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Histórias de quem mudou hábitos em busca de mais saúde


Com paladar infantil, ela reaprendeu a comer aos 28: 'Agora amo salada'

Flávia passou a se alimentar de uma forma mais saudável desde 2018 - Arquivo pessoal
Flávia passou a se alimentar de uma forma mais saudável desde 2018 Imagem: Arquivo pessoal

Luiza Vidal

Do VivaBem, em São Paulo

17/02/2022 04h00

Quando era criança, a educadora infantil Flávia Pigozzi, 32, não comia quase nada, mesmo com os pais oferecendo diferentes tipos de comida. "Eu era bem enjoadinha", lembra. Mas isso perdurou inclusive na fase adulta. Até 2018, ela comia macarrão instantâneo todos os dias.

Quando completou 28 anos, morando em Dublin, na Irlanda, decidiu que não dava mais para continuar assim. Deu uma chance para as "comidas de verdade" e reaprendeu a comer. Desde então, se apaixonou por saladas, frutas e outros alimentos para os quais, antes, torcia o nariz. Veja a seguir o relato dela.

"Em 2018, passei um período no Brasil e quando voltei para a Irlanda não estava bem. Tinha problemas de relacionamento e engordei muito. Comia de forma compulsiva, jantava umas três vezes durante a noite.

As roupas não me serviam mais e estava sem praticar atividade física há 12 anos. Minha autoestima estava péssima. Resolvi procurar ajuda.

Encontrei uma brasileira, em Dublin, que é personal trainer. Sozinha, não ia conseguir me exercitar, precisava de alguém 'gritando' comigo. Ela também tinha umas especializações em nutrição e dava dicas de alimentação.

Eu pesava quase 63 kg, mas meu peso 'normal' era entre 55 e 56 kg. Estava acima do que costumava ter, não me reconhecia mais. Neste período, fiquei maluca, muito bitolada. Perdi 11 kg, porém me deu uma 'pane'.

Foi quando decidi procurar ajuda de uma nutricionista para comer bem, pois também precisava disso por causa do esforço que os exercícios físicos exigiam.

Flávia Pigozzi, 32 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Entre abril e julho de 2018, Flávia, que mede 1,59 metros, perdeu 11 kg
Imagem: Arquivo pessoal

Ela me passou um plano alimentar, com orientações para comidas mais saudáveis. Morria de preguiça de cozinhar, mas 'comida de verdade' a gente precisa fazer. Até hoje eu sigo o plano e faço acompanhamento com ela. Reaprendi a comer.

No começo, sofri, mas não forcei nada

Fui tentando incluir aos poucos cada alimento. Com a cenoura, por exemplo, ralava bem fininho e ia incluindo nos pratos. Com as saladas, como alface, eu sofri muito no início, colocava bastante limão no tempero para conseguir comer. Com o tempo, fui descobrindo outras formas saudáveis de temperar, além de molhos saborosos.

Um dia, um amigo me levou a um restaurante de saladas em Dublin. Foi paixão à primeira vista, agora eu só quero comer lá.

Com o tempo, comecei a incluir mais coisas, como proteínas (frango, peixe, camarão, carne ou ovo), além de quinoa, batata-doce, castanhas, azeitona.

Flávia Pigozzi, 32 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Antes de falar que não gosta, Flávia tenta experimentar. Abacaxi é uma das suas frutas favoritas
Imagem: Arquivo pessoal

Descobri que, na verdade, eu não gostava porque eu não experimentava. Foi assim com framboesa, morango e, recentemente, em visita à família no Brasil, com caju. Achei uma delícia!

Fiquei tão curiosa com os alimentos que comecei a pesquisar. Se tem alguma coisa que eu não sei se vou gostar, eu pesquiso e tento experimentar. Gosto, inclusive, de procurar receitas de molhos diferentes para tentar copiar.

Hoje, eu amo salada

Todos os dias, como um pote de salada, é muito gostoso. Minha meta, agora, é conseguir incluir mais vegetais. Mas sem pressão, minha nutricionista sempre fala que está orgulhosa de mim.

Minha família, então, nem se fala. Quando mando fotos para minha mãe do que estou comendo, como um pratão de salada ou arroz e feijão —algo que só experimentei com 28 anos— e ela não acredita.

Flávia Pigozzi - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Ela posta fotos das saladas nas redes sociais e nem os pais acreditam
Imagem: Arquivo pessoal

Até essa idade, a única fruta que eu comia era maçã. No entanto, quando estou no Brasil, por conta do calor, eu só como fruta. Amo morango, framboesa, abacaxi. Se tem alguma que não conheço, tento experimentar, de coração aberto. Fico até triste quando fico muito tempo sem comer fruta. Outra coisa que aprendi foi a beber água, me manter hidratada.

Quando era pequena, não comia nada

Minha mãe dava arroz com ketchup ou bacon porque era a única coisa que eu aceitava. Ela desistiu porque era melhor do que não comer nada. Minhas amigas também ficam chocadas, pois eu comia coxinha todo dia na faculdade, jantava só nuggets, risoles e pizza.

Quando fui morar em Dublin, em 2015, comia miojo nas jantas. Era fácil, só colocar na água fervendo e pronto. Acordava e comia bisnaguinha com requeijão ou manteiga, além de leite com achocolatado.

Hoje, sei que vão ter dias de comer uma besteira, mas tudo bem. É um equilíbrio.

Quando saio com meus amigos, óbvio que não vou rejeitar uma pizza ou hot dog. Mas tendo a preferir comidas mais leves, principalmente quando nos reunimos em casa.

Flávia Pigozzi, 32 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Flávia treina HIIT em casa, usa bicicleta ergométrica ou sai para correr
Imagem: Arquivo pessoal

Se não faço exercícios, sinto falta depois

Acordo, geralmente entre 8h e 8h30, e faço atividade física. Antes da pandemia, ia à academia para fazer circuito funcional. Depois, comecei a treinar HIIT em casa, além de aulas com a personal. Temos uma bicicleta ergométrica, então também uso.

Quando acordo e não faço nenhum exercício, parece que tem algo de errado. O dia fica estranho, não rende.

Desde que comecei o processo de reeducação, aprendi que alimentação saudável pode ser muito gostosa.

Também descobri como me desafiar, principalmente com exercícios físicos. Crio metas para sempre ir aumentando meu tempo de corrida, por exemplo. Mas ao mesmo tempo, sei respeitar meu corpo e os limites dele."

Reeducação alimentar: como iniciar?

Assim como Flávia, é importante que você comece a introduzir os alimentos aos poucos, de preferência com auxílio de um profissional. "Tente experimentar, antes de falar que não gosta", explica Sueli Longo, nutricionista e diretora da SBAN (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição).

Flávia Pigozzi, 32 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Flávia conseguiu aos poucos incorporar os hábitos saudáveis na rotina
Imagem: Arquivo pessoal

"Não é incomum a pessoa falar que não come nada e, quando você questiona se ela já experimentou determinado alimento, ela fala que não, pois não gosta da cor ou da textura. Mas e o sabor? Sempre falo para ela pelo menos tentar. É preciso estar aberta ao processo de experimentação", diz.

Ainda segundo Longo, tudo bem se a pessoa não gostar. Ela tem o direito de adorar, gostar ou não gostar. O importante é tentar ou, então, insistir em outras formas de consumir o alimento. É preciso estar, de fato, disposto a isso.

O primeiro ponto é experimentar as comidas em sua forma natural, sem muitos temperos. Depois disso, é possível criar estratégias, que é incluir temperos, castanhas ou sementes que dão crocância, ervas aromáticas, especiarias, azeite.

Como fazer disso um hábito? Com calma

"Você, na verdade, precisa ir praticando aos poucos", conta a nutricionista. "No começo, não terá o costume de incluir o novo alimento no prato, mas a partir do momento que você percebe que gosta e entende os benefícios para sua saúde, você entra no modo automático. A criação de um novo hábito envolve a repetição. Até que um dia vira algo natural."

Longo cita o processo de introdução alimentar dos bebês, após 6 meses, como um momento chave para incluir alimentos sólidos, como frutas, legumes e verduras.

Criança comendo fruta - iStock - iStock
Imagem: iStock

"É importante para a formação do hábito alimentar, quando há contato com alimentos novos, além de texturas e sabores. É um mundo de possibilidades e descobertas, quando ela irá definir o que mais gosta ou o que menos gosta", explica.

Segundo a nutricionista, é uma fase que demanda muita paciência, pois a criança pode não gostar num primeiro momento. No entanto, ao conhecer uma nova apresentação desse alimento, ela pode gostar.

O que não pode faltar na alimentação?

De acordo com a diretora da SBAN, uma alimentação saudável deve conter, prioritariamente, legumes, verduras e frutas. Além disso, cereais, grãos e proteínas (animais ou vegetais). Sem esquecer de outro fator fundamental: hidratação. Beba água!

"Podemos comer de tudo, mas precisamos gerenciar nossas escolhas, principalmente em relação ao sal, açúcar e gordura", explica. Isso quer dizer que tudo bem comer uma pizza vez ou outra, contanto que você tenha uma dieta equilibrado nos outros dias.

"Temos que pensar que a alimentação é fonte básica de nutrientes, com função importante para o corpo, tanto para a manutenção de saúde, como para a prevenção de doenças", diz. A nutricionista ainda lembra que, além de uma alimentação saudável, é fundamental incluir a prática de atividades físicas, cuidados com a saúde mental, e um bom controle do peso.