Topo

Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Klein: Pulverização e transmissões ruins fortalecem os piratas do futebol

Pulverização de direitos de mídia espalha o futebol por diversos canais - Getty Images
Pulverização de direitos de mídia espalha o futebol por diversos canais Imagem: Getty Images

24/02/2022 12h41

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Ontem, para assistir a Champions League, Copa do Brasil, Libertadores, Campeonato Carioca e Recopa, por amor e ossos do ofício, precisei realizar uma peregrinação televisiva e internética. Diversos canais e sites, mais ou menos autorizados. Um saco.

A realidade atual da jornalista ou torcedora interessada em acompanhar mais de uma competição envolve muita energia, força de vontade e, claro, dinheiro. É preciso descobrir os diversos horários e plataformas. Contentar-se com qualidades altamente variáveis na transmissão das partidas. Assinar TV a cabo, pay-per-view e serviços de streaming. Ou não.

Muito se reclamou do monopólio que por anos dominou o futebol brasileiro. Determinando horários nem sempre convenientes e dominando clubes altamente dependentes. Pois bem, como não poderia deixar de ser em um país de extremos, saímos deste cenário para a pulverização total.

Em 2022, não se sabe quando, onde e nem como assistir a jogos por aqui. Ou sabe-se. No piratão. Em um dos inúmeros sites que transmitem absolutamente tudo e qualquer coisa. Só é preciso um pouco de paciência com os travamentos, delays e pop-us de procedência duvidosa. E um bom antivírus.

É irreal imaginar que as pessoas vão pagar dois, três, quatro ou cinco serviços para acompanhar seu time do coração. Não há essa cultura da diversificação e, mais importante, não há o dinheiro para isso.

O mercado de direitos de mídia está crescendo e essa "evolução" é inevitável. Há tempos que não vivemos mais no universo da televisão, das experiências conjuntas, dos horários fixos. O mundo é on-demand, sob demanda. Tudo isso aumenta o potencial de receita dos clubes, cria todo um novo setor, empregos etc.

Ainda assim, não consigo deixar de pensar que o modelo atual não vai funcionar. Não só porque fortalece os provedores ilegais, com sua praticidade, mas porque a qualidade não acompanha a diversidade. Quem vai querer pagar por um serviço meia-boca? Áudio ruim, sinal instável, profissionais que erram informações básicas. Fica bem difícil vender esse tipo de produto, em meio a uma enorme oferta de entretenimento - com opções que custam mais barato e entregam grandes produções.

No cenário atual, quem mais tem a ganhar é a pirataria. E os sites de mulher pelada.