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Scooby diz ser viciado em sexo, mas vício não é só gostar muito de transar

Pedro Scooby diz em festa do "BBB 22" que é viciado em sexo - Reprodução/Globoplay
Pedro Scooby diz em festa do "BBB 22" que é viciado em sexo Imagem: Reprodução/Globoplay

Letícia Naísa

Do VivaBem*, em São Paulo

07/04/2022 13h47

Confinado na casa mais vigiada do Brasil há mais de três meses, o surfista Pedro Scooby falou na festa de quarta-feira (6) que ele e sua mulher, Cíntia Dicker, são viciados em sexo. "Chega a ser meio doentio. Cheguei a falar pra ela, 'olha, se tiver que usar alguma coisa, usa essa caixa de brinquedo aí", disse o brother. O surfista já tinha contado em outra ocasião que ele e a companheira são fãs de brinquedos eróticos.

Mas gostar muito de transar e ter uma libido alta não significa ser viciado em sexo. Na última versão da CID (Classificação Internacional de Doenças) da OMS (Organização Mundial da Saúde), esse tipo de vício é considerado como um transtorno do comportamento sexual compulsivo, mais frequente entre homens e associado a traumas na infância, como abuso sexual. Entre os sintomas do transtorno estão:

  • Não conseguir controlar impulsos sexuais
  • Transformar o comportamento sexual no foco da vida
  • Negligenciar outros interesses e áreas da vida em prol da atividade sexual
  • Sentir-se culpado ou estressado por não conseguir se controlar

Famosos como o ator Michael Douglas, o jogador de golfe Tiger Woods e o cantor Latino, que transava 10 vezes por dia até procurar ajuda, foram diagnosticados com o problema, que ainda é um tabu e difícil de tratar, já que a adesão ao tratamento é baixa por conta do estigma associado ao transtorno.

    Na descrição do problema, a OMS indica que o diagnóstico não deve ser feito com base em julgamentos morais ou religiosos. Se uma pessoa se sente culpada por transar por conta da religião ou dos costumes locais, não indica que ela tenha o transtorno.

    Gostar muito de fazer sexo, se masturbar ou usar brinquedos sexuais com frequência pode indicar uma libido alta, mas não são indícios de que alguém pode ter um transtorno. A frequência com que alguém transa também não necessariamente indica um problema, mas a falta de controle sobre o desejo sexual pode ser um sinal de alerta.

    Tratamento

    Não há cura para o vício em sexo, mas há como controlá-lo. O tratamento é realizado por psiquiatras, que avaliam a suspeita do paciente e dão o diagnóstico para, em seguida, receitar medicamentos que ajudam a controlar a busca excessiva por sexo —em geral, antidepressivos com propriedades ansiolíticas.

    Em paralelo, o paciente precisa passar por sessões de psicoterapia. A linha terapêutica mais indicada por especialistas é a cognitivo-comportamental, mas outras abordagens, como a psicodinâmica, podem ajudar pacientes cuja compulsão sexual está relacionada a problemas como abuso sexual sofrido na infância.

    O tratamento funciona como um treinamento, explica a psicóloga Priscilla de Castro, especializada em transtornos sexuais. "A terapia cognitivo-comportamental ajuda o indivíduo a se perceber de maneira funcional e questionar suas distorções de comportamento. O treinamento consiste em estratégias e ferramentas que a gente insere na vida daquele indivíduo para ajudá-lo a driblar suas dificuldades. Através disso, eles vão ressignificando seus comportamentos", diz

    O professor de psiquiatria Marco Scanavino, que coordena um ambulatório especializado em transtornos sexuais da USP, afirma que a psicoterapia também ajuda o paciente a lidar com variações de humor e gatilhos que podem pôr em xeque o tratamento. "É como se houvesse um estímulo maior para a parte afetiva da sexualidade em detrimento da vivência genital", diz. "O sexo é extremamente importante e benéfico para saúde mental. Por isso, o que a gente busca não é abstinência, mas um equilíbrio maior na prática."

    Onde buscar ajuda

    Coordenado pelo professor Baltieri, o ABSex (Ambulatório de Transtornos da Sexualidade), da Faculdade de Medicina do ABC, atende gratuitamente em Santo André (SP).

    A instituição coordenada pelo professor Scanavino, batizada de Aisep (Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo e de Prevenção aos Desfechos Negativos), também atende gratuitamente no Hospital das Clínicas da USP, em São Paulo (SP).

    Os interessados nos ambulatórios precisam entrar em contato e passar por uma triagem. Em paralelo, é possível frequentar reuniões do grupo de ajuda mútua D.A.S.A. (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos).

    *Com base nas informações de matéria publicada no dia 6/4/2021.