precisou da intervenção didática do time de transmissão da RedeTV!. Esse tipo de explicação tende a incomodar quem é fã assíduo, mas o fã realmente muito assíduo provavelmente já via e vê a NFL pela ESPN, com anos de tradição no segmento. O papel para quem não entende do jogo ficar por dentro do que rolava no evento era cumprido com sucesso.

Apesar de falar para um público mais diverso e amplo, o canal aberto contava com publicidade de produtos não muito distantes dos anunciantes da ESPN. Em um mesmo intervalo comercial, por exemplo, o canal aberto rodou uma propaganda de SUV da Chevrolet ao mesmo tempo em que o canal pago tinha o anúncio de um carro da Mitsubishi. Marcas como Amazon e Vivo também apareceram nos intervalos da TV aberta.

A partir do segundo período, alguns lances já não demandavam mais tantas explicações, e a transmissão da RedeTV! conseguiu engatar um ritmo mais fluido. O jogo também ajudou, com mais três touchdowns seguidos espetaculares e sem polêmicas. O canal aberto já aproveitava para anunciar que seguirá com as transmissões da NFL na próxima temporada, além dos programas especiais com conteúdos sobre a liga.

A experiência de acompanhar ao mesmo tempo o jogo por RedeTV! e ESPN foi curiosa também porque era fácil notar as diferenças grandes enquanto basicamente as duas exibiam as mesmas imagens. Como a geração é única, dos EUA para o mundo, a imensa maioria da transmissão foi visualmente igual nos dois canais. A TV aberta ainda dava "flashes" no "NFL In Brasa" e com imagens de estúdio com narrador e comentaristas, principalmente nos "merchans".

Rihanna foi atração à parte no Ibope

Na reta final do segundo período, a RedeTV! deixava mais clara a "ansiedade" pelo show de Rihanna, talvez já tentando chamar o público que procurasse pelo canal em busca da atração musical do intervalo. Foi então que o último minuto trouxe uma revisão mais complicada de um passe incompleto na arbitragem de vídeo, um momento em que até o próprio time da emissora aberta se confundiu um pouco para explicar alguns termos que apareciam nas imagens oficiais, como o "booth review".

No intervalo, antes de começar o show, a ESPN entrou com Ari Aguiar e Antony Curti diretamente dos estúdios para analisar os melhores momentos (ou "momentos impactantes") do primeiro tempo. Já a RedeTV! fazia mais uma entrada ao vivo em tom de divulgação do NFL In Brasa, mas sempre mantendo na tela uma tarja anunciando a proximidade do show de Rihanna. Os dois canais tiveram merchans a essa altura do jogo, propagandas apresentadas pelos comentaristas, os chamados "testemunhais".

A missão de "segurar" o público ansioso pela atração musical ficava mais difícil à medida em que apareciam imagens de outras apresentações que rolaram enquanto o palco era montado para Rihanna. Apesar de todo ano ter um Super Bowl com show no intervalo, também em todo ano se faz necessário explicar a quem só está assistindo ao evento por isso que não há um tempo cravado e marcado para iniciar a apresentação.

A ESPN também investiu nesse trecho do evento, levando aos estúdios a influenciadora MariMoon, a primeira celebridade digital da internet brasileira, para comentar as expectativas sobre o show de Rihanna.

A RedeTV!, que segundo dados prévios obtidos pelo site TV Pop estava o primeiro tempo todo abaixo de 1 ponto de audiência na região metropolitana de São Paulo, conseguia finalmente alcançar e ultrapassar a marca nos minutos que antecediam a apresentação.

Durante o show, o canal aberto chegou ao pico de 1,5 ponto (cerca de 310 mil indivíduos, ou 115 mil domicílios na Grande SP). A média da apresentação em seus 14 minutos ficou em 1,3, ainda de acordo com o TV Pop. Logo depois, voltou a cair para a casa de meio ponto.

Entre os canais pagos, de acordo com números obtidos pelo UOL Esporte, a ESPN liderava durante o evento e alcançou 2,3 pontos com o show de Rihanna. A métrica não é comparável como a da RedeTV!, já que considera apenas o universo da TV por assinatura.

Nos dois canais, nada de interrupções. O show de Rihanna foi transmitido de forma pura, sem intervenções ou comentários, ponto positivo para ESPN e RedeTV!. O espetáculo é uma produção fantástica em todos os detalhes, segurando a atenção o tempo todo.

Principalmente quando uma das cantoras mais famosas do século faz a internet ferver anunciando uma nova gravidez enquanto se apresenta no intervalo comercial mais caro do mundo. Assim que foi encerrada a atração, as duas emissoras tiveram ainda uma rápida análise sobre a performance da cantora, ambas com tom elogioso, com um pouco mais de exaltação na TV aberta.

ESPN se manteve como referência para o nicho da NFL

Na comparação com a RedeTV!, a ESPN apresentou mais lances analisados nos intervalos e pausas, teve uma transmissão com liberdade para ser mais técnica, e por isso continua sendo a referência para o nicho fanático pela NFL no Super Bowl.

Além da necessidade de ser didática, a emissora aberta ainda teve que usar mais os seus tempos "livres" para propagandas e divulgação da casa da NFL em São Paulo. A ESPN também teve seus patrocinadores, claro, mas o fã interessado nos detalhes do jogo foi mais bem servido pelo canal pago nessas horas.

São pontos normais para a diferença entre plataformas. A ESPN tem um público consolidado, é uma mídia que funciona com base em assinaturas, tanto na TV, quanto no streaming Star+. Apesar disso, vale também notar que o canal não teve uma equipe completa in loco. Estavam presentes nos EUA durante a cobertura apenas Paulo Antunes e Conrado Giulietti. No ano passado, Fernando Nardini narrou diretamente do local pela primeira vez na carreira em um Super Bowl, mas não repetiu o feito em 2023.

RedeTV! se sobressaiu em final espetacular

Quando o placar aponta 35 x 35 a cinco minutos do fim em um Super Bowl, a transmissão exige mais emoção do que aspectos técnicos. E foi por isso que a RedeTV! conseguiu se sobressair a partir do instante em que o Eagles conseguiu empatar o duelo.

Marcelo do Ó conseguiu traduzir mais a força do momento do que Fernando Nardini, que seguia comandando uma transmissão mais sóbria na ESPN. O narrador da RedeTV! inclusive já se empolgou chamando o evento deste ano como um dos maiores de todos os tempos no Super Bowl.

O comentarista Gabriel Golim entrou para dar um embasamento estatístico, dizendo que o jogo estava a cinco pontos de ser a final com maior pontuação na NFL. Esse dado apareceu apenas depois na transmissão oficial dos EUA, em inglês.

As duas transmissões mandaram bem ao explicar por que o Chiefs não quis fazer um touchdown faltando um minuto e 36 segundos quando tinha a oportunidade clara e manifesta de pontuar. O tempo restante no relógio seria suficiente para que o time adversário pudesse construir um ataque para empatar a decisão.

"Gastando" descidas, o jogo estaria praticamente na mão. Quem é fanático pelo esporte pode ter sacado de cara, mas o espectador mais casual certamente achou estranha de primeira a decisão de não anotar o touchdown, preferindo marcar menos pontos (3, em vez de no mínimo 6) com um "field goal", mas deixando o cronômetro como maior adversário do Eagles. Restaram apenas oito segundos, que garantiram o título ao Kansas City Chiefs.

No fim das contas, seja qual for o tipo de espectador, houve duas boas opções de transmissões. Para quem estava "perdido" na modalidade e querendo aprender, a RedeTV! apareceu sem dúvida como a melhor opção. A emissora já anunciou uma cobertura maior para a próxima temporada, com "dois jogos de playoffs por fim de semana", como disse Marcelo do Ó.

Para quem é fissurado e não perde nenhum detalhe da NFL, porém, a ESPN permanece imbatível. O pós-jogo com a festa do título seguiu no canal pago enquanto a TV aberta já adotava um tom de encerramento dos trabalhos e exibia comerciais. Pelo menos deu tempo de voltar ao estúdio e retomar as imagens da geração oficial para mostrar a entrega do troféu à franquia campeã um pouco antes de fechar a transmissão.

Na ESPN, o jogo deu lugar a um programa especial que seguiu com a cobertura, o "League de Passe". Mas no encerramento da transmissão, Fernando Nardini mais uma vez soltou uma frase que exaltava a longevidade do canal pago frente à novata da TV aberta. "A NFL há décadas passa aqui".