Cigarro, má alimentação, sedentarismo: 5 hábitos que deixam você doente

Não importa se a consulta é com o cardiologista, o endocrinologista ou o neurologista (entre outras especialidades): é quase certeza que todos eles vão falar da importância de se manter um peso saudável, dormir bem, praticar atividade física e manter outros hábitos que fazem bem.

E existe uma razão por trás disso: de acordo com dados do estudo The Global Burden of Diseases, que se dedica a produzir evidências sobre o estado geral de saúde no mundo todo, as top três doenças que mais matam no planeta hoje não são infecciosas e, sim, ligadas aos hábitos de vida. A tríade é formada por:

  • doença cardíaca isquêmica (principalmente infarto agudo do miocárdio)
  • AVC (acidente vascular cerebral)
  • doença pulmonar obstrutiva (DPOC)

O dado é corroborado por outra constatação, dessa vez, vinda da OMS (Organização Mundial da Saúde). Os números da entidade afirmam que as doenças não transmissíveis são responsáveis por 74% das mortes no mundo todo e fecham o "top 5" de patologias crônicas mais letais com mais duas:

  • câncer de traqueia, brônquios e pulmões
  • demências, como o Alzheimer

Tudo isso impõe, claro, um desafio enorme para os sistemas público e privados de saúde de todas as nações, especialmente se pensarmos que, com o envelhecimento populacional na maioria dos continentes, essas doenças serão cada vez mais frequentes.

"Nesse sentido, escalar programas de saúde populacional para doenças crônicas não transmissíveis tem sido um enorme desafio para líderes de saúde em todo o mundo", afirma o radiologista Leonardo Vedolin, diretor da área médica e cuidados integrados da Dasa. "E sabemos que os desfechos positivos dependem de uma série de fatores, incluindo o acesso ao atendimento de saúde de qualidade", diz.

É justamente aqui que entramos na preocupação e nas recomendações dos médicos (independentemente da especialidade) para mudar os hábitos de vida, que têm um papel fundamental na prevenção e no aumento de risco para essas doenças.

"Excesso de calorias na alimentação, sedentarismo e todos os hábitos que já conhecemos expõem as pessoas a um impacto que vai alterar o metabolismo e aumentar o risco de problemas de saúde", acredita o endocrinologista Renato Zilli, membro da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e médico do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

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Ok, mas quais seriam os hábitos de vida ruins mais frequentes hoje e que estão ligados às cinco doenças que mais matam no mundo atualmente? Confira a lista a seguir:

1. Tabagismo

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O uso de tabaco é um dos maiores fatores de risco para todas as cinco doenças que mais matam no mundo atualmente. Os dados são assustadores: doenças ligadas ao cigarro causam a morte de cerca de oito milhões de pessoas no mundo todo a cada ano.

De acordo com o Johns Hopkins Hospital, nos Estados Unidos, o tabaco e outras toxinas encontradas no cigarro aumentam a pressão arterial, danificam os vasos sanguíneos do corpo, aumentam o risco para a formação de trombos e ainda reduzem a oxigenação dos órgãos, incluindo o cérebro.

Por isso, a instituição americana estima que os fumantes têm um risco até quatro vezes maior de sofrer com doenças cardiovasculares, além de dobrar o risco de sofrer um AVC.

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Não para por aí. A fumaça de cada tragada também é o principal fator de risco para desenvolver DPOC e câncer de pulmão (que incluem tumores em estruturas respiratórias como traqueia e brônquios).

"Mais de 80% dos casos de tumores desse tipo estão relacionados ao cigarro", afirma Aknar Calabrich, oncologista especialista em câncer de pulmão da Clínica AMO, em Salvador. A médica lembra ainda que o uso do cigarro está ligado a outros tipos de câncer, como de cavidade oral, laringe, bexiga, rim e pâncreas, entre outros.

Os problemas cardiovasculares e a falta de oxigenação no cérebro também são um prato cheio para causar danos ao sistema nervoso central. "Diabete tipo 2, hipertensão arterial, obesidade, doenças cardíacas e colesterol alto são fatores associados a um risco aumentado para demências e doença de Alzheimer", afirma Diogo Haddad, neurologista do Hospital Nove de Julho, em São Paulo.

"Essas condições podem afetar a saúde cerebral de várias maneiras, incluindo o comprometimento do fluxo sanguíneo para o cérebro e a inflamação crônica dos tecidos", explica.

2. Sedentarismo

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Trabalhar sentado em frente ao computador por horas a fio é uma realidade para muita gente. No entanto, ficar sentado por muito tempo pode aumentar, sim, o risco de morte. É o que diz um estudo de 2022, mostrando que passar seis a oito horas por dia sentado aumenta em até 13% o risco de morte precoce ou por doenças cardíacas. Se o tempo for mais de oito horas por dia, esse risco sobe para 20%.

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Por isso, o sedentarismo é considerado pela OMS como um hábito que aumenta o risco de problemas cardiovasculares, câncer e diabetes tipo 2, além de favorecer o ganho de peso e obesidade —doença que também têm impacto negativo na saúde do coração.

"Infarto e AVC são eventos agudos geralmente causados por um bloqueio que impede que o sangue flua para o coração e o cérebro, respectivamente", explica Alexandre Siciliano, médico cardiologista do Hospital São Lucas de Copacabana, no Rio de Janeiro.

"E a razão mais comum para isso é justamente o acúmulo de gordura nas paredes internas dos vasos sanguíneos, problema que está ligado a causas ambientais, como obesidade, inatividade física e uma dieta não saudável", afirma.

3. Má alimentação

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É um dos maiores fatores de risco para desenvolver obesidade e diabetes tipo 2, doenças que têm impacto significativo na saúde do coração e dos vasos sanguíneos do corpo humano.

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Mas a alimentação também é uma questão complexa, afinal, a própria OMS admite que uma dieta saudável nem sempre está acessível para grande parte da população global, com cerca de três bilhões de pessoas vivendo sem a possibilidade de consumir comida considerada nutritiva pelos padrões das associações médicas mundiais.

Outro desafio importante é o aumento dos chamados ultraprocessados, alimentos feitos com altas quantidades de sódio, açúcar, gordura e aditivos químicos. Nos últimos anos, estudos têm ligado o alto consumo desse tipo de produto ao aumento de doenças cardiovasculares e de câncer de intestino na população.

Por isso, entidades como a AHA (American Heart Association) recomendam limitar a quantidade de alimentos processados que consome por dia, além de monitorar os limites diários de sódio e açúcar na alimentação e planejar as refeições com antecedência para conseguir ter refeições frescas e caseiras à disposição, evitando os deliveries.

4. Dormir mal

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Uma pesquisa realizada por especialistas brasileiros da USP e da Unifesp mostrou que 65,5% dos brasileiros têm problemas para dormir. Pode parecer banal, afinal, muita gente dorme mal e ainda assim consegue performar bem no dia seguinte. Só que, ao longo do tempo, isso vai ter um preço no corpo.

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Isso porque, para o organismo, dormir é tão essencial quanto comer ou respirar. A ciência sabe hoje que diversos processos metabólicos só acontecem quando estamos dormindo —ou seja, pular essa etapa, ou realizá-la de forma ruim, é um problema.

Um estudo realizado no Reino Unido, por exemplo, mostrou que problemas relacionados ao sono —incluindo insônia, ronco e sono insuficiente— está associado à perda de até dois anos de vida, em média, em homens e mulheres, além de reduzir consideravelmente a saúde cardiovascular ao longo da vida.

Além disso, a falta de sono está associada ao ganho de peso, já que desregula a produção de insulina e os hormônios relacionados à fome e saciedade, aumentando a vontade de comer durante o dia.

Mas um dos principais impactos do sono insuficiente é no sistema nervoso. O processo de consolidação de memórias, por exemplo, ocorre enquanto dormimos; e é também durante esse período que o organismo executa uma espécie de "faxina" no cérebro, removendo toxinas e substâncias como a proteína beta-amiloide, ligada ao desenvolvimento da doença de Alzheimer, o tipo mais comum de demência atualmente.

5. Estresse

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O estresse faz parte da vida de todo mundo e, em certa medida, é saudável. O problema é quando a sensação de "fugir ou lutar" se torna constante, ou seja, crônica: aí, ele vira um problema para o corpo todo.

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Isso porque o estresse é ativado por hormônios específicos, como o cortisol e a adrenalina, que atuam para preparar o corpo para uma situação de perigo: aumentam os batimentos cardíacos e o fluxo de sangue para os tecidos, elevando também a pressão arterial.

Tudo isso volta ao normal quando o perigo desaparece, mas no estresse crônico, o corpo se mantém em alerta o tempo todo, aumentando, assim, o risco para evento cardiovasculares, como o infarto.

Estar em constante estado de alerta também afeta o sistema nervoso central, provocando problemas de memória e concentração, além de oscilações de humor.

Nesse sentido, transtornos psiquiátricos como ansiedade generalizada e depressão também podem aparecer a partir do estresse crônico.

"Esses transtornos podem levar a alterações neurobiológicas e aumento da inflamação do corpo, afetando também a saúde do cérebro, o que aumenta o risco de demência", afirma Diogo Haddad.

Ele lembra ainda que esse tipo de problema também pode afetar negativamente o estilo de vida, contribuindo, por exemplo, para o sedentarismo e má alimentação, o que eleva o risco não apenas de demência como de outros problemas de saúde.

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Bônus: algum hábito ruim é pior que outro?

Não. Todos são prejudiciais. "Essa comparação não existe, pois todos os hábito ruins têm riscos, mesmo que isoladamente", explica Natan Chehter, clínico geral e geriatra, membro da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e do Hospital Estadual Mário Covas, em São Paulo.

Mas é claro que, combinados, o acumulado pode, sim, aumentar a extensão dos danos ao organismo. "Por isso, a recomendação é sempre a de mudar os hábitos de vida no geral, ou seja, melhorar alimentação junto à prática de atividade física, por exemplo, pois é a combinação de bons hábitos que vai trazer o melhor resultado possível na prevenção dessas doenças", afirma.

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