Num país de muitas realidades, jornalismo é ato de serviço
Na noite do último sábado, nada trivial, William Bonner na tela da TV. Muitos símbolos, para além da relação construída entre o âncora e o público, de segunda à sexta, fugindo à regra: uma aparição que realmente privilegia algo que fosse ''especial''. Na imagem, ele, dentro de uma cozinha, e muitos significados.
O primeiro e mais óbvio: o "boa noite" mais conhecido do país sendo dado direto de onde se faz refeições, repleto de voluntários. A partir da maior tragédia que o Rio Grande do Sul - e também o país - vivencia. Imagina só, não é qualquer um. É o Bonner falando diretamente com quem o assiste. Mas, naquele momento, diretamente em POA (Porto Alegre), muita gente nem sequer tinha a TV em que o acompanhava dias antes para chamar de sua. Ela foi varrida pela força da água.
O segundo significado diz respeito à semiótica e à semiologia. É sobre representação e compreensão do estado, empático ao que se vive. É sobre o que gera. Sobre quem é, quem faz, pra onde queremos levar, a partir de uma profissão que se dispõe a ser "ponte" ao outro. E num instrumento tido como "obsoleto", que é a TV. Justamente a caixinha, importante para toda uma nação. Muito mais que redes sociais hoje em dia, apesar da audiência nas plataformas. Mas convém dizer: num país de muitas realidades, é na TV que o outro se encontra.
Jornalismo é ato de serviço, do mais abastado até o mais simples. Deve ir "aonde o povo está". Noves fora e críticas, o que se tem feito durante os últimos dias é histórico em diversos canais de comunicação - sobretudo aqueles que pautam as questões climáticas e clamam por cobrança aos governantes. O que deveria ser obrigação.
''Existem imagens que me perturbam dia e noite, como se me prendessem em um sonho. Mais precisamente naquele tipo de sonho em que durante o próprio sonho sentimos um desconforto e desconfiamos que há algo estranho naquilo tudo'', diz a jornalista Bianca Ramoneda, ao falar também sobre a imagem do cavalo Caramelo, mas também sobre tudo aquilo que temos visto à nossa frente.
"O olho vê, a lembrança revê, a imaginação transvê", canetava Manoel de Barros, o poeta. O jornalismo faz tudo isso.
Inteligência artificial, não.
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