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Receita "santa" de panetones da Irmã Dulce ajuda educação de crianças na BA

Irmã Dulce - Divulgação/Arquivo OSID
Irmã Dulce Imagem: Divulgação/Arquivo OSID

Elcio Padovez

De Ecoa

22/12/2019 04h00

O baiano Carlos Ramon dos Santos Barbosa, 27, o Ramon "Dread", poderia ter uma vida bem diferente se a ajuda de Irmã Dulce, primeira santa brasileira reconhecida pelo Vaticano, e suas obras não tivessem entrado no seu caminho.

Ramon é um dos 133 mil moradores de Simões Filho, cidade na região metropolitana de Salvador que, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), é a sétima cidade do Brasil em que os jovens estão sujeitos a mortes violentas.

"Durante minha adolescência não cheguei a me envolver com drogas e violência, mas esse ambiente sempre esteve ao meu redor. Moro no Jardim Renatão, um bairro na periferia de Simões Filho. Ter frequentado, quando criança, as obras da 'Santa dos Pobres' me ajudou a não cair em roubadas", afirma Ramon, que começou a participar de atividades culturais ao seis anos.

Hoje, instrutor, Ramon orienta alunos no Centro Educacional Santo Antônio, em Samões Filho - Divulgação/Obras Sociais Irmã Dulce - Divulgação/Obras Sociais Irmã Dulce
Instrutor, Ramon orienta alunos no Centro Educacional Santo Antônio, em Samões Filho
Imagem: Divulgação/Obras Sociais Irmã Dulce
"Uma vez, uns amigos me chamaram para ir dar uma volta no centro e não fui por conta de um ensaio de percussão. Assim que eles chegaram lá, sofreram uma batida policial e alguns foram presos", recorda.

Hoje, Ramon tenta retribuir às crianças e jovens de Simões Filho o que aprendeu em sua infância e adolescência. Ele se tornou instrutor de grafite e desenho no Cesa (Centro Educacional Santo Antônio), um dos 21 núcleos de atendimento das OSID (Obras Sociais Irmã Dulce), que são mantidas por doações e, especialmente, pela venda de panetones e outros produtos que levam o nome da religiosa.

O doce panetone do bem

No mesmo prédio do centro educacional, funciona o Centro de Panificação, criado em 1991 e que produz pães, broas, cookies e brownies durante o ano todo. De setembro a dezembro, os panetones Santa Dulce entram na linha de produção e ajudam a alavancar as vendas, que são revertidas 100% ao centro educacional que atende, em período integral, 780 crianças em situação de vulnerabilidade social.

Segundo a coordenadora geral Iêda França, a expectativa para 2019 é chegar a 540 mil unidades -- um crescimento de 30% em relação ao ano anterior. Para dar conta da alta demanda, 80 pessoas, entre profissionais fixos e temporários, juntam forças. A receita 'santa' produz panetones de três sabores: frutas, chocolate e zero açúcar e lactose.

Centro de Panificação das Obras Sociais Irmã Dulce - Divulgação/Obras Sociais Irmã Dulce - Divulgação/Obras Sociais Irmã Dulce
Centro de Panificação das Obras Sociais Irmã Dulce
Imagem: Divulgação/Obras Sociais Irmã Dulce

"Em 1996, decidimos incluir a produção de panetones para inovar na produção e aumentar os ganhos, que auxiliam nossos alunos, vindos de áreas de favela e com poucas oportunidades, a melhorar a realidade sociocultural e ter esperança de uma vida melhor", afirma Iêda.

Os alunos do Ensino Fundamental I e II (do primeiro ao nono ano) que frequentam o CESA têm acesso a arte-educação, inclusão digital, atividades esportivas, assistência médica e odontológica, e recebem alimentação, uniforme e material escolar gratuitamente.

Os 21 milagres do "Anjo Bom da Bahia"

Maria Rita de Sousa Lopes Pontes (1914-1992) se tornou, em 13 de outubro de 2019, a primeira pessoa nascida no Brasil a ser reconhecida como santa pelo Vaticano. Para a Igreja Católica, a agora Santa Dulce dos Pobres teve dois milagres reconhecidos: parar um sangramento após uma hemorragia pós-parto e ajudar um devoto com glaucoma a recuperar a

Orquestra Irmã Dulce com jovens no Centro Educacional 2 - Divulgação/Centro Educacional Irmã Dulce - Divulgação/Centro Educacional Irmã Dulce
Orquestra Irmã Dulce com jovens no Centro Educacional
Imagem: Divulgação/Centro Educacional Irmã Dulce
visão. Mas para quem usufrui de suas obras de caridade na Bahia, sua lista de milagres é ainda maior. As Obras Sociais Irmã Dulce funcionam desde 1959 -- só em Salvador existem 20 núcleos.

Simões Filho é a única cidade fora da capital baiana a possuir um OSID, e nasceu quando Dulce, em 1964, recebeu uma doação de terras e lá criou um orfanato para abrigar meninos sem família e que estavam em situação de rua.

Em parceria com o Sistema Único de Saúde, as Obras realizam anualmente 3,5 milhões de atendimentos, além de 18 mil internamentos e 12 mil cirurgias. No total, 11,5 mil pacientes com câncer recebem tratamento todos os meses e, diariamente, cerca de duas mil pessoas recebem algum tipo de assistência nas OSIDs, que servem 1,7 milhão de refeições por dia.

Como ajudar as Obras Sociais Irmã Dulce

Os panetones Santa Dulce podem ser adquiridos nas principais redes varejistas de Salvador e da região metropolitana, além de mercados no interior da Bahia. Em São Paulo, desde 2019, é possível encontrar os panetones nos supermercados da rede Pão de Açúcar. Os preços variam de R$10,50 a R$13, mais o custo de envio, já que é possível encomendar panetones e broas para todo Brasil pelos telefones (71) 3616-1271/1265 ou pelos e-mails panetone@irmadulce.org.br e vendas.cesa@irmadulce.org.br.