Consome mais? É mais caro? Dez mitos e verdades sobre o câmbio automático

O câmbio automático é uma verdadeira "mão na roda" para quem busca conforto no trânsito do dia a dia. Em meio ao "para-e-anda" do tráfego pesado, ele troca as marchas por você e evita o cansaço de ficar o tempo todo acionando a embreagem com a perna esquerda e a manopla com a mão direita.

Não é à toa que ele tem se popularizado cada vez mais entre os brasileiros.

No entanto, é comum ter dúvidas quanto ao seu funcionamento e manutenção. Muita gente se questiona, por exemplo, se colocar a alavanca na posição N com o carro parado no semáforo ajuda a poupar combustível. Outros têm dúvida sobre se segurar o veículo no acelerador em ladeiras pode causar desgaste.

Para esclarecer essas e outras dúvidas, e acabar com mitos relacionados ao equipamento, UOL Carros consultou o engenheiro Leandro Perestelo, membro da Comissão Técnica de Transmissões da SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade).

1) "Consome mais combustível": mito!

Os câmbios automáticos possuem eficiência muito maior do que há alguns anos, com trocas mais rápidas e melhor aproveitamento da curva de torque. É fato que no passado esse tipo de transmissão fazia o motor trabalhar sob regimes muito altos, o que consequentemente aumentava o consumo. Porém, os atuais têm um dispositivo chamado embreagem de bloqueio, que ajuda a manter os giros baixos em marchas reduzidas. Adicionalmente, houve aumento no número de marchas — chegando a nove ou até dez, caso de Ford Mustang e Chevrolet Camaro 2018 —, o que contribui para manter as rotações em patamar sempre próximo do ideal.

Com tecnologia atual, automóvel com câmbio automático só ficará mais "beberrão" se o motorista permitir
Com tecnologia atual, automóvel com câmbio automático só ficará mais "beberrão" se o motorista permitir Imagem: Murilo Góes/UOL

2) "Tem trocas mais rápidas": verdade!

Sim, as trocas proporcionadas pelos câmbios automáticos estão cada vez mais rápidas, a ponto de se aproximar dos automatizados de dupla embreagem. Além disso, o sistema permite fazer a mudança sem interromper a entrega de torque para as rodas, algo impossível de se obter com uma caixa manual — em que é necessário desacoplar a transmissão do motor —, o que reduz o tempo de aceleração de 0 a 100 km/h.

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3) "Quebra menos, mas conserto é mais caro": verdade!

A confiabilidade desse tipo de câmbio é muito alta e, como o motorista não comanda diretamente sua operação, fica menos suscetível à falha humana. Entretanto, quando acontece um problema, o custo de reparo é bem maior: o sistema é mais complexo, tem mais peças e alto percentual de componentes importados. O conserto pode variar entre R$ 4 mil e salgadíssimos R$ 30 mil.

4) "Vida útil é maior": verdade!

Se não houver problemas de operação ou qualidade, não há necessidade de fazer troca de peças até pelo menos 150 mil quilômetros. Em alguns casos, a vida útil pode chegar a 300 mil quilômetros.

5) "Não dá para usar o freio-motor": mito!

Se o veículo está em uma descida íngreme na posição D, o efeito do freio-motor é muito pequeno, já que a transmissão engata uma marcha longa. Entretanto, é possível obter maior eficiência e não desgastar tanto os freios: em algumas caixas existem as opções L ou 1, 2 e 3. Elas manterão engatada uma marcha reduzida, sendo também são indicadas para uso em subidas de ladeiras ou trechos off-road. Outras dispõem da opção de trocas manuais, pela própria alavanca ou por aletas atrás do volante, o que permite ao motorista ter um maior controle sobre a marcha escolhida a depender da situação.

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Vários carros automáticos, caso do Jeep Renegade, já dispõem de borboletas para troca manual das marchas
Vários carros automáticos, caso do Jeep Renegade, já dispõem de borboletas para troca manual das marchas Imagem: Murilo Góes/UOL

6) "Nas paradas, ideal é colocar em neutro": mito!

Não é necessário acionar o neutro (posição "N") a cada vez que se para em um semáforo. Dependendo do carro, se o motorista o fizer é até capaz de economizar um pouco de combustível, mas a veículos mais modernos já colocam a transmissão em neutro automaticamente quando o motorista fica parado por algum tempo. Em outros casos há o sistema start-stop, que promove o desligamento automático do motor. Nesse caso, assim que o motorista para de acionar o freio, a marcha é imediatamente engatada.

7) "Não precisa puxar freio de estacionamento": mito!

Não é porque seu câmbio é automático que ele faz tudo por você. Sim, ao colocar na posição P o automóvel aciona uma trava mecânica que impede a rotação das rodas de tração. Esse sistema auxilia o freio de estacionamento, impedindo o movimento do veículo. Mas ele não é "o" freio de estacionamento nem tem a mesma eficiência, portanto o freio em si nunca deve deixar de ser acionado, especialmente em ladeiras.

8) "Pode segurar com acelerador numa ladeira": verdade!

O câmbio automático tem conversor de torque no lugar da embreagem. Assim, o torque é transmitido através de fluido hidráulico e, portanto, não há desgaste se você mantiver o pé no acelerador para segurar o carro em uma ladeira.

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9) "Causa mais desgaste dos freios": mito!

Quando o veículo está parado com o freio acionado, não há movimento relativo nos freios, portanto, não ocorre qualquer tipo de desgaste. Já em movimento, se forem seguidas as dicas do item 5 o nível de degradação será muito similar ao de um veículo manual.

Basta saber usar as funções que priorizam o freio-motor que seu automático não vai debulhar os freios
Basta saber usar as funções que priorizam o freio-motor que seu automático não vai debulhar os freios Imagem: Murilo Góes/UOL

10) "Engatar a ré em movimento quebra a transmissão": verdade!

Engatar a ré com o veículo se movimentando para frente pode causar um choque muito intenso em algumas peças do câmbio, levando à quebra. Por sorte, a grande maioria das caixas atuais possui uma trava que evita que a alavanca deslize para o R no caso de um esbarrão, por exemplo, e até mesmo um dispositivo de salvaguarda que, a velocidades mais altas, impede o acionamento efetivo da marcha à ré mesmo quando a alavanca eventualmente vai parar nessa posição.

*Com matéria de maio de 2017

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