Topo

Tomate no vinagrete, mas não em rodela: por que alguns adultos comem assim?

iStock
Imagem: iStock

Priscila Carvalho

Colaboração para o VivaBem

24/10/2022 04h00

Você já conheceu alguém que come tomate só no vinagrete, dispensando a versão clássica, em rodelas, na salada? Também existem pessoas que não gostam do abacate no tipo doce, como fruta, mas o aceitam na versão salgada, como guacamole. Mesmo parecendo esquisito para alguns, o nome para essa preferência em relação à comida é seletividade alimentar.

Esse quadro pode aparecer em qualquer faixa etária, porém tem maior relação com a infância e no período de introdução alimentar. É caracterizado pela recusa, aversão e dificuldade do hábito de comer, podendo se manifestar em padrões leves ou de maior restrição.

Geralmente está ligado a traumas, condições emocionais e memórias afetivas. "O contexto de introdução alimentar durante a infância deve ser um processo tranquilo e um ambiente agradável. Por isso, familiares e responsáveis devem ter paciência nesse processo, entendendo que a imposição ou briga para que a criança coma determinado alimento não auxiliará nas primeiras experiências alimentares positivas", destaca Heloísa Falcão, nutricionista do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR).

Essas ações na hora de introduzir determinados alimentos podem gerar traumas que perpetuam até a fase adulta. "Um ambiente desfavorável pode, sim, influenciar na alimentação. Aquela pessoa que sofreu um trauma vai fazer uma memória afetiva em relação àquele alimento. Qualquer oscilação pode interferir", explica Lígia Pereira, nutricionista e tutora do curso de nutrição da Faculdade Pernambucana de Saúde.

Como reconhecer a seletividade alimentar?

Uma pessoa pode não gostar de determinado alimento ou não ter preferência e apetite em relação ao prato. Mas quando existe uma tendência em rejeitar alguma comida, deve-se se atentar para algo fora do comum. Isso pode ocorrer em relação ao sabor, textura e até cor de alguma fruta, verdura ou legume.

Uma das maneiras mais clássicas de identificar se a pessoa sofre com a condição é se na hora da refeição ela separa determinado alimento do outro, sente enjoos ou náuseas ao ingerir alguma comida ou simplesmente não gosta de algum alimento quando ele está em outra textura —não gosta dele cru, mas come na versão cozida, por exemplo.

O maior problema nesse quadro é que a pessoa pode desenvolver carências nutricionais leves e até graves quando deixa de comer determinado alimento nas refeições. Também pode influenciar no lado emocional. "Pode ser um fator estressante para o indivíduo. A pessoa deixa de comer em alguns lugares e fica com fome em determinados ambientes", diz Priscila Almeida, nutricionista, mestre e doutoranda pela UnB (Universidade de Brasília).

guacamole - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Comer alimentos apenas em certos formatos e texturas, como o abacate apenas no guacamole, é sinal de seletividade alimentar
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Como melhorar os sintomas na prática?

As especialistas destacam que nunca se deve forçar alguém (criança ou adulto) a comer determinado alimento. Para comer algo novo ou diferente, o ideal é inserir o alimento aos poucos, em formatos diferentes e, pelo menos, 15 vezes.

No caso de crianças, se os pais querem que o filho coma algum tipo de alimento, deve-se introduzi-lo ainda na barriga da mãe. Na gestação, por meio do líquido amniótico, o bebê consegue absorver nutrientes e vai pegando gosto por determinados legumes, verduras e frutas. O mesmo ocorre na amamentação.

E são nos seis primeiros meses de vida que é importante avaliar o paladar da criança para futuros gostos. "A exposição dos alimentos é importante. Por isso, crie um ambiente que torne a hora da refeição prazerosa e gere um significado para ela comer", afirma Pereira.

O ponto principal é ter atenção no processo de introdução alimentar da criança, já que esse período é primordial para estabelecer um hábito alimentar saudável e que perdurará na fase adulta. "Uma vez que a seletividade alimentar já está estabelecida, o acompanhamento nutricional é importante para estabelecimento de estratégias que desmistificam a relação negativa com o alimento", reforça Falcão.

Segundo a nutricionista, é fundamental a tentativa de incluir alimentos em diferentes formas de preparo, iniciando pela adição deles em receitas que evidenciem menos o sabor e progredindo conforme aceitação até conseguir incluir o alimento in natura. A banana, por exemplo, pode ser experimentada cozida ou até colocada no meio da comida para que o gosto doce se misture ao salgado.

No caso dos adultos, investir em novas texturas ou cozimentos, principalmente para quem come fora de casa é uma saída. "Vale lembrar que você pode investir em diferentes formatos de comida. Em vez de colocar um tomate cru na refeição, faça ele no forno. Lembre-se que determinado alimento pode ser preparado de diversas maneiras", diz.