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7 pecados ao financiar um veículo que podem transformar sonho em pesadelo

Compra financiada é chance de realizar o sonho de ter um automóvel, mas antes de fechar negócio é preciso refletir e planejar - iStock
Compra financiada é chance de realizar o sonho de ter um automóvel, mas antes de fechar negócio é preciso refletir e planejar Imagem: iStock

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

24/05/2020 04h00

Para muitos brasileiros, financiamento é o caminho para tornar realidade o sonho de ter um automóvel, seja ele usado ou zero-quilômetro.

Porém, assumir uma dívida, que geralmente vai levar anos para ser quitada, é algo que exige muita reflexão e planejamento prévios.

"Ter o olho maior do que a barriga", como dizem, pode fazer o sonho virar pesadelo e comprometer as finanças a ponto de faltar dinheiro para despesas básicas de subsistência, como alimentação, aluguel e contas de luz, água e telefone.

Em um cenário catastrófico como esse, o final da história é previsível: o comprador perde o carro para o banco, por atraso nas prestações, ou é obrigado a vendê-lo para pagar ao menos parte das dívidas.

Comprar por impulso, sem pensar no amanhã, é um erro comum que pode cobrar seu preço lá adiante.

Para evitar problemas e fazer uma compra consciente, consultamos Valter Police, diretor da Academia da Fiduc, empresa de gestão de investimentos com controle de finanças pessoais.

A pedido de UOL Carros, ele aponta sete "pecados" que são comuns e você deve evitar antes de fechar negócio em uma compra de veículo financiada.

1 - Comprar sem necessidade

De acordo com o especialista, esse é um "pecado" comum, não apenas na aquisição de veículos, mas de quase tudo o se compra a prazo.

"A parte emocional de nossa mente nos impele a buscar desculpas que justifiquem racionalmente nossas escolhas. Porém, quando refletimos profundamente, conseguimos perceber uma clara diferença entre 'querer" e 'precisar'", pontua o especialista.

2 - Escolher veículo caro demais

Adquirir um veículo mais caro e equipado é uma tentação à qual muitos não resistem - apesar de não precisarem ou não terem condições de arcar com esse custo.

"Vale a pena refletir se o preço do automóvel pretendido é o adequado para o momento atual da aquisição, considerando a situação das finanças daquela família, seja em termos de patrimônio, seja de orçamento", recomenda Police.

De acordo com ele, as emoções nos fazem buscar "confortos e luxos", mas essas justificativas nem sempre combinam com a realidade.

"Pare e pense de cabeça fria. As respostas ficarão claras".

3 - Confundir carro com investimento

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Carro até foi usado como investimento nos tempos de hiperinflação, mas isso ficou no passado
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Comprar um veículo não é investimento e pensar dessa forma faz com que o patrimônio decresça em vez de se multiplicar, alerta o especialista em finanças pessoais.

"Essa é uma herança de uma época na qual tínhamos no Brasil hiperinflação e escassez de produtos. Assim, havia ágio para a compra de carros novos e o preço dos carros usados subia fortemente, levando muitas pessoas a usarem a aquisição de veículos como investimentos alternativos", contextualiza.

Police destaca que essa época já passou faz tempo.

"Hoje, ao se comprar um carro novo, a queda de valor do bem gira em torno de 20% apenas no primeiro ano, chegando à metade do valor em cinco anos. Esses números variam de acordo com o modelo e conservação do automóvel, mas a ordem de grandeza permanece".

4 - Considerar apenas o custo da parcela

O custo verdadeiro de um financiamento não está na parcela, mas na taxa de juros e nos demais custos, ensina Valter Police.

"Um erro comum quando se usa crédito é pensar apenas no valor da parcela e se ela cabe no bolso. O verdadeiro custo da operação é definido pela taxa de juros somada aos demais custos, compondo o CET (Custo Efetivo Total).

5 - Acreditar em 'taxa zero'

Concessionária da Volkswagen anuncia Tiguan com "taxa zero"; fique de olho nas "pegadinhas" - Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress - Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress
Taxa zero não existe, diz Police, lembrando que preço final sempre é mais alto do que à vista
Imagem: Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress

Não existe crédito sem custo, lembra Police.

Ele recomenda simular a compra à vista para constatar que que o preço a ser pago é diferente na comparação com a somatória de todas as parcelas.

"Isso demonstra que a taxa não é zero. Essa é uma das formas que as equipes de marketing utilizam para distrair a atenção do consumidor".

Na prática, o financiamento com 'taxa zero' cobra um preço maior do que em outras formas de pagamento ou não oferece alguns benefícios, como pagamento do IPVA e de revisões programadas.

"Se o preço final do veículo financiado é maior, a taxa não é zero. Pode acreditar, nunca é".

6 - Não pesquisar preços

Pesquisa é fundamental, não apenas das opções dos veículos e dos respectivos preços, como também das diversas opções para parcelamento disponibilizadas, como leasing e financiamento - aponta o planejador financeiro pessoal.

Ele lembra que, além das alternativas mencionadas acima, existe hoje mais uma opção, que é a de "carro por assinatura".

"Nessa modalidade, o cliente 'assina' o plano por um ou dois anos e boa parte dos custos, como IPVA, seguro e manutenção, já estão incluídos. Isso facilita os cálculos e também reduz o gasto de tempo e dinheiro com esses itens".

7 - Ignorar que carro gera outras despesas

Muita gente faz as contas considerando somente a parcela do carro, esquecendo que existem muitos outros custos atrelados, como IPVA, seguro, combustível e manutenção.

É comum também não levar em conta que o dinheiro a ser gasto na aquisição poderia ser investido para render. É o chamado "custo de oportunidade do dinheiro".

"Também existe a depreciação do veículo, que faz com que ele perca valor, ou seja, seu patrimônio diminui. Considerando apenas IPVA, seguro, depreciação e custo de oportunidade, o custo adicional pode chegar a mais de 25% do valor do veículo em um ano. É muita coisa. Pense em todos esses aspectos antes da aquisição".