O que acontece no seu corpo quando você tem um orgasmo
Ponto máximo da estimulação ou da atividade sexual, o orgasmo se manifesta por meio de um pico de prazer físico e/ou psicológico.
Só ou acompanhado, todo mundo é capaz de ter essa experiência, mas como a sexualidade compreende variados comportamentos e formas de vivenciá-la, e ainda é influenciada por fatores físicos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos, culturais, legais, religiosos e até espirituais, chegar lá requer autoconhecimento e adoção de algumas estratégias.
Nessa hora, consentimento, segurança, privacidade e habilidade para expressar os próprios desejos em uma parceria sexual são aliados.
No Brasil, 21% das mulheres nunca tiveram um orgasmo.
Para 30% a 36% delas é possível alcançá-lo por meio da penetração.
A maioria —60% a 70%— precisa de estimulação do clitóris. O sucesso dessa prática é de mais de 90%.
O que você ganha com isso
Os resultados dos estudos sobre os efeitos na saúde de ter um orgasmo ainda não estão totalmente estabelecidos porque a sexualidade humana é complexa e diversificada é não é possível generalizar.
Além disso, até o momento não se comprovou uma relação de causa e efeito entre o orgasmo e seus benefícios. Afinal, a maioria das pesquisas científicas foca nos aspectos negativos da sexualidade, como as ISTs (infecções sexualmente transmissíveis).
Apesar disso, o prazer sexual, quando exercitado em um contexto de direitos sexuais, como a equidade, não discriminação, autonomia e integridade física e psicológica, pode colaborar para a qualidade de vida e do sono, longevidade, redução do estresse e da dor, além da melhora da autoestima.
Todos esses potenciais efeitos são influenciados pelas seguintes situações:
- Alterações neurofisiológicas
- Mudanças hormonais
Você sente na pele a interação de corpo e mente
Como a genitália é uma região repleta de terminações nervosas que possuem conexões neurais, já a partir do momento em que o desejo começa e durante todo o processo de excitação, o sistema nervoso simpático e o parassimpático entram em ação.
A partir daí são observadas as seguintes alterações:
Aumento da frequência cardíaca, da pressão arterial, da sensibilidade da pele, ereção dos mamilos e tensão muscular.
A maior circulação sanguínea na região genital promove uma pressão dentro das veias do clitóris, provocando o seu entumecimento e dilatação; nos homens, o sangue se dirige para os corpos cavernosos do pênis, garantindo a ereção.
A secreção da vagina aumenta, ela se alonga e se dilata.
Quando o estímulo sexual continua, as ações do sistema nervoso alcançam o seu auge: é aí que aparecem os reflexos que provocam o orgasmo.
A liberação súbita da tensão sexual (entre homens e mulheres) aciona uma cascata de neurotransmissores: opioides, endocanabinoides, serotonina, dopamina e noradrenalina. Juntos, eles promovem a sensação de satisfação, sonolência e relaxamento completo.
Você fica com os hormônios a mil
O orgasmo ativa o hipotálamo que tem entre suas funções o estímulo da hipófise. O resultado é o desencadeamento da secreção de hormônios como a prolactina e da ocitocina.
Essas mudanças não estão totalmente esclarecidas, mas sabe-se que a ocitocina facilita a aproximação física entre os parceiros e ainda estimula as contrações orgásmicas.
Outros hormônios estarão ativos nessa hora, como estrogênios, androgênios, cortisol e feromônios, que atuarão no sentido de tornar a pessoa mais disponível para o sexo, estimular fantasias, promover a lubrificação, etc.
Entre os homens, durante as fases do desejo e da excitação, a testosterona está altamente ativa. Junto aos neurotransmissores relacionados à recompensa, o hormônio garante uma sensação de prazer, o que também estimula a conexão entre os parceiros.
O passo a passo do orgasmo feminino
Apesar da complexidade e da diversidade da sexualidade humana, os cientistas observaram e descreveram as etapas do que eles denominaram resposta sexual. Confira:
Desejo - ele pode ser espontâneo ou responsivo.
Excitação - é desencadeado por estímulos cognitivos e táteis. Tem início com o relaxamento dos vasos sanguíneos e a consequente maior concentração de sangue na área genital, lubrificação e dilatação do clitóris.
Orgasmo - ainda não foi desvendado como se dá a passagem entre a excitação e o orgasmo, mas este é marcado por contrações que podem ter a duração de cerca de 15 segundos (isso varia de pessoa a pessoa).
Satisfação - sensação de prazer e proximidade (no caso de parceria).
Orgasmo feminino x masculino
Apesar de o orgasmo em ambos os sexos promover a contração da musculatura da região pélvica, do períneo e esfíncter anal, homens e mulheres apresentam ligeiras diferenças em relação ao clímax.
Entre as mulheres, o orgasmo não é condição essencial para a concepção, enquanto nos homens o orgasmo coincide com a ejaculação, cuja função é a fertilização do óvulo.
Para elas, nem sempre ele estará presente, mesmo após o período de excitação sexual. Isso se dá porque o orgasmo requer a complexa combinação de estímulos psicológicos e também físicos.
Ter um orgasmo seguido de outro é uma possibilidade entre as mulheres, enquanto os homens podem precisar de alguns minutos, horas e até dias até que outro episódio aconteça.
O que atrapalha o meio de campo
Veja alguns dos fatores que colaboram para a ausência ou a dificuldade de ter um orgasmo (anorgasmia):
Falta de conhecimento sobre as funções sexuais
Fadiga, estresse ou depressão
Receio de se comunicar ou problemas com a parceria
Histórico de abuso ou violência
Problemas de saúde: endometriose, algumas doenças crônicas; alterações hormonais, uso de determinados medicamentos para tratar a depressão (em especial os inibidores seletivos da captação da serotonina, como a fluoxetina e a sertralina)
Quando procurar ajuda
Algumas mulheres nunca tiveram um orgasmo, mesmo quando se sentem excitadas. Não há nada de errado com isso, desde que tais circunstâncias não sejam causa de algum tipo de sofrimento.
Quando isso acontece, a melhor forma de resolver a questão é consultar um(a) ginecologista. Caso seja necessário, o(a) profissional poderá indicar uma consulta com um(a) sexólogo(a), especialidade que se dedica ao comportamento e à promoção da saúde sexual.
Fontes: Estella Thaisa Sontag dos Reis, ginecologista e obstetra, especialista em reprodução humana, ginecologia endócrina e sexologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. É titulada em reprodução humana e sexologia pela Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e médica assistente da Clínica Genesis, em Brasília (DF); Marina Carvalho, psicóloga, mestra em psicologia clínica pela PUC-SP, especialista em sexologia pelo Inspsic (Instituto Português de Psicologia e outras Ciências), e doutorado em sexualidade humana pela Universidade do Porto; e Lorena Magalhães, ginecologista e sexóloga do Hupes-UFBA e MCO-UFBA (Hospital Universitário Professor Edgard Santos e da Maternidade Climério de Oliveira, da Universidade Federal da Bahia), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). Revisão médica: Estella Thaisa Sontag dos Reis.
Referências:
Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia)
ACOG (Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia)
APA (Associação Americana de Psicologia)
WAS (Associação Mundial para a Saúde Sexual)
Georgiadis JR et al. Regional cerebral blood flow changes associated with clitorally induced orgasm in healthy women.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17156391/#:~:text=In%20contrast%2C%20orgasm%20was%20mainly,gyrus%20and%20anterior%20temporal%20pole.
Izan H. Ishak MFamMed et al. Prevalence, risk factors, and predictors of female sexual dysfunction in a primary care setting: a survey finding.
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1743609515331581?via%3Dihub
C H N Abdo et al. Prevalence of sexual dysfunctions and correlated conditions in a sample of Brazilian women--results of the Brazilian study on sexual behavior (BSSB).
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/14961047/#:~:text=At%20least%20one%20sexual%20dysfunction,(OD)%20by%2021%25.
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