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Longevidade

Práticas e atitudes para uma vida longa e saudável


Bengala, andador, cadeira de rodas: quando é hora de idoso usá-los?

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Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

25/02/2022 04h00

Para o idoso, levantar-se, caminhar, virar e inclinar-se é fundamental para que ele não perca sua mobilidade e independência. No entanto, alterações inatas ao envelhecimento, ou mesmo distúrbios neurológicos (como demências) e musculoesqueléticos (como compressão por hérnia de disco) podem contribuir para um declínio motor e, por consequência, gerar disfuncionalidade, insegurança e risco de acidentes. No Brasil, um em três idosos acima de 65 anos sofre quedas.

Nesse sentido, dispositivos de assistência (bengalas, andadores e cadeiras de rodas) podem ajudar, compensando a função de articulações, músculos, ligamentos, tendões e ossos já não tão íntegros. Servem de apoio e auxiliam a sustentar peso e postura, a evitar deformidades, lesões, perdas de simetria, movimentos, velocidade e agilidade e a aliviar dores. Porém, é importante examinar as causas por trás, tratá-las e manter os treinos de força e equilíbrio.

"Quanto menos dependência tiver, melhor. Mas, se precisar usar algum desses aparelhos, não há problema", afirma Natan Chehter, geriatra membro da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, com uma ressalva: "Idoso e família precisam entender que não é simplesmente ir à farmácia e comprar qualquer dispositivo, isso precisa ser muito bem indicado. Se usar equivocado, pode até piorar a saúde".

Cada dispositivo apresenta vantagens e desvantagens e existem vários modelos. Após avaliar o paciente, geriatra, fisioterapeuta e ortopedista devem indicar qual fornece melhor estabilidade e liberdade. As prescrições (incluindo de altura) devem ser as mais específicas possíveis. O idoso deve ser ensinado quanto ao uso correto, num processo que pode levar até dois meses.

Bengala alivia um lado

Andador e dois tipos de bengala - iStock - iStock
Andador e dois tipos de bengala
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Esse "bastão" sobre o qual se apoia a mão ao andar costuma ser indicado para aliviar ou dividir a carga de um dos lados, de uma perna comprometida, lesionada ou com dor. Serve de ponto de apoio quando se levanta e a marcha (caminhada) está instável, prevenindo quedas e deixando a pessoa mais funcional.

Também é bem-vindo quando se tem tontura, ou se está em recuperação de cirurgia de joelho, que pode ainda estar travando devido a um desgaste.

"Existem modelos com apoio em forma de 'T', cabo que lembra o de um guarda-chuva, ou até mais baixo, para ajudar a se erguer do vaso sanitário. Quanto à forma de usar, deve ser do lado 'bom', junto do membro inferior saudável, para que a carga, na hora de apoiar a perna, não a sobrecarregue e seja distribuída para a bengala", informa Alexandre Stivanin, ortopedista da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia) e do Hospital Samaritano (SP).

A carga nos membros inferiores pode ser reduzida em até 20% do peso do indivíduo e, com isso, diminuir a compressão em articulações e favorecer o andar ao subir e descer escadas.

O comprimento do dispositivo deve estar de acordo com o cotovelo flexionado em ângulo aproximado de 20 a 30 graus e a mão sobre o seu apoio. Ou então coincidir com a altura do trocânter, proeminência óssea na lateral alta da coxa.

Stivanin cita ainda as bengalas com base de quatro pinos. "São mais estáveis que as tradicionais, mas a adaptação é mais difícil". Fora que quanto mais "parado" é o dispositivo, mais limitante é: reduz locomoção e velocidade.

Andador poupa esforço

Esse dispositivo entra em cena quando as bengalas não são suficientes. Geralmente, para casos em que as duas pernas estão frágeis e a instabilidade é maior, assim os braços precisam ser usados —e estarem fortalecidos— para dividir a carga colocada na marcha.

Pode ser algo temporário, enquanto o idoso se recupera de cirurgias maiores, em quadris, e faz fisioterapia. Também é necessário quando lesões neurológicas reduzem a força de maneira irreversível.

"Os andadores podem ser fixos e articulados e fornecem três a quatro pontos de contato com o solo. Dessa maneira, por meio do aumento da base, melhoram o equilíbrio, conferem maior estabilidade anterior e lateral e suporte para peso corpóreo. Propiciam também grande senso de segurança e confiança às pessoas que apresentam medo de cair ao andar", lista Francimar Ferrari, coordenador técnico do serviço de fisioterapia das UTIs do Hospital Esperança Recife.

Para usar o andador é preciso avaliar quanto tempo o idoso consegue permanecer de pé e como está seu campo visual, noção espacial e autopercepção. Se for mal indicado ou usado inadvertidamente, o dispositivo, por reduzir a agilidade e velocidade de marcha, pode piorar, eventualmente, a mobilidade, que pode não ser mais recuperada. Corre-se ainda o risco de se perder massa muscular, desacostumar o andar e, progressivamente, incapacitar a locomoção.

Rodas servem de pernas

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Quando o idoso não é mais capaz de andar, dispositivos com rodas são recomendáveis. Mas, de novo, se não tiverem acompanhamento médico e uso certo podem cursar com problemas tão graves quanto os mencionados sobre os andadores. Bengalas igualmente não escapam de acarretar alguns efeitos colaterais sérios: sobrecarga em punhos e com isso dores e lesões, aumento de fraqueza, por falta de estimulação e atrofia do membro inferior "economizado".

De volta às cadeiras de rodas, no geral, estão atreladas a uma condição mais incapacitante e frágil, às vezes em que não se tem nem resistência nos braços para usar andador. Para pessoas com força nos membros superiores ou hemiplégicas (paralisadas só de um lado), mas com boa coordenação, há as que podem ser movimentadas com um ou dois braços. Já outras são feitas para serem empurradas por cuidadores e por isso oferecem menos estabilidade e velocidade.

"Agora, prescreve-se as motorizadas para quando o idoso não consegue andar, mas tem habilidade cognitiva para pilotá-las. Esses dispositivos agregam independência em relação às cadeiras de rodas convencionais. Não precisam de alguém que empurre, nem de coordenação nos braços para movê-las", explica Paulo Camiz, geriatra e professor de clínica geral do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).