O que acontece nos seus olhos quando você não tira as lentes de contato

Apesar das variadas opções de lentes de contato hoje disponíveis, elas não são para todos. É essa a opinião dos oftalmologistas que afirmam que, para aproveitar ao máximo os benefícios de usá-las, é preciso "ter maturidade", além da essencial indicação médica.

O motivo dessa cautela se justifica: os olhos precisam de condições favoráveis para se manterem saudáveis. Basta um descuido e o uso desses dispositivos pode levar a complicações que, quando ignoradas, colocam em risco a sua visão.

140 milhões de pessoas em todo globo são usuárias de lentes de contato

75% deles são adultos. A idade média deles é 31 anos

2/3 desse grupo são mulheres. Os dados são dos EUA

O que você ganha com isso

Os oftalmologistas consultados esclarecem que o tempo máximo de uso diário das lentes de contato varia a depender do tipo, das indicações do fabricante e do objetivo terapêutico buscado com o seu uso.

Apesar disso, a recomendação é que, para se garantir, o ideal é utilizá-las por, no máximo, 12 horas, reservando um tempo diário de descanso para os olhos.

Quando isso não acontece, seja por esquecimento ou por alguma situação social que impede que essa pausa ocorra, as consequências mais frequentes são as seguintes:

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  • Irritação
  • Hipóxia corneana
  • Infecções

Você sente que tem areia no olho

A integridade do seu olho é mantida pelo filme lacrimal, também conhecido como lágrimas, cuja função é nutrir, lubrificar e proteger a região de infecções, porque ele é rico em anticorpos.

Sem essa umidade, o olho pode secar, danificar-se, abrindo espaço para o depósito de partículas e impurezas.

Esquecer de tirar as lentes ou de mudá-las no tempo certo modifica a interação entre a lágrima e a córnea (tecido transparente que fica na parte da frente do olho). As lentes perdem sua eficácia, passam a incomodar e ainda facilitam a proliferação de microrganismos.

Em geral, a primeira consequência é um desconforto ou dor, que podem ser percebidos como uma sensação de ter areia nos olhos, vermelhidão ou redução da visão.

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Caso isso aconteça, a ordem é retirar imediatamente as lentes e procurar ajuda médica para uma avaliação.

Você impede que os olhos "respirem"

Para funcionar como devem, os olhos precisam de oxigenação. O uso abusivo da lente pode atrapalhar esse processo, levando ao que os médicos chamam de hipóxia corneana, ou seja, o não suprimento da demanda de oxigênio da córnea.

Um dos primeiros sintomas dessa condição é o inchaço (edema epitelial).

A falta de oxigenação também facilita o aparecimento de pequenas veias na córnea (microvascularização).

Quando a hipóxia é crônica, há risco de alterações no formato da córnea e a manifestação de astigmatismo.

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Você facilita o aparecimento de infecções

Infecções por microrganismos como fungos, bactérias e até protozoários constituem a maior preocupação dos oftalmologistas em relação aos pacientes que usam lentes de contato.

Além do descuido com a higiene e o manuseio, deixar de tirar as lentes ou de mudá-las no momento certo altera as condições de saúde da córnea: elas ficam mais suscetíveis a lesões (abrasões), o que abre as portas para inflamações e infecções.

As mais frequentes delas são as chamadas ceratites bacterianas; as mais raras são as infecções por fungos (ceratites micóticas) e as por protozoários (ceratites por Acanthamoeba).

Tipos de lente

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Imagem: Thomas Trutschel/Colaborador Getty Images

Nos consultórios médicos, os mais indicados são as lentes de contato rígidas e as gelatinosas.

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Rígidas: são as feitas de um tipo de material mais firme e têm a vantagem de facilitar maior fluxo de oxigênio nos olhos. No entanto, requerem maior precisão no processo de adaptação.

Gelatinosas: são a preferência de 90% dos usuários por serem mais fáceis de adaptar e porque possuem variadas apresentações: elas podem ser descartáveis, de uso prolongado, especiais para astigmatismo, além de coloridas ou decorativas.

Rígidas ou gelatinosas todas devem ter perfeita adaptação à curvatura da córnea, o que deve ser avaliado por um oftalmologista.

O mesmo se aplica às lentes cosméticas: disponíveis em diferentes padrões, elas são pintadas. A tinta reduz significativamente a passagem do oxigênio através do material da lente, o que, potencialmente, pode prejudicar os olhos.

Conheças as indicações

As lentes de contato são definidas como pequenos discos transparentes feitos de diferentes materiais plásticos. Ao flutuarem sobre a lágrima, elas melhoram a visão.

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Assim como as lentes dos óculos, as de contato podem corrigir erros de refração (a forma como o olho foca a luz), como a miopia, o astigmatismo, a presbiopia, etc. —e também irregularidades e problemas na superfície ocular.

Confira outras indicações:

Ópticas: miopia de grau elevado, cicatriz na córnea, ceratocone, etc.

Terapêuticas: doenças da córnea (abrasões por trauma ou pós-cirúrgicas).

Doenças da íris: albinismo, aniridia (ausência de tecido da íris).

Além disso, as lentes podem ter indicação pediátrica, preventiva, diagnóstica, ocupacional, entre outras.

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Tem contraindicação, sim!

Elas não beneficiam a todos, começando pelo fato de que requerem um cuidado que exige disciplina diária. Para além disso, algumas doenças e condições de saúde podem impedir que elas sejam usadas com segurança.

Presença de conjuntivite alérgica descontrolada, uveíte, degeneração da córnea, olho seco severo, inflamações (como blefarites), etc. Enquanto tais quadros estiverem presentes, o uso de lentes é contraindicado.

Gravidez também é uma contraindicação (relativa): com as alterações hormonais, a curvatura da córnea pode ser alterada, tornando desconfortável o uso da lente.

Saiba reconhecer sintomas de infecção ou irritação

Quando se abusa do tempo de uso das lentes, as principais manifestações que sinalizam problemas são:

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  • Excesso de lágrima ou outro tipo de secreção
  • Sensibilidade à luz não usual
  • Coceira
  • Ardência
  • Dor (lembre que quem usa lente tende a não perceber a dor [hipoestesia]. Se ela está presente, evite ignorá-la)
  • Visão Turva
  • Inchaço
  • Olho seco

Como não dá para saber que tipo de problema se trata, ao perceber alguma mudança nos olhos, procure ajuda médica. Além disso, tome as seguintes providências:

Retire as lentes e não volte a usá-las até ser avaliado por um oftalmologista

Mantenha as lentes em seu recipiente e leve-as ao consultório para mostrar ao médico. É possível que, a partir do exame delas, seja possível descobrir a causa do problema

Dicas de uso seguro

Para aproveitar todas as vantagens do uso de lentes e manter a saúde dos olhos, organize-se para atender às instruções de seu médico e do fabricante. Para reduzir o risco de ter problemas, coloque em prática as seguintes medidas:

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Consulte um oftalmologista regularmente. Quanto mais cedo for a identificação de algum problema relacionado às lentes, mais fácil é a solução.

Tenha sempre uma nécessaire por perto com seus "materiais de limpeza".

Evite dormir com suas lentes, exceto quando esta é uma indicação médica. Ao fazê-lo, você aumenta o risco de ter infecções.

Lave muito bem as mãos quando for manejar as lentes. E antes de iniciar o processo, certifique-se de que as mãos estejam completamente secas.

Mantenha a lente longe de todo tipo de água porque há perigo de contaminação. Prefira tirá-las antes do banho (chuveiro e banheira) ou ao nadar.

Evite usar água (mesmo a filtrada) para conservar ou limpar as lentes. E lembre: saliva e água de coco também não substituem as soluções recomendadas.

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Limpe adequadamente com a solução recomendada por seu médico (ela é única para cada caso). Evite misturar uma solução "antiga" com uma "nova".

Troque a caixinha da lente a cada 3 meses, assim como as lentes no período recomendado pelo seu médico.

Fontes: Eduardo Rocha, professor de oftalmologia da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP; Luiza Toscano, médica oftalmologista do Hospital Universitário Lauro Wanderley da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) e professora de oftalmologia da Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba; e Patrícia Marback, oftalmologista com doutorado em ciências visuais pela Unifesp, preceptora da residência médica da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Córnea e Banco de Tecidos, instituição ligada ao CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia). Revisão técnica: Patrícia Marback.

Referências:

  • CDC (Centers for Disease Control and Prevention)
  • AAO (Academia Americana de Oftalmologia)
  • https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK587443/
  • https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK580554/

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