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'Usei o chip da beleza e engordei, minha voz engrossou e perdi a libido'

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Janaína Silva

Colaboração para VivaBem

16/01/2022 04h00

Alcilena Magalhães, 51, de Manaus (AM), foi orientada por sua médica a utilizar o dispositivo hormonal chamado "chip da beleza" após uma histerectomia total (retirada do útero). Ela não sabia do que se tratava e pensava apenas em sua saúde. Sua preocupação não era estética, mas a dificuldade de emagrecer os quilos ganhos a acompanha há dois anos.

"Era outubro de 2019 e minha ginecologista recomendou que eu implantasse o tal 'chip da beleza'. Iria fazer a cirurgia para retirada do útero e a médica disse que o hormônio subcutâneo era indicado para que eu emagrecesse e ganhasse massa magra.

Naquele momento, pensava exclusivamente na minha saúde, não existia preocupação estética, mesmo porque nunca tinha ouvido falar no termo. Confiei e sequer pesquisei ou consultei outro especialista. Paguei, na época, R$ 3.000 pelo implante.

A médica não fez outros alertas e quero por meio da minha história evitar que mais mulheres passem por esse processo desgastante que afetou minha saúde e o emocional, quase me levando a uma depressão.

Um mês depois da histerectomia, fui ao consultório médico para fazer o implante na região dos glúteos, em uma microcirurgia.

Em pouco tempo —cerca de um mês—, já percebia os efeitos, porém demorou um pouco para que eu começasse a associar os sintomas ao chip. Os primeiros foram os quilos extras: já estava me sentindo acima do peso e continuei a engordar, mesmo tendo mudado a alimentação. No total, foram dez quilos, sendo que eliminei, até o momento, seis deles.

Alcilena Magalhães - antes e depois - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O tempo entre as imagens é de menos de 1 ano; à esquerda quando ainda não havia iniciado os treinos; à direita, já havia emagrecido parte do que engordou
Imagem: Arquivo pessoal

Minha voz ficou mais grossa e grave. As pessoas não me reconheciam quando eu ligava para elas. Havia sempre o estranhamento se quem estava falando era eu mesma.

O agravante foi a pandemia. Comecei a engordar e, ao entrar em contato com a médica nesse período, ela orientou que eu fizesse atividade física. As academias permaneciam fechadas e havia a recomendação de não sair de casa. Além dos quilos extras, tinha a sensação de estar muito inchada também. Tomava muito diurético, mas não ajudava em nada a reduzir o inchaço.

A libido também foi afetada. Cheguei a me consultar com outro especialista que indicou o uso de hormônio em pomada, mas não notei melhora e suspendi por conta própria.

Tudo isso prejudicou minha autoestima, sentia-me triste e quase tive depressão.

Esse processo levou um ano. Constatei essas manifestações até outubro de 2020, diferente do que a ginecologista havia explicado —que o organismo levaria seis meses para absorver os hormônios do implante.

Agora, quase dois anos depois da aplicação do 'chip da beleza', tenho um personal trainer para acompanhar minhas atividades físicas. Intensifiquei os treinos cardiovasculares sob a supervisão dele e só assim consegui emagrecer. Ainda faltam os quatro quilos dos dez que ganhei.

Foi a pior fase da minha vida: aprendi da pior forma."

Uso não recomendado

Os chamados "chips da beleza" não são autorizados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e não são recomendados pela SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia). No fim de 2021, a Anvisa inclusive proibiu propaganda da gestrinona e de produtos que contêm essa substância e, ainda, disse que esses itens são um "risco à saúde pública".

Alcilena Magalhães atualmente - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Alcilena Magalhães atualmente
Imagem: Arquivo pessoal

"Como o próprio nome diz, a finalidade é apenas estética. Esses implantes contêm uma quantidade de testosterona e gestrinona, derivados androgênicos que elevam os níveis suprafisiológicos no sangue, estimulando a síntese de proteínas que acarretam aumento da massa muscular. Por conta disso, ocorrem as complicações, entre elas a voz grossa, por isso não é recomendado", explica Dolores Pardini, médica endocrinologista, chefe do ambulatório de climatério e menopausa da disciplina de endócrino da EPM-Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo) e ex-presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional São Paulo).

Entre os efeitos, além da alteração na voz, estão a acne, o crescimento de pelos e a clitoromegalia —aumento atípico do clitóris.

Existem implantes com duração de quatro meses e outros de seis meses. Dependendo da dosagem, seus efeitos podem permanecer por mais tempo e deixar sequelas. Na menopausa fisiológica ou precoce, a reposição hormonal é feita, desde que não haja contraindicação. No Brasil, há vários tipos de reposição, porém não o implante.

Já em relação à histerectomia total —em que se retira o corpo e o colo do útero— ou parcial, apenas o corpo do útero, a reposição não é necessária, mas deve ser feita se os ovários forem removidos.