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Lesões por pressão: como evitar as feridas no idoso acamado ou cadeirante?

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Samantha Cerquetani

Colaboração para VivaBem

18/03/2022 04h00

Com o passar dos anos, os idosos podem ter doenças ou fraturas que ocasionam restrição ou perda da mobilidade, deixando-os acamados ou cadeirantes. Além do desconforto, ficar muito tempo deitado (ou em uma mesma posição) pode causar uma condição chamada de lesão por pressão —conhecida anteriormente como escaras de decúbito.

De acordo com Rômulo Lôbo, geriatra do Hospital Universitário Walter Cantídio e professor da Faculdade de Medicina da UFC (Universidade Federal do Ceará), trata-se de uma lesão de pele em algum local do corpo que esteja próxima de uma região óssea.

"Também é chamado de úlcera por pressão. Os idosos acamados pressionam o local com o corpo e a fricção com o lençol pode piorar. Além disso, a umidade agrava as lesões", explica.

Basicamente, o efeito da pressão do corpo sobre a pele traz como consequência uma vermelhidão no local, que pode virar uma ferida bastante profunda. É mais comum nos calcanhares, costas, glúteos, cóccix, orelhas, cabeça, omoplatas e ombros.

Essas lesões ocorrem quando há uma interrupção no fluxo de sangue para a pele. Surge uma área avermelhada e dolorosa, que pode ficar roxa. Se não for tratada, a pele pode se romper e surgir uma infecção.

Dependendo da gravidade e da condição física da pessoa, essas úlceras levam dias ou meses para cicatrizar. A situação se agrava quando a pessoa tem diabetes, já que a doença compromete o processo de cicatrização.

Por que elas acontecem com frequência em idosos?

Idoso na cadeira de rodas, mobilidade, pessoa com deficiência, velho - iStock - iStock
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O envelhecimento traz alterações que levam a uma predisposição às lesões cutâneas. É o que explica Christiane Machado, diretora científica da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia): "A pele fica mais delgada, mais frágil, com menos colágeno e uma circulação sanguínea menos eficaz. Isso torna a pessoa idosa mais vulnerável", completa.

Há aumento de rugosidade na pele, além da redução de glândulas que produzem a umidade e as gorduras naturais dos tecidos.

Outras condições que aumentam as lesões cutâneas em idosos são:

  • A necessidade de permanecer numa mesma posição;
  • Problemas circulatórios, que atrapalham o fluxo do sangue para os tecidos;
  • A necessidade de passar longos períodos internados;
  • Têm muito atrito (fricção) com lençol e cobertores;
  • Sudorese aumentada ou diminuída, ou seja, a pele fica ressecada ou muito úmida;
  • Alteração da sensibilidade da pele;
  • Higiene inadequada, principalmente quem depende de um cuidador para trocar a fralda ou ir ao banheiro;
  • Incontinência urinária e fecal, que deixa a pele úmida com mais frequência;
  • Desnutrição ou sobrepeso, já que o estado nutricional altera a cicatrização.

No entanto, não existe uma estimativa de quantos idosos são atingidos por esse problema no Brasil. Os especialistas afirmam que quanto mais doentes e debilitados, maior será a facilidade em ter essas lesões de pele.

Sabe-se também que os idosos internados em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e submetidos a cirurgias ortopédicas, principalmente após fraturas no colo de fêmur, apresentam mais lesões por pressão durante as internações.

Graus das lesões e tratamentos

Inicialmente, percebe-se uma vermelhidão na pele, que não desaparece, mesmo que mude a pessoa de posição. Algumas vezes, surge uma bolha no local, o que é mais frequente nos calcanhares.

As lesões por pressão são classificadas em graus ou estágios:

  • Grau I: vermelhidão que desaparece momentaneamente quando o local é pressionado;
  • Grau II: lesão atinge a epiderme (camada mais superficial da pele);
  • Grau III: há perda de toda a espessura da pele com lesão ou necrose de tecido subcutâneo;
  • Grau IV: ferida extensa e profunda, atingindo músculos e, muitas vezes, os ossos.

"O tratamento varia de acordo com o grau da lesão. O grau I, por exemplo, exige cuidados locais na pele, limpeza e aplicação de hidratantes. Isso evita o estresse excessivo e previne que a condição piore", explica Nathan Chehter, geriatra da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Em alguns casos, há a necessidade de pequenas cirurgias para limpeza e retirada de tecido desvitalizado. Situações mais graves necessitam de cirurgia plástica com enxerto de pele.

Atualmente, existem curativos que "limpam" as feridas, sugam à vácuo na intenção de manter a ferida sem umidade, promovendo a cicatrização.

Riscos de complicações

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Lesão deve ser tratada para não piorar e causar grande prejuízo
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Além do desconforto e da dor, algumas úlceras por pressão se tornam infecções cutâneas, uma vez que há proliferação de bactérias. Por isso, muitas vezes, indica-se o uso de antibióticos por semanas.

"Por vezes, nas feridas mais profundas, o osso pode ser afetado por uma infecção e ocorre a osteomielite, necessitando de um tratamento bastante longo com medicamentos", destaca Machado.

Além disso, conforme a infecção se espalha pelo corpo, o idoso pode apresentar confusão mental, arritmia cardíaca e fraqueza. Há ainda a questão do odor desagradável devido à infecção.

Dedicação em tempo integral

Emilia com a filha, personagem de VivaBem - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Emilia com a filha Janaína
Imagem: Arquivo pessoal

10 anos, 8 meses e 14 dias. Este foi o período em que Emília Pires ficou acamada. Em 2005, após um aneurisma, ela ficou em coma por cerca de um ano e meio. No hospital, passou por outras cirurgias e permaneceu internada por mais dois anos até ter alta.

"Logo no começo, minha mãe teve uma escara na região do cóccix. Ficou bastante infeccionada e precisou tomar antibiótico para combater as bactérias. Surgiu uma necrose no local e as enfermeiras faziam raspagem todos os dias", relembra Janaína Maximo, filha de Emília, que morreu em 2016.

Por conta do quadro delicado, ela também ficou tetraplégica e não sentia dor, mas sabia que tinha algo errado devido aos curativos e mudanças de posições. Maximo dividia os cuidados com a irmã e ambas se atentavam muito na hora do banho, olhando cada parte do corpo, para que não aparecessem mais lesões por pressão.

"Mesmo com todos os cuidados, quando minha mãe ficava internada surgiam algumas lesões na pele e a equipe médica precisava intervir. A gente aprendeu a cuidar dela e sempre conversávamos muito para ela saber o que estava acontecendo", finaliza.

É possível prevenir!

Estar acamado não significa necessariamente que a pessoa desenvolverá as úlceras por pressão. Mas para isso, é fundamental que os cuidadores (sejam os familiares ou profissionais de saúde) realizem algumas mudanças no dia a dia.

Para Lôbo, a primeira delas é ajudar o idoso a se mexer com mais frequência. "O ideal é mudar de posição a cada duas horas para melhorar a circulação do local. Isso evita que a pele fique lesionada e alivia a pressão local."

O geriatra destaca que, muitas vezes, o idoso não tem condições de relatar um incômodo ou dor. Por isso, é fundamental que os profissionais de saúde façam a vigilância para averiguar se há algum sinal de lesão. O cuidado deve ser redobrado em hospitais, durante as internações.

Vale destacar que a pele do idoso é muito sensível e é preciso se atentar para o lençol, que deve estar sempre bem esticado na cama, e as roupas usadas devem ser leves e confortáveis para não causar mais pressão na pele.

Outras recomendações:

  • Tomar cuidado ao mobilizar a pessoa, evitando o atrito na pele;
  • Investir em adesivos de pele em locais que são mais suscetíveis;
  • Usar colchões especiais com fluxo de ar e acolchoados para calcanhares, além de travesseiros;
  • Observar a pele pelo menos uma vez ao dia;
  • Manter a pele limpa e seca, mas hidratada com um produto adequado para estimular a circulação;
  • Evitar umidade na pele, principalmente em casos de idosos que usem fraldas;
  • Ter uma alimentação balanceada.