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O que acontece no seu corpo quando você consome probióticos

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Imagem: Arte UOL

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

21/03/2023 04h00

Capazes de turbinar as defesas do corpo, criar um escudo contra as inflamações, colaborar para a saúde dos sistemas gastrointestinal, nervoso e endócrino, os probióticos são um time de microrganismos vivos composto basicamente por bactérias e leveduras vivas.

Presentes em alimentos fermentados, eles podem ser adicionados a produtos alimentares e cosméticos, e ainda estão disponíveis na forma de suplementos.

  • A maioria deles reside naturalmente no seu corpo.
  • Atuam principalmente no trato gastrointestinal.

Operários do bem

Para promover a saúde de tantos sistemas do organismo, os probióticos trabalham em várias frentes.

A principal delas é inibir o crescimento de microrganismos causadores de doenças no sistema gastrointestinal. A ordem é dificultar a colonização (fixação) deles e melhorar o trânsito intestinal, equilibrando a microbiota. Além disso:

  • Produzem substâncias que reduzem a acidez (pH) do cólon;
  • Algumas espécies colaboram para a síntese de vitaminas, reforçam as barreiras de proteção intestinal e o metabolismo de gorduras;
  • Outras, atuam na ação de proteínas (atividade enzimática) e na neutralização de toxinas;
  • Há também as que promovem a produção de citocinas, relacionadas às defesas do corpo, também beneficiando os sistemas endócrino e nervoso.

O que é que você ganha com isso

O conhecimento sobre componentes microbianos da genética humana evoluiu, mas ainda há muita coisa a ser descoberta. Os resultados dos estudos mais importantes indicam que eles são potencialmente benéficos em variados quadros clínicos, entre os quais se destacam:

  • Dermatite atópica
  • Diarreia (na infância e após o uso de antibióticos)
  • Doença inflamatória intestinal
  • Síndrome do intestino irritável
  • Obesidade
  • Periodontite
  • Intolerância à lactose

Você fica com a pele fica lisinha e uniforme

O uso de probióticos tópicos e orais na dermatologia tem sido objeto de várias pesquisas abrangendo doenças como a acne, psoríase, dermatite seborreica, rosácea, melasma, feridas crônicas e até alguns tipos de câncer de pele.

  • Os dados mais consistentes se referem à dermatite atópica, uma forma comum de eczema. Os probióticos parecem melhorar os resultados terapêuticos quando complementam o tratamento convencional.
  • Ainda há dúvidas sobre quais seriam as melhores cepas a serem usadas, quando seria o momento certo da indicação, além da exatidão das doses a serem administradas.

Você reduz as idas das crianças ao troninho

Entre os pequenos, viroses causam infecções agudas que podem durar uma semana. Em geral, estão também presentes febre e vômitos.

  • Probióticos podem reduzir esses episódios em um dia. Os tratamento mais promissores são feitos com Saccharomyces boulardii, Lactobacillus rhamnosus (LGG) e Lactobacillus casei.
  • Alguns estudos, porém, mostram que manter a criança hidratada pode ser mais efetivo que o uso de probióticos. Os dados são do Instituto Nacional de Saúde (EUA).

Você se blinda contra efeitos nocivos dos antibióticos

Medicamentos como a eritromicina e penicilina podem alterar principalmente a microbiota intestinal, prejudicando o crescimento de microrganismos benéficos. A diarreia é um dos sintomas consequentes.

  • Os probióticos podem ser usados de forma preventiva. Por exemplo, dias antes de uma cirurgia.
  • Os mais utilizados são o LGG e a Saccharomyces boulardii. Eles beneficiam pessoas com idade inferior a 65 anos. Entre idosos o efeito não é o mesmo.
  • Quando a diarreia está associada à bactéria C. difficile em pacientes recebendo antibióticos, eles também são eficazes.

Você colabora para que a doença inflamatória intestinal pegue leve

Esse termo abrange inflamações crônicas do trato digestivo, e inclui a colite ulcerativa e a doença de Crohn. Dor de estômago e sangue nas fezes são incômodos frequentes.

  • Aqui, os probióticos são úteis como tratamento complementar.
  • Nos casos de colite ulcerativa, a Sociedade Britânica de Gastroenterologia reconhece que o benefício existe, mas é pequeno. Embora haja alívio de sintomas, é recomendado que ele não seja usado rotineiramente.
  • Já a doença de Crohn não responde do mesmo modo.

Você faz um acordo de paz com a síndrome do intestino irritável

Ela é caracterizada por dor ou desconforto abdominal, gases, mudanças no aspecto das fezes e frequência da evacuação. As suas causas não foram totalmente esclarecidas. Uma das hipóteses é que alterações na microbiota intestinal podem influenciar sintomas e o aparecimento da doença.

  • As evidências científicas mais consistentes mostram que combinar vários probióticos reduz sintomas, melhorando a qualidade de vida.
  • Ainda resta desvendar as cepas mais eficazes, dosagem e duração da terapia, além de qual paciente seria mais beneficiado, considerando seus sintomas predominantes (constipação ou diarreia).

Você pode até reduzir medidas

Estudos com animais mostraram que a microbiota intestinal influencia a reserva e o gasto energéticos, e não apenas a absorção de nutrientes da dieta. Os pesquisadores seguem analisando se esses efeitos se repetem entre humanos.

  • Os dados mais consistentes concluem que os probióticos são benéficos. No entanto, esses efeitos dependem de vários fatores: cepa, dose, duração do tratamento, além de características pessoais: idade, sexo e peso corporal.
  • Ainda não há consenso entre os especialistas, e mais investigações são necessárias para que se estabeleçam melhores critérios de indicação. As informações foram publicadas pela revista Nutrition Review.

Você passa a ter o hálito mais fresco

Doenças periodontais (inflamações e infecções das gengivas e da região que dá suporte aos dentes), halitose (mau hálito), cáries, infecções fúngicas, como o sapinho (candidose), parecem melhorar com o uso de probióticos.

  • Algumas pesquisas mostram bons resultados no tratamento complementar ao tradicional.
  • O desafio ainda é definir as melhores cepas, frequência de doses e as melhores formas de administração.

Você pode tomar mais leite

As diretrizes da Organização Mundial de Gastroenterologia (2017) sobre probióticos mostram que o uso destes pode reduzir os sintomas relacionados à intolerância de lactose.

  • Menos acessíveis, os Streptococcus thermophilus e subespécies de Lactobacillus delbrueckii são os probióticos mais eficazes na produção de enzimas que "quebram" a lactose. Na prática, os Lactobacillus acidophilus têm sido os mais utilizados nesses quadros.

Tem micróbio de todo o tipo

O seu organismo é habitado por uma comunidade formada por famílias de microrganismos de diferentes gêneros, espécies e cepas. Esse conjunto de micróbios é definido como microbioma.

  • Os gêneros de bactérias mais comuns são Lactobacillus e Bifidobacterium; nessa população se inclui também Streptococcus, Enterococcus, Escherichia e Bacillus, entre outros.
  • Entre as leveduras (fungos unicelulares), destaca-se a Saccharomyces boulardii. Para além desses tipos, vírus, fungos filamentosos e protozoários compõem esse ambiente.
  • Cada probiótico tem um efeito diferente. Uma cepa de lactobacilo pode ser eficaz no tratamento de determinada condição, mas isso não significa que outro, da mesma espécie, trará o mesmo resultado.

Fontes naturais

Alimentos fermentados também podem ser fonte de probióticos - iStock - iStock
Imagem: iStock

Provavelmente você já comeu alimentos que contêm microrganismos vivos.

  • Alguns tipos de queijos (provolone, cottage), o brasileiríssimo molho tucupi, bem como iogurtes são exemplos.
  • Kefir, kombucha (chá fermentado), missô (pasta à base de soja), kimchi (prato típico coreano feito com acelga), vinagre de maçã (não filtrado) também.
  • Produtos como leite, sucos, fórmulas infantis podem ter probióticos adicionados.

Um alimento funcional só pode ser classificado como probiótico após avaliação e aprovação pela Anvisa, e o fabricante deve esclarecer ao consumidor qual é o microrganismo presente e sua linhagem na embalagem.

Não confunda prebióticos com probióticos

Prebióticos são alimentos que não são digeridos pelas enzimas digestivas. As fibras são um exemplo (inulina, fruto-oligossacarídeos).

  • Os prebióticos também trabalham pela saúde intestinal, promovendo o crescimento dos probióticos do cólon. Ao serem fermentados pelos probióticos, eles liberam ácidos graxos de cadeia curta (acético, propiônico, butírico).
  • Quando se juntam prebióticos e probióticos, o resultado são os simbióticos, ou seja, formulações que potencializam a sobrevivência de probióticos no intestino.

Suplementar é bom, com a devida orientação

Os especialistas afirmam que eles são úteis em casos específicos, devem ser usados por tempo limitado e sob orientação de um profissional da área da saúde.

  • Como cada pessoa tem sua própria microbiota, diante de um quadro clínico, é preciso saber qual "família" de probióticos poderia beneficiá-la, e qual seria os melhores tempo de tratamento e dose indicada para ela.
  • Como o acesso à suplementação pode ser restrito, dado o seu custo, é importante tirar o melhor proveito de seus benefícios.

Fontes: Clóvis Massato Kuwahara, médico gastroenterologista, mestre em medicina e ciências da saúde, professor e preceptor do curso de medicina da PUC-PR campus Londrina, e endocopista do Hospital Universitário da UEL (Universidade Estadual de Londrina); Graziele Maria da Silva, nutricionista clínica, com mestrado e doutorado em ciências da nutrição e do esporte e metabolismo pela Unicamp; Haizza Monteiro, membro titular da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), médica colaboradora do Ambulatório Geral, Imunossupressores e Imunobiológicos do HUPE-UERJ (Hospital Universitário da Universidade do Estado do Rio de Janeiro); Humberto Maciel França Madeira, engenheiro agrônomo e professor titular do curso de biotecnologia da PUC-PR, além de coordenador da Área Estratégica de Biotecnologia e do curso de Especialização em Biotecnologia da mesma instituição; e José Narciso R. Assunção Júnior, cirurgião-dentista, doutor em estomatologia e membro da Câmara Técnica de Estomatologia do CROSP (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo), professor universitário e coordenador do Serviço de Estomatologia da Santa Casa da Misericórdia de Santos (SP). Revisão técnica: Clóvis Massato Kuwahara, Graziele Maria da Silva e Humberto Maciel França Madeira.

Referências:

  • Anvisa
  • Departamento de Suplementos Dietéticos do Instituto Nacional de Saúde (EUA)
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