Topo

Allan Simon

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Contratações da Paramount sinalizam mudança de pensamento no mercado de TV

Paramount anunciou oficialmente os primeiros nomes para Libertadores e Sul-Americana com João Guilherme, Alê Xavier, Nivaldo Prieto e Paulo Vinicius Coelho - Divulgação/Paramount
Paramount anunciou oficialmente os primeiros nomes para Libertadores e Sul-Americana com João Guilherme, Alê Xavier, Nivaldo Prieto e Paulo Vinicius Coelho Imagem: Divulgação/Paramount

Colunista do UOL

02/02/2023 13h52

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A Paramount vai entrar no mercado de futebol no Brasil com dois produtos muito importantes, a Libertadores e a Copa Sul-Americana, e a chegada do streaming Paramount+ trouxe consigo notícias de contratações de peso tiradas das maiores detentoras de direitos de transmissão do país. Os narradores João Guilherme e Nivaldo Prieto deixaram os canais ESPN, enquanto o comentarista Paulo Vinicius Coelho saiu do Grupo Globo, onde atuava principalmente no canal pago sportv.

Essas contratações sinalizam uma mudança profunda que o mercado de televisão vive nos últimos tempos. O ponto principal é que, para muitos, não cabe mais o modelo rígido de exclusividade praticado por empresas como Globo e Disney, dona da ESPN e do Star+. Salvo exceções, os nomes mais conhecidos que aparecem na tela dos canais desses grupos não podem tocar trabalhos paralelos e iniciativas próprias na internet.

Na década de 1990 e começo dos anos 2000, fazia sentido exigir exclusividade dos profissionais, afinal, as mídias eram bem mais restritas. Mas a internet mudou o mundo, e a mídia mudou com a internet. Hoje a cabeça de quem produz conteúdo digital não funciona apenas com a lógica do emprego fixo e garantido.

Plataformas como YouTube, Twitch, e tantas outras são bombas de oportunidades financeiras sobretudo para quem já é conhecido do grande público, o que facilita muito o caminho para a construção de audiência nessas mídias.

Em entrevista recente ao podcast Flow Sport Club, já depois de sua saída da ESPN, o narrador João Guilherme falou em tom de comemoração que estava criando um canal próprio no YouTube, lançado em parceria com o próprio Flow.

"Existem algumas empresas que exigem exclusividade, então, por exemplo, tudo o que eu tinha que fazer era vinculado à empresa em que eu trabalhava. Agora eu posso ter o canal", disse o narrador. "Existem empresas que permitem que você faça, mas vinculado a elas, outras não permitem, outras dão liberdade, e aí eu estou neste momento de poder fazer coisas diferentes", completou.

Em menos de um mês, o canal "Fala, João Guilherme" já tem quase 62 mil inscritos e acumula mais de 265 mil visualizações na plataforma. Uma base que o narrador, há muito tempo conhecido e querido por torcedores de futebol, não conseguia aproveitar. O comentarista Paulo Vinicius Coelho já começou uma nova jornada como colunista no UOL Esporte após a saída do Grupo Globo.

Vale lembrar que alguns profissionais que estão atualmente na ESPN tiveram que abandonar projetos próprios que já existiam na internet, como o canal do jornalista Leonardo Bertozzi, o "Bertozzi pelo Mundo", que tinha mais de 70 mil inscritos. Em entrevista ao Roda Mídia, programa do "Blog do Allan Simon" no YouTube, em março do ano passado, o comentarista explicou a decisão.

"Tudo é negociado. A gente senta e conversa, o contrato estava vencendo, você coloca as suas condições, eles colocam as deles. O Grupo Disney hoje cobre todas as mídias, é cada vez mais presente também no YouTube, eles já tinham a ideia de ter o nosso podcast 'Futebol no Mundo' no YouTube. Então ficaria você concorrendo com você mesmo. Teve gente que nessa mesma situação entendeu que não valia a pena. Eu poderia falar que não queria largar o canal e ficar sem contrato de exclusividade. Tem gente ainda que é assim lá, tem gente que ganha por evento, tem quem ganha fixo, isso em qualquer emissora de TV é assim. Para manter o meu contrato fixo eu optei por aceitar algumas condições, colocar algumas minhas, e a gente chegou a um acordo", disse Bertozzi na época.

Embora não tenha citado os nomes dos profissionais que não aceitaram essas condições, são lembrados os casos de Mauro Cezar Pereira e Jorge Nicola, que são donos de canais grandes no YouTube e hoje tocam outros projetos ao mesmo tempo em várias mídias.

Trocar a estabilidade de uma Globo ou uma Disney por um projeto que está começando agora, como o da Paramount, parece arriscado sob a perspectiva história sob a qual fomos todos criados. Para a imensa maioria dos profissionais da comunicação, a busca por um emprego fixo é sempre um sonho. Mas a realidade de quem já possui uma "marca" própria, base de fãs e influência nas redes sociais não comporta mais esse modelo.

Por mais que um dia esse projeto da Paramount possa dar errado, como sempre é lembrado o caso da PSN, canal criado no começo dos anos 2000 com a exclusividade justamente da Libertadores em suas mãos na TV paga, esses profissionais que agora migram para o novo streaming estão buscando diversificar também as fontes de renda. É a velha história do "não coloque todos os seus ovos na mesma cesta". Se a "cesta" da Paramount vier a cair, outros "ovos" estarão guardados nas outras plataformas.