Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Alicia Klein: O Abel Ferreira que não querem ver
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Abel é esquentado. Nervosinho. Retranqueiro. Limitado. Colonizador. Fala mal de jornalista.
Aí você vê fotos do Abel quando o jogo acaba, e ele parece outra pessoa. Os olhos esbugalhados desaparecem. Sereno. Sorrisão. Simpático. Carinhoso com quem interrompe seu jantar com a esposa para pedir uma foto. É o cara que chora em entrevista falando da dificuldade de conciliar a profissão com a família, admite que ser um bom treinador o torna pior pai, marido, filho. Vulnerável.
Aí você olha o retrospecto do Palmeiras sob seu comando e encontra, frequentemente, um dos melhores ataques da competição. Goleadas. Mesmo sem um centroavante de ponta. Vivendo, por vezes, de Rony. De Deyverson. Campeão passando por cima de River Plate e Santos. Campeão de novo batendo em Atlético-MG e Flamengo. Variando escalação, esquema tático, quase sempre surpreendendo na estratégia.
Aí você presta atenção nas coletivas e percebe que, não raro, o que ele fala é verdade. Dói, mas é verdade. A maioria dos jogadores brasileiros tem pouco conhecimento tático. Porque muitos treinadores não estudam, não compartilham, não ensinam. Diversos jornalistas entendem pouco de futebol. Também falta estudar, acompanhar a evolução técnica, tática, física, emocional do jogo. É difícil, afinal. Ainda mais com os salários que se pagam desse lado do balcão.
Aí você vai ver o dia da confusão Abel versus profissionais da imprensa e ele estava, pasmem, justamente elogiando Gabriel Yokota, setorista do site Verdazzo, pela qualidade da pergunta e de seu entendimento.
Claro, o futebol apresentado pelos comandados do jovem português não enche os olhos em muitas oportunidades. Não tem a beleza, a velocidade, a letalidade do Flamengo de Jorge Jesus, onde moram as eternas comparações. Neste caso específico, aliás, eu adoraria um exercício de realidade virtual com JJ no comando deste Palmeiras e Abel no do rubro-negro de 2019. O que mudaria?
O que deveria mudar, nesta realidade que nos cabe, é o viés. É olhar para Abel com um pouco menos de ranço. Desculpem, não há outra palavra. Por qualquer razão que ainda não está totalmente clara, tem gente que não aguenta o Abel. Que precisou de quatro títulos, sendo duas Libertadores, para admitir que ele é bom. Admitindo até que ele é o melhor da história alviverde, "mesmo jogando feio", mesmo não estando à altura da Academia", "mesmo sendo mala" etc. etc. etc.
Para além dos títulos, o forasteiro ibérico capturou a alma palmeirense, entendeu o espírito da torcida, abraçou o Avanti Palestra, criou o "contra tudo e contra todos". Mais do que campeão, fez-se ídolo. Em tão pouco tempo, não é pouca coisa.
Não precisa achar bonito. Não precisa gostar dele. Tudo isso é subjetivo. Mas não dá mais para ignorar que o homem é diferenciado. Já deu.
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