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Por que Dolphin Mini deve fazer sucesso mesmo após frustrar consumidores

Desde o fim do ano passado, o Dolphin Mini tem gerado expectativas no mercado brasileiro. O modelo chinês, chamado de Seagull em seu país de origem, foi rebatizado para o Brasil, para aproveitar o sucesso do Dolphin, carro elétrico mais vendido em território nacional.

Mas o que movimentou debates em fóruns e redes sociais foi o preço. A expectativa no fim de 2023 era que o Dolphin Mini chegasse por R$ 110 mil. Já no início de 2024, o rumor mudou. Mesmo com a alta dos impostos para elétricos, ele deveria vir por R$ 100 mil.

Então, a BYD anunciou R$ 10 mil de desconto para reservas na pré-venda. Assim, esses clientes tinham expectativa de pagar R$ 90 mil pelo hatch elétrico. Para comparação, o Polo, carro de passeio mais vendido do Brasil, tem sua versão de entrada, Track, tabelada em R$ 87.990, enquanto a topo de linha Highline sai por R$ 118.990.

O resultado foi um recorde de reservas em pré-venda (veja detalhes abaixo). Mas aí veio a realidade: o Dolphin Mini chegou por R$ 115.800. Para quem comprou na pré-venda, R$ 105.800.

Não pude ir à cerimônia de lançamento, mas colegas relataram que a BYD esperava aplausos efusivos ao anunciar o preço no evento, no fim de fevereiro. Porém, ganhou poucos e discretos aplausos da audiência. O clima era de decepção.

Como o público reagiu

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Imagem: Vitor Matsubara/UOL

Mas quem foi responsável pelos rumores de R$ 100 mil? Eles vieram, principalmente, da rede de concessionárias. A BYD, porém, nunca negou que o valor seria esse - embora não o tenha confirmado em nenhum momento. Além disso, a marca levou um grupo de jornalistas para a China no início do ano, que conheceram em primeira mão o Dolphin Mini.

A aposta desses colegas? O BYD chegaria ao Brasil na faixa dos R$ 100 mil. Isso reforçou a expectativa do mercado sobre o valor. A decepção, portanto, foi inevitável.

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Mas essa decepção teve efeitos práticos no mercado? Isso saberemos mais adiante, quando o Dolphin Mini já tiver alguns meses de vendas. Até porque as entregas do modelo importado vão se dar aos poucos - não se sabe nem se a BYD já tem lote suficiente para entregar toda a pré-venda.

É a pré-venda, aliás, o primeiro termômetro da reação do público ao preço do carro. De acordo com informações do jornalista João Anacleto, publicadas em seu perfil no Instagram e repercutidas também pela revista Quatro Rodas, no dia do lançamento, 28 de fevereiro, 3.343 pessoas fecharam o negócio por R$ 105.800.

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Imagem: Vitor Matsubara/UOL

Isso representa pouco menos de 45% da estimativa de 7 mil unidades que foram reservadas na pré-venda. Considerando que este foi apenas o resultado para o primeiro dia, a perspectiva é de que o modelo seja um sucesso, mesmo com o preço acima do esperado.

Dias depois, a BYD divulgou que, até 2 de março, o primeiro domingo após o lançamento, foram vendidas 7.600 unidades do Dolphin Mini. Porém, nesse número não entram só as unidades reservadas previamente, mas também as adquiridas posteriormente.

Por isso, não dá para considerar os 7.600 exemplares na comparação que será feita abaixo. O fato é que cerca de 45% das pessoas que efetuaram reserva fecharam negócio pelo preço de pré-venda, segundo informações apuradas por Anacleto com fontes na rede de concessionárias BYD.

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Abaixo da média, por enquanto

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Imagem: Vitor Matsubara/UOL

Os números do Dolphin Mini são preliminares. Além disso, mostram só as vendas consolidadas, não as desistências. É importante também ressaltar que expõem apenas o início do processo, e podem sofrer muitas modificações quando estiverem consolidados - se a BYD decidir divulgar essa informação no futuro.

Mas, teoricamente, mostram que o rumor dos R$ 100 mil pode ter sido benéfico ao menos para fechar negócios na pré-venda. Afinal, mesmo decepcionados, muitos consumidores podem ter optado por comprar o carro mesmo assim, para aproveitar os R$ 10 mil de desconto. Com isso, pagaram R$ 105.800, valor muito mais alto que os R$ 90 mil esperados, mas não tão superior aos R$ 100 mil estimados para a tabela cheia.

Por outro lado, isso só será realidade se, ao ter o balanço completo, inclusive com as desistências, a BYD apresentar um número muito superior aos 45%. Em 2023, houve diversos casos de pré-venda de sucesso no mercado brasileiro. Todos com percentual bem mais alto que o do Dolphin Mini.

Carro híbrido mais emplacado do Brasil no ano passado, o GWM Haval H6 teve apenas 8% de desistências de clientes que aderiram à reserva antecipada. Ou seja: 92% de negócios fechados, segundo a montadora.

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Foram 1.581 pedidos e 1.447 unidades vendidas, com apenas 134 reembolsos. Isso para o primeiro modelo da GWM, que àquela altura ainda estava formando sua rede de concessionárias. Além dos atributos do produto, o preço foi fundamental para o sucesso. Em vez de decepcionar, surpreendeu positivamente.

Porém, esses números já estão consolidados e fechados. Para o Ora 03, cujas entregas começaram no fim do ano passado, a GWM ainda não fechou o balanço - o que reforça o fato de que os números do BYD Dolphin Mini ainda podem mudar.

Outra que não teve grandes críticas aos preços foi a Rampage, modelo que marcou o início da produção nacional da RAM - no caso da Dakota, as picapes ainda eram vendidas como Dodge. O produto feito em Goiana (PE) começou a ser entregue no último trimestre do ano passado e causou uma revolução nas vendas de sua montadora.

Em 2023, a RAM foi a segunda marca com maior crescimento no mercado brasileiro, atrás apenas da BYD. E como foi o processo de pré-venda da Rampage, que começou cerca de dois meses antes do lançamento? 85% das reservas foram convertidos em vendas, de acordo com dados divulgados pela fabricante. Seus preços foram condizentes com aqueles que eram esperados.

A Ranger é outra que se deu bem em 2023. A partir de sua chegada, no segundo semestre, passou a ser vice-líder do segmento no resultado mensal, à frente da S10 - não deu tempo de ultrapassar o modelo da Chevrolet no acumulado do ano.

Seu sucesso afetou até as versões de topo da poderosa Hilux. Segundo fontes, a Toyota teve de trabalhar mais as configurações básicas do produto nas revendas, para conseguir manter participação.

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E, de acordo com informações da Ford, 100% das reservas feitas na pré-venda foram convertidas em negócios fechados. No caso da Ranger Raptor, os números ainda estão fechados, pois as entregas começaram no início de 2024. Porém, conforme a marca, dados preliminares também apontam que não houve desistência.

Posicionamento do Dolphin Mini

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Imagem: Vitor Matsubara/UOL

Mas claro que não é só o preço que define o sucesso de um produto. É apenas um fator importante de posicionamento. E os R$ 115 mil, se causaram decepção - podendo ou não ter prejudicado a pré-venda -, não estão fora do valor que o público-alvo pode estar disposto a pagar. Por outro lado, deixarão o carro com uma faixa de consumidores um pouco mais restrita.

Mas quem é o público do Dolphin Mini, e de que carros a combustão ele pode tirar vendas? Antes, é preciso contextualizar o Dolphin. O sucesso desse carro, lançado em 2023, tem algumas razões, mas a principal é a definição certeira do alvo: famílias com mais de um automóvel.

Modelos da linha Jeep são um bom exemplo para explicar, pois a marca tem uma gama que atende bem grupos que se tornaram clientes do Dolphin. Sabe aquela família que tem um carro entre R$ 250 mil e R$ 300 mil, como um Commander, e outro na faixa dos R$ 150 mil, a exemplo do Renegade?

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Para estas, o Dolphin se mostrou convincente como segundo carro, no lugar de um SUV compacto (grupo de que também fazem parte Creta, T-Cross, Tracker, Kicks e HR-V, entre outros). Nesse caso, na hora de pegar a estrada, a família vai de Commander (ou outro modelo na mesma faixa de preço).

Para a cidade, usa o Dolphin - o Ora 03 atende o mesmo perfil de público. Já existiam outros elétricos na mesma faixa, mas espartanos, muito pequenos e mal acabados.

Dolphin e Ora 03, no entanto, têm acabamento, espaço e tecnologia compatíveis com os de SUVs de R$ 150 mil. Na comparação com alguns, são até superiores nesses quesitos.

E o Dolphin Mini? Pensando no consumidor pessoa física, pode fazer sentido para aqueles que têm um SUV compacto - ou até um médio como Compass, Corolla Cross e Taos - como primeiro carro. Assim, o novo produto entraria como o segundo automóvel da família, no lugar de Onix, HB20 e Polo.

Por R$ 115 mil, a briga do Dolphin Mini por um lugar na garagem dessas famílias passa a ser com as versões topo de linha dos hatches compactos. Além desses, entra na disputa com as configurações de entrada de alguns SUVs subcompactos, como Pulse e Kardian, além do novo C3 Aircross (maior, mas com preço semelhante aos do Fiat e do Renault).

Vai dar certo? Esta é uma opinião que ainda não posso dar. Não fui ao lançamento e ainda não tive contato com o produto. O feedback de alguns colegas mostra certa decepção.

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As principais críticas ao Dolphin Mini são em relação ao desempenho e a economias que são o oposto da proposta do Dolphin e do Dolphin Plus - como a ausência de limpador de para-brisa traseiro. Mas, quando eu avaliar o produto de R$ 115 mil, farei outra análise para falar exclusivamente sobre os atributos e suas chances contra produtos a combustão na mesma faixa de preço.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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