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Sem sindicalismo: Campanha quer que Alckmin "fure bolha" e não repita Lula

Com covid-19, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) participou, por vídeo, do evento de lançamento da pré-candidatura do ex-presidente Lula (PT) ao Planalto - Nelson Almeida/AFP
Com covid-19, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) participou, por vídeo, do evento de lançamento da pré-candidatura do ex-presidente Lula (PT) ao Planalto Imagem: Nelson Almeida/AFP

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

25/05/2022 04h00

Nada de mensagens aos trabalhadores, exaltações ou falas polêmicas. O que a área de comunicação da campanha do ex-presidente Lula (PT) espera do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), pré-candidato a vice, é que ele "fure a bolha" do petismo e mire nos setores mais conservadores aos quais sempre foi mais ligado.

Na avaliação da nova equipe que coordena as peças publicitárias, para falar com trabalhadores e estabelecer vínculo sindical já há Lula, o candidato. Ex-tucano, Alckmin deve ser diferente do petista, porém não antagônico —a ideia é que ele complemente o discurso de Lula, mas não o repita.

No meio de abril, no primeiro grande evento em que os dois participaram juntos como chapa, um encontro com centrais sindicais em São Paulo, Alckmin abriu a fala de Lula e, aos gritos, disse que "a luta sindical deu ao Brasil o maior líder popular deste país".

O tom exaltado e imponente repercutiu e, entre elogios e questionamentos, levantou dúvidas sobre uma possível nova postura de Alckmin na chapa junto ao ex-adversário. Era começo da pré-campanha e, depois disso, não só a coordenação de comunicação como o marqueteiro foram trocados.

Agora, com peças publicitárias administradas pelo marqueteiro Sidônio Palmeira, a campanha espera que Alckmin aponte para onde sempre apontou, fale para quem sempre falou. O grupo avalia que o mais interessante de ter duas figuras tão diferentes à frente da chapa seja exatamente trabalhar as distinções sem que pareçam conflitos.

Na avaliação atual, inflamações por parte do vice não acrescentam à campanha e podem, pelo contrário, atrapalhar em alguns casos. Os articuladores acham melhor que Alckmin e Lula "se complementem".

Segundo a campanha, a estratégia é, na verdade, bem simples: basta cada um seguir como é "de verdade":

  • Lula, orador eloquente, afeito a longos discursos, sabe alternar piadas a falas ríspidas, gosta de atenção e fala diretamente com a classe trabalhadora, sindicatos e setores mais amplos.
  • Alckmin, mais tímido e de discurso ponderado, deve seguir com a fala mais serena, com tom sério, sem exaltações. Seu discurso será voltado a algumas áreas econômicas, como mercado financeiro e agronegócio, igreja e militares.

O exemplo usado é o discurso de Alckmin no lançamento da chapa, em São Paulo, no início de maio, o primeiro evento organizado pela equipe de Sidônio.

Feito por vídeo por causa da covid-19, o ex-governador fez uma fala contundente e crítica. Em seu tom firme, disse que o governo Jair Bolsonaro (PL) é "desastroso", "perdulário" (que gasta demais) e "hipócrita". Mas não abordou diretamente temas polêmicos.

A fala foi amplamente elogiada tanto entre os militantes —que, no dia, chegaram a comentá-la mais do que a do Lula—, quanto por aliados e entre a direção petista. A avaliação é que a gravação mostrou que os dois estão alinhados.

Primeiro teste pessoalmente

Pessoalmente, o primeiro grande teste de fogo se dará na próxima semana, em viagem dos dois à região Sul, reduto conservador, onde Bolsonaro ganhou em 2018 e tem despontado nas pesquisas.

Esta será a primeira viagem dos dois juntos como pré-candidatos. Quando Lula foi a Minas Gerais, logo após o evento de lançamento, Alckmin ainda estava em isolamento por causa do coronavírus.

A expectativa da campanha é que os discursos complementares de ambos, dando ênfase à face moderadora e até conservadora de Alckmin, sejam colocados em prática em um terreno em que o ex-presidente não precisa apenas consolidar votos, mas sim conquistar outros tantos.