Mulher trans negra: Ausência da rainha Cristal Lopez comove Carnaval de BH
O maior símbolo da folia na capital mineira não esteve nas ruas este ano à frente das baterias dos melhores blocos. Cristal Lopez, rainha absoluta do Carnaval de Belo Horizonte, ficou doente às vésperas da folia e segue internada em um hospital da capital mineira, onde se recupera com coroa na cabeça, plumas e paetês, conforme apurou o UOL.
Ela chegou a desfilar apenas no pré-Carnaval do bloco feminista Sagrada Profana. Mulher trans, negra e periférica, Cristal é a própria imagem da retomada do Carnaval democrático e com respeito a todos construído pelo povo da capital mineira.
O Carnaval de Belo Horizonte ressurgiu nos últimos anos devido a um grupo de jovens politizados que resolve recuperar a festa na cidade que era um deserto na folia.
Tanto que, num primeiro momento, foi fortemente reprimido pelo poder público que hoje busca abraçar a festa que celebra recorde de 3,6 milhões de foliões.
Coroada pelo povo
Primeira mulher trans a ter o título de rainha do Carnaval de BH, concedido pelo povo e não pela Prefeitura de Belo Horizonte, Cristal gosta de definir a folia como "uma alegria democrática".
Ela lembra sempre que na festa tabus sociais referentes ao gênero e à orientação sexual ficam mais leves. E que gostaria que fosse assim o ano todo. "Os homens héteros cis que no resto do ano ridicularizam as trans, no Carnaval se vestem de mulher. Por que no Carnaval se respeita todo mundo e depois esse respeito se perde? Fervo não está distante da política", diz ela em um vídeo sobre a folia.
Longe da festa, Cristal foi celebrada nos desfiles dos blocos dos quais é rainha: Garotas Solteiras, Alô Abacaxi, Magnólia, Angola Janga e Cintura Fina. Na Corte Devassa, onde também desfila reinante, foi aclamada também. O cantor Veronez, vocalista da Corte, afirma que a falta da amiga na folia é gigante. "A ausência da Cristal no Carnaval de BH 2018 é muito triste", avalia.
"A Cristal Lopez ser a cara e a rainha do Carnaval de Belo Horizonte só prova que é um Carnaval nascido das pessoas e não das instituições. Porque instituição nenhuma colocaria Cristal como rainha. Só as pessoas foram capazes de fazer isso. Tem coisa mais bonita do que ser aclamada pelo desejo democrático e não por algo imposto por cima?", diz.
"Estamos torcendo pela recuperação de Cristal e prometemos fazer uma festa de Carnaval assim que ela tiver recuperada", avisa Veronez.
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